Caríssimos leitores, finalmente voltei. Desculpem minha ausência, mas problemas de saúde me impediram de perpetrar estas tão caras linhas. Nada sério, mas o processo de cura foi meio demorado. Bem, vamos em frente.
Não é segredo para ninguém minha paixão por carros e, especialmente, pela Fórmula 1. Também já falei aqui neste espaço sobre nossa coleção de miniaturas de F-1. A rigor, o conjunto é do meu marido, mas jamais reconhecerei isso e, em caso de divórcio, será motivo de disputa judicial quem fica com as miniaturas, ao contrário dos álbuns de fotos, os CDs e DVDs de música e seriados, que ficarão todos comigo. Na verdade, a disputa por estes itens seria tão feia quanto o filme A Guerra dos Roses, portanto nós dois temos mais um motivo para ficar juntos.
Bom, o fato é que depois de meses de muita procura, achamos um marceneiro que aceitou o desafio de fazer uma estante capaz de abrigar a nova coleção que queremos iniciar — desta vez, na escala 1:43. A decisão pela novidade foi bem racional. A coleção anterior, na escala 1:18, além de ter ficado realmente muito cara tem opções limitadas dentro dos nossos parâmetros: exclusivamente carros de F-1, com piloto, na exata versão em que correram. Não que a outra coleção será esquecida, nada disso. Apenas ganhará uma irmã mais nova (foto no final). Mesmo nos sites de produtos importados, a variedade pela escala “grande” é limitada. Já na 1:43 há muitas alternativas — mas, ao contrário do que nos faz supor a lógica, o preço não é assim tão menor, embora pela grande quantidade seja muito mais fácil encontrar ofertas.
A estante anterior é convencional, mas muito charmosa e para que a nova ficasse a seu lado não poderíamos fazer feio. Eis que minha cara metade teve uma ideia sensacional: seguir o modelo de um de nossos carros favoritos – ok, o favorito: o Brabham BT 52 com o qual Nélson Piquet correu em 1983, ano em que ganhou o campeonato. Depois de meses procurando alguém que concordasse em executar o desenho que o maridão engenheiro fizera, achamos uma pessoa que se disse, literalmente, desafiada a fazer algo tão legal e que por isso não tinha como recusar. Missão dada, missão cumprida.
Os mais detalhistas dirão que não é exatamente igual, mas vamos dizer que é uma versão ligeiramente livre muito próxima da realidade, executada por diversos profissionais, dentro do possível e, claro, sem esquecer que a estante deve ser funcional e abrigar as miniaturas (foto de abertura).
Porém, nada é tão simples na minha vida. Faltava alguém para colocar a fita de led que daria ainda mais charme à estante e ressaltaria os carrinhos. Sobrou, é claro, para o marido engenheiro. Eu comprei a fita, a fonte elétrica necessária e dei todo meu apoio moral, inclusive fazendo às vezes de instrumentadora e passando as ferramentas necessárias. Trabalhão de mais de dois dias porque, assim como as luzinhas de Natal, a cada hora um trecho teimava em não acender. Tudo testado e vinha a surpresa. Do nada, um pedaço não funcionava. Consertado o trecho, era a vez de outro sumir nas sombras. E, claro, com a estante já colocada na parede, muito, muito rente, o que dificultava sobremaneira toda a operação. Haja braço para ficar tantas horas numa posição que parece prova olímpica de alongamento com agachamento.
Ultrapassado este obstáculo, coube a mim sair à caça de um vidraceiro que aceitasse colocar prateleiras minúsculas e portinhas em todos os vãos possíveis pois, assim como a outra estante, os carrinhos são limpos exclusivamente pelo meu marido, com pincel macio para tirar o pó. Trabalho de formiga, diga-se.
Quatro vidraceiros dispensaram o trabalho, um nunca apareceu e apenas um santo topou fazer o trabalho — e dentro de nossas especificações. Como no lugar dos pneus os nichos são minúsculos, ele teve a ideia de fazer uma miniestante, com laterais e tudo, e encaixá-la no retângulo já que não haveria espaço físico para usar uma chave de fenda para fixar as prateleiras. A porta superior deu outra canseira, pois a frente é totalmente irregular e acabou que a melhor opção era abrir para cima. O aerofólio traseiro foi outra canseira mental. Nem vou entrar nos detalhes de quantas horas discutimos com o vidraceiro a melhor solução para cada pedacinho da estante, mas o fato é que ficou tudo excelente.
Tudo pronto? Não. Assim como naqueles anúncios do “ligue djá”, tem mais surpresas. Agora falta mandar fazer os adesivos para completar a personalização. Testamos um número 5 que não ficou muito legal e ainda estou sofrendo um pouco para conseguir os outros. Basicamente, serão umas 4 logomarcas e, especialmente, o icônico capacete da gotinha. Felizmente, o nosso colega Milton Belli está me ajudando e me deu várias dicas, incluindo programas específicos para isso e sites onde achar cada coisa. Eu apenas confirmo que sempre fui uma pessoa mais Word (ou seja, letrinhas) do que PowerPoint ou qualquer programa visual. Mas aos poucos estou me achando e acredito que a pequena grafiquinha que sempre me atende nos meus pedidos para ilustrar e etiquetar meus álbuns de fotos mais uma vez não vai me decepcionar.
Espero ter tudo pronto antes que complete um ano de nossa ideia, o que vai acontecer nas próximas semanas. Quero muito comemorar esta obra feita a sei lá quantas mãos, com direito a bolo e tudo. Demoramos tanto que já chegaram algumas miniaturas compradas ao longo do processo e agora já sabemos exatamente quantas cabem. Não é assim uma estante gigante nem teremos lugar para tantas miniaturas, mas, na nossa humilde opinião, ficou tão charmosa que compensa todo o trabalhão que nós e uma penca de ótimos fornecedores tivemos.
Mudando de assunto: não poderia deixar de falar da corrida da Hungria. Deus do céu, o que foi aquilo? Por ter estado lá e andado de carro dentro do circuito (como já contei aqui) é um dos que melhor me lembro. Traçado desafiador, cidade maravilhosa, povo sensacional. Mas nem tudo isso junto me fez imaginar tudo o que aconteceu. A imagem do Hamilton largando sozinho é o símbolo da corrida e algo inesquecível. Acho ele um dos melhores pilotos da atualidade e de todos os tempos, mas tenho alguma implicância com ele, reconheço. Achei estranhíssimo ele passar mal justamente quando estava tomando uma vaia monumental. No ano passado, quando teve Covid, recuperou-se rapidamente assim que sentiu a ameaça representada pelo George Russell no cockpit do seu carro. Agora quase desmaia quando é criticado em público? Sei lá, muito estranho, mas acredito que se o deixarem de molho e puserem o outro inglês ele se cura de qualquer coisa. Instantaneamente.
NG