Um tempo atrás procurei contato com a Bosch para tentar levantar como foi a colaboração da empresa com Ferdinand Porsche e sua equipe durante o desenvolvimento do VW Fusca. Mas, como resultado dos bombardeios da fábrica da Bosch na Segunda Guerra Mundial, a rica documentação dos contatos mantidos na década 1930 foi perdida. Mas não há dúvida que a colaboração da Bosch foi muito importante, se não fundamental, e seguiu toda a saga deste incrível projeto.
Naquela oportunidade eu fui atendido por Dietrich Kuhlgatz, do Departamento de Comunicações Corporativas e Históricas da Robert Bosch GmbH, da Alemanha. Como resultado imediato deste contato eu publiquei a matéria “A parte elétrica no projeto do carro KdF” reproduzindo um interessante artigo do jornal interno da Bosch de 1939, com o carro recém-apresentado em sua versão definitiva.
Esta apostila impressa em 1957 e dedicada em especial a VWs Fusca e Kombi que vamos conhecer hoje, também foi recebida naquela oportunidade e eu a escolhi por estar em inglês, mas há uma semelhante impressa em 1953 (!) mas em alemão (entendo que a apostila em inglês seja mais interessante). Podemos ver que desde o princípio da “vida civil” do VW Fusca a Bosch se preocupou em fornecer não só o equipamento completo com todos os componentes para a sua correta e segura instalação, bem como instruções para que uma instalação fosse feita conforme o projeto e da maneira mais segura possível.
Curiosamente, esta apostila foi impressa na cor vermelha, e eu a desmembrei em páginas isoladas que serão apresentadas num tamanho grande para que seja possível ver os detalhes e o cuidado com o qual ela foi elaborada. Observo que é um material antigo e a nitidez não está em condições ideais, mas acredito que será possível visualizar este documento histórico mesmo assim. Destaque para os desenhos que ilustram esta apostila, certamente um trabalho que envolveu um bom desenhista para desenhar os Fuscas e os componentes que interessam no caso. E isto foi feito à mão, não havia computadores em 1957.
Usei a ilustração da capa da apostila como foto de abertura, e já nela é indicado seu conteúdo no título: “Dicas de instalação para produtos Bosch fabricados na Alemanha”, especificando na capa “Volkswagen – carros de passageiros e vans”, em que“van” é como as Kombis eram chamadas nos Estados Unidos. Sim, a versão em inglês desta apostila era dedicada ao mercado americano.
Página 2 (contracapa)
Nesta página está reproduzido o diagrama elétrico do Volkswagen de passageiros, tais diagramas apresentam uma grande quantidade de informações o que leva ao uso de letras muito pequenas dificultando a sua leitura. Este diagrama foi colocado nesta apostila por uma cortesia da Volkswagen GmbH:
Página 3
Contém a relação do conteúdo desta apostila:
Diagrama de fiação — pag. 2
Faróis de neblina — pag. 3
Luz de ré — pag.7
Ajustando os faróis — pag.10
Buzinas — pag.10
Sistema de fanfarras — pag.13
Chave-geral da bateria — pag.16
Motor do limpador de para-brisa — pag.17
Dínamos auxiliares — pag.17
Filtro de linha de óleo lubrificante de fluxo parcial — pag. 18
Autorrádios — pag.21
Supressores de interferência — pag.21
Lista de peças de desgaste e peças sobressalentes — pag.22
Página 4
Nesta página são tratados os faróis de neblina e de longa distância. Detalhe para o suporte destes faróis que ficava dentro da garra do para-choque, uma solução interessante, pois um suporte forte assume a tarefa de sustentar o farol auxiliar:
Página 5
Esta página mostra o método de fixação dos faróis auxiliares no tubo de reforço do para-choque, que tem que ser desmontado para permitir a introdução dos respectivos suportes destes faróis:
Página 6
Nesta página são indicados os diagramas elétricos de conexão dos faróis auxiliares com chave simples ou com relé. Adiante são indicados os números de encomenda dos equipamentos. Também é dada a orientação sobre o diâmetro dos condutores flexíveis a serem usados, a saber: até 3 m de comprimento, 1,5 mm² de secção transversal, de outro modo deve ser tomada a bitola imediatamente superior (lembrando que o sistema elétrico era de 6 V que implicava em uma corrente de maior intensidade).
Página 7
Luz de ré. Aqui é lembrado que para atender aos regulamentos de trânsito a luz de ré somente pode ser acesa quando a marcha a ré estiver engatada. São mostrados dois métodos de fixação com suporte aparafusado ao para-choques ou com uma garra que prende suporte do para-choque. O detalhe é que no primeiro caso é mostrado um para-choque de 1954 ou mais, e no segundo é mostrado um para-choques até 1953, com a garra estreita e lâmina com vinco. Detalhes são cuidadosamente desenhados.
Página 8
Nesta página é mostrada a instalação do interruptor da luz de ré e de seu acionador que é montado sobre a haste do seletor de marchas, no caso do Volkswagen de passageiros. Também é indicada a versão de luz de ré para a Kombi, que era embutida abaixo da luz de sinalização esquerda. Era indicado inclusive o gabarito para o corte da chapa da Kombi para a instalação da luz de ré.
Página 9
Nesta página é informado como instalar o interruptor de ré na Kombi, bem como é indicada a lista dos itens necessários para instalar estes interruptores de luz de ré.
Página 10
Aqui são tratados dois assuntos. A regulagem dos faróis com o auxílio do aparelho que permite fazer a regulagem à luz do dia. Aqui eu lembro dos bons tempos dos postos de venda da Cibié que ofereciam regulagem de faróis grátis aqui em São Paulo com um aparelho de nome Regloscope. Eu era cliente do posto da avenida Adolfo Pinheiro, em Santo Amaro.
O outro item abordado são buzinas adicionais, com tonalidade especial, aqui referidas como “supertone” (leia-se muito estridentes), instaladas com um suporte preso no para-choque.
Página 11
Nesta página são descritas as diferentes possibilidades da instalação de buzinas “supertone” de duas tonalidades (para uso de autoridades como polícia, bombeiros, carros médicos etc.). São apresentadas alternativas com dois faróis auxiliares e duas buzinas, ou um farol auxiliar e duas buzinas, detalhando os suportes necessários em cada caso.
Página 12
Suporte para buzinas. Esquema elétrico para o funcionamento seletivo da buzina normal e de uma “supertone” (ou duas de dois tons) através de chave seletora e acionamento pelo mesmo botão. Para as “supertone” é aconselhado o uso de relé para evitar quedas de tensão. É indicada a lista de itens necessários no caso.
Página 13
Sistema de fanfarra. Aqui apresentado em combinação com faróis auxiliares circulares ou retangulares, detalhando a fixação para cada um dos casos com croquis específicos. Estas fanfarras são buzinas diferentes com tons específicos.
Página 14
Instalação de sistemas de fanfarra tanto de maneira aparente — fixadas por um suporte tanto preso ao para-choque, quanto escondidas — fixadas abaixo do carro por um suporte preso ao corpo da suspensão dianteira. Desenhos detalham estas duas alternativas.
Página 15
Para quem ficou com dúvidas, nesta página se apresenta como as fanfarras na versão escondida são fixadas no corpo da suspensão dianteira. É apresentado o esquema elétrico para as fanfarras: uma chave seletora comuta entre a buzina normal do carro e as fanfarras que são alimentadas através de um relé, para evitar quedas de tensão — o acionamento nos dois casos é feito pelo mesmo botão. É apresentada a lista de componentes desta alternativa de buzinas adicionais.
Página 16
Chave-geral. Modo de instalação, esquema elétrico e lista de materiais. Um item muito interessante especialmente em carros antigos. Detalhe para a bateria Bosch de 6 V indicada no desenho de instalação da chave-geral.
Página 17
Motor de acionamento dos limpadores de para-brisa. Instalação de um dínamo adicional para alimentar equipamento de transmissão de rádio. Naquela época, para operar equipamentos de transmissão de rádio, que eram a válvulas, era necessário gerar corrente alternada e isto, no caso de transmissão de rádio, consumia muita potência e era necessário um reforço na geração de energia do carro, daí a necessidade de um dínamo adicional. Nesta página são apresentados desenhos mostrando estas instalações para Volkswagens de passageiros e Kombi.
Página 18
Filtro de linha de óleo lubrificante de fluxo parcial, um equipamento que aumenta o volume de óleo do carro e o filtra, melhorando as condições de arrefecimento do motor (pelo aumento do volume de óleo), aprimorando a filtragem (a hora da troca do elemento filtrante era controlada através da verificação da cor do óleo na hora de verificar o seu nível — num intervalo de até 12.000 km). Um esquema genérico (de um motor convencional) esclarece o fluxo de operação deste sistema. O circuito adicional de óleo usa a tomada de medição de pressão do óleo (que está no lado pressurizado do circuito de óleo) como entrada de óleo no filtro e a saída do óleo de volta para o motor é feita através de um acesso ao cárter (no lado de baixa pressão de óleo). Lembrando que no sistema semelhante da Okrasa havia uma serpentina adicional de arrefecimento de óleo.
Página 19
Pontos de instalação do circuito do filtro de linha de óleo lubrificante de fluxo parcial em dois momentos. Primeiro antes da conexão das mangueiras que vão conectadas — a entrada no sensor de pressão de óleo, através de um adaptador; e a saída no parafuso de retenção do distribuidor que é substituído por um niple com arruela corrugada, que passa a servir como parafuso de retenção e saída do óleo para o cárter do lado de baixa pressão de óleo.
Na ilustração de baixo as mangueiras do filtro de linha de óleo lubrificante de fluxo parcial já estão em seu lugar.
Página 20
Nesta página estão os acessórios necessários para a instalação do filtro de linha de óleo lubrificante de fluxo parcial (mangueiras, suportes, nipples, adaptadores, arruelas e parafusos), acima o desenho e abaixo a descrição dos itens
Página 21
Produtos da subsidiária da Bosch, a Companhia Blaupunktwerke GmbH – Autorrádios Superheterodinos. Apresentando desenhos de rádios em Volkswagen de passageiros e em Kombi. Havia uma seleção de rádios que se diferenciavam por suas características técnicas do mais simples “Bremen” até o mais luxuoso “Köln”. Também são apresentados equipamentos supressores de ruídos para estes rádios.
A partir deste ponto a “nossa” apostila apresenta tabelas com a lista de peças de desgaste e peças sobressalentes que eu incluí para complementar a informação:
Chegamos ao fim desta apostila que mostra o cuidado que a Bosch tinha e tem com seus usuários, revendedores e oficinas de instalação de seus produtos. Em várias partes desta apostila há referências cruzadas com manuais específicos e detalhados, o que para a época representava uma grande organização para emitir e manter atualizados tantos documentos. Na verdade, isto, sob o conceito moderno de indústria, representa uma boa parte da qualidade do equipamento.
AG
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