Isso mesmo que você, leitor ou leitora do AE, leu no título acima: há pessoas preocupadas com o “excesso de velocidade”, responsável por acidentes de toda ordem causados por veículos, que estão pensando em adotar lombadas nas ferrovias, rios e mares. Estão até pensando em colocar esses autênticos dejetos viários no ar para reduzir a velocidade dos aviões, mas até o momento não se encontrou maneira de fixá-los no ar.
É claro que nada do que escrevi no parágrafo acima é verdade, serve apenas para ilustrar o absurdo, a falta de bom senso e farta burrice de quem inventou colocar obstáculos artificiais nas vias onde trafegam veículos automotores e os de tração a sangue”, no caso bicicletas.
Antes que alguém se prepare para escrever um comentário me chamando de louco com essa história de “tração a sangue”, vi na autoestrada que liga Buenos Aires a Córdoba, na Argentina, placas informando Prohibida tracción a sangre. Este vídeo fala sobre esse tipo de tração cuja energia é muscular.
Como estou com quase 79 anos, comecei a ter noção do mundo aí por volta de 1950, no final da primeira infância, aos sete anos. Conhecer o mundo incluiu conhecer ruas e estradas a bordo do carro do meu pai, conhecimento que se estendeu à fase em que comecei a dirigir a partir dos 12 anos, chegando aos 18 anos com a “libertação” simbolizada pela conquista da sonhada e ansiosamente aguardada carteira de habilitação.
Usufruí, junto com os poucos milhões de motoristas de então, a liberdade de dirigir de maneira absolutamente normal por mais 21 anos, até um dia em 1981 fui a Curitiba e vi uma sucessão de lombadas na avenida que liga o centro da capital paranaense ao aeroporto Afonso Pena. Fiquei surpreso e indignado com o que, vim a saber, fora obra do urbanista e prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, criador do câncer que daria gigantesca e inimaginável metástase país afora.
Um câncer para quem nasceu após 1980, a geração Y, não existe simplesmente por não terem conhecido as vias ditas “normais” e não terem noção do inferno que se tornou o dirigir no Brasil. Mais do que tudo, um câncer que lhes ensinou que, não havendo lombada, a pista está livre para acelerar.
Tal qual a bandeira verde nas corridas de automóveis em circuito, exibida aos pilotos após o regime de bandeira amarela.
Toda a noção de responsabilidade que a minha geração assimilou de reduzir velocidade devido às condições de tráfego devidamente informada, por exemplo, “Devagar, escola”, foi jogada no lixo, ao mesmo tempo em que era fundada a EBMI, a Escola Brasileira de Motoristas Idiotas — não tem lombada, bandeira verde.
Tudo com a agravante de serem solenemente ignoradas as regras de construção e sinalização delas, inclusive sua pintura, proliferando as verdadeiras “montanhas” nas vias, o que constitui crime de omissão dos responsáveis pelos órgãos de trânsito do país.
Há estradas em o trânsito se tornou inviável tal o número de lombadas em sucessão. Há vários exemplos, como a Estrada dos Romeiros entre Santana do Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus, próxima a São Paulo. Nem dá raiva, dá nojo.
As lombadas são como verdadeiros trombos na circulação sanguínea, atrapalham a fluidez do líquido vital como atrapalham a do trânsito, gerando maior consumo de combustível e emissões desnecessariamente.
Para piorar esse quadro, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) aprovou e regulamentou uma das maiores aberrações em questão de obstáculos artificiais que são as faixas de segurança para pedestres elevadas, chamadas lombofaixas, que além de não terem nenhuma utilidade criou o monstro de dois tipos de faixas de segurança, quebrando a necessária harmonização dos elementos de trânsito.
É de todo inaceitável um país de 210 milhões de habitantes e 50 milhões de veículos automotores, como o nosso, desprezar as mais elementares normas de operação viária por não ter gente que entenda do assunto no comando.
BS.