Uma história de sucesso. Sem dúvida nenhuma é a primeira coisa que pensamos quando conhecemos a história do Ford Mustang. Lançado na metade da década de 60 se tornou uma febre nos Estados Unidos e rapidamente conquistou um público maior do que o esperado pela marca. A ideia de Lee Iacocca caiu como uma luva na necessidade do comprador da época.
Uma de suas características mais interessante é o fato de que podia ser configurado de diferentes maneiras. O catálogo trazia dezenas de opções para o cliente, desde instrumentação no painel, transmissão, acessórios estéticos, como o bagageiro no porta-malas, além de muitos outros. Existe um ditado na época que dizia que um Mustang nunca era igual ao outro, justamente por conta disso.
Mas não reinaria sozinho por muito tempo. Em 1967 a Chevrolet lançou o Camaro que passou a rivalizar com ele de uma maneira fantástica e que persiste até os dias de hoje. O próprio Plymouth Barracuda, que havia chegado ao mercado um ano antes, não obteve o mesmo êxito. Isso fez com que a Ford criasse outras opções para continuar fazendo sucesso com o consumidor.
Fazendo um pequeno desvio no texto vale lembrar que foi nessa época que surgiu o conceito de muscle car. A ideia do genial John DeLorean agradou os executivos da Pontiac e logo o GTO chegou às ruas trazendo este novo conceito que encontrou seu local perfeito com preços atraentes e gasolina barata.
Dessa forma no final da década de 1960 o Mustang já não tinha tantos atrativos para o público. É claro que ele havia passado por uma mudança recente e continuava muito atraente do ponto de vista estético. Lembramos também que Carroll Shelby já fazia seus projetos especiais com o GT 350 e GT 500 há alguns anos, sempre em busca de quem queria pisar fundo.
E foi exatamente nesse contexto que surgiu aquele que se tornaria uma referência tanto em termos visuais quanto em termos de performance. O Mach 1 inaugurou o conceito de algo rápido, belo e com conjunto que agradou em cheio os compradores de Mustang. Dá para dizer até que ele acabou atraindo consumidores de outras marcas também com o seu estilo visceral.
No inicio da década de 70 o modelo passou por nova transformação, com estilo que lembrava até mesmo o Maverick, especialmente as lanternas traseiras. Aliás, muita gente fazia essa customização trocando as originais do brasileiro por estas. Fica bem legal.
O ano de 1973 foi derradeiro, já que a crise mundial do petróleo atingiu em cheio o mercado e também o abastecimento global. As marcas pararam de oferecer diversas opções de motorização e os big blocks praticamente sumiram de cena. Aqueles que continuaram passaram a ter uma taxa de compressão mais baixa, o que resultava em pouca potência em motores de grande cilindrada. No caso do Mach 1 o lendário motor de 351 polegadas cúbicas (5.766 cm³) entregava algo por volta de 165 cv.
Mas vamos falar do nosso “comparativo”. A ideia aqui foi reunir as duas versões com uma diferença temporal de 52 anos. Nesse meio tempo a Ford lançou uma edição comemorativa do modelo em 2003 e que trazia diferenciais estéticos e também de mecânica. Na mesma época o Bullitt roubava a cena em um momento que voltou repaginado ao mercado.
O exemplar da matéria consegue ser algo ainda mais divertido do que o original. A primeira coisa que notamos ao olhar a versão de 1969 é a musculatura da carroceria, enfatizada pelas entradas de ar. A questão visual desse carro é bastante evidenciada pelo scoop — funcional — no capô, persiana traseira e também a dianteira, que traz os faróis auxiliares e um spoiler cheio de personalidade para uma versão esportiva. O interior é pequeno e, como costumamos dizer na área, veste bem o motorista com destaque para a excelente ergonomia.
Abrindo o capô temos outro diferenciador fantástico deste carro. O motor 390 V-8 recebeu o kit stroker para aumento de cilindrada e agora tem 444 polegadas cúbicas e 7,2 litros. Em números brutos isso quer dizer aproximadamente 450 cv e torque de sobra. Ou seria diversão de sobra?
Já a versão de 2021 mescla força bruta e tecnologia. Esteticamente temos as rodas de 18 polegadas, extrator traseiro de ar e também elementos técnicos, como a captação de ar na grade dianteira, responsável pela otimização do arrefecimento dos freios. Traz ainda elementos de suspensão escapamento dos modelos Shelby para maior desempenho.
Nesse caso o destaque vai para o Coyote V-8, motor que entrega 483 cv e 56,7 m·kgf de torque. Assim como a suspensão e escapamento, o motor também traz elementos de maior desempenho, como filtro de ar esportivo e o coletor de admissão. Tudo isso para criar uma versão de pista que fosse digna de usar o emblema-logotipo.
Hora de guiar. Começamos pelo clássico. Logo de cara o ronco invadiu o ambiente e o habitáculo. Um bom sinal, sem dúvida. A ergonomia já foi elogiada. Na passagem da primeira para segunda marcha aquela sensação fantástica de potência e torque. Na segunda para terceira pé embaixo e o corpo cola no banco. E não é uma figura de linguagem.
Guiar um ícone muscle car carburado com câmbio manual é uma experiência única. Como vocês já viram na matéria do Road Runner, emoção sempre fala mais alto e o sangue corre mais rápido nas veias. Não há controle de tração e tampouco recursos eletrônicos. É o modo mais autoentusiasta de guiar.
Dando um salto no tempo vamos para a versão atual. Sem dúvida nenhuma os padrões mudaram bastante. Não somente acabamento e segurança mas também a questão da dirigibilidade. Mesmo assim o Mustang, com opção de escolha do ronco do escapamento, ganha pontos em relação aos concorrentes. O câmbio automático de 10 marchas é bem escalonado e pode trabalhar para desempenho ou conforto. De qualquer forma se percebe que os controles eletrônicos estão sempre mantendo o pony car na linha.
Clássico ou atual? Esta pode ser uma dúvida que muitas pessoas têm após assistir a matéria. Particularmente considero que são carros bastante distintos e as sensações e impressões de cada um também. Na dúvida dá para acelerar o 61969 no final de semana e o 2021 no dia a dia. Qual seria sua escolha?
GDB