Os preços dos combustíveis não param de subir. A gasolina já passou de R$ 6,00. E de R$ 7,00 em alguns estados. Quanto ela representa no bolso do brasileiro no fim do mês?
Se ele roda em média 1.200 km mensalmente e supondo-se o consumo de um carro compacto ou médio (10 km/l na cidade), são cerca de 120 litros por mês. Considerando-se um preço médio de R$ 6,50, o total mensal é de R$ 780,00. Apesar de alta, uma conta até otimista, pois supõe um carro relativamente novo: os mais velhos consome ainda mais. E, se roda mais que a média, o valor pode beirar os R$ 1.000.
Abaixo da média mundial
De acordo com pesquisa feita esta semana pela Global Petrol Prices, o preço médio mundial da gasolina é de US$ 1.22, ou R$ 6,83 (US$ 1 = R$ 5,60). A nossa é muito cara, mas ainda abaixo: US$ 1,146, ou R$ 6,42 o litro.
Pelo mesmo site, a gasolina mais cara do planeta está em Hong Kong: R$ 14,54 o litro. Em segundo lugar a Holanda com R$ 12,62. Fecha o pódio a da Noruega (apesar de grande produtora de petróleo…) por R$ 12,42.
As mais baratas são encontradas na Venezuela, Irã e Sudão. O primeiro país é ponto fora da curva, pois tem preço simbólico: US$ 0,04 = R$ 0,22, mas com limite mensal de 120 litros por automóvel. Também muito barata no Irã: R$ 1,28. E na Síria, por R$ 1,50 o litro.
Como brasileiro não ganha em dólar e o câmbio distorce valores, pode-se também tomar como base o salário mínimo. Neste caso, houve grande variação do poder de compra da gasolina nos últimos 20 anos.
O pior deles foi 2004, pois o salário-mínimo (SM) de R$ 206,00 permitia comprar apenas 103 litros. Em 2017 o brasileiro teve a gasolina mais barata do período: 254 litros com 1 SM.
Hoje? Com preços subindo sem parar, R$ 1.100,00 (SM) adquirem apenas 169 litros.
Como explicar tanta diferença?
Se a gasolina é uma commodity, ou seja, produto padrão com preços estabelecidos internacionalmente, por que tanta diferença pelo mundo?
Porque há vários fatores que influem no custo final para o consumidor, muitos dependentes da política governamental, como os impostos federais e estaduais. Também os custos de armazenagem e distribuição, fora a margem de lucro das distribuidoras e dos postos. E, claro, a variação cambial.
No Brasil, a composição de custo deve levar em conta também a adição do álcool anidro. O preço final do litro se distribui em cerca de 35% no custo da refinaria, 38% de impostos federais e estaduais, 17% referente ao álcool anidro e apenas 10% para os custos de distribuição e venda ao consumidor.
E a qualidade?
Outra variação significativa do preço está na qualidade do petróleo de onde deriva a gasolina, pois ele pode ser leve ou pesado. O primeiro é o de maior valor pois produz combustíveis mais nobres como a nafta, gasolina e gás. Já o mais pesado (e que vale menos) é usado para a produção de óleo combustível, por exemplo, com alto teor de enxofre. Existem ambos no Brasil, mas a maior parte do que se extrai ainda é o de maior densidade (pesado). E que implica em maior custo de refino.
Atualmente, 94% do petróleo refinado já é extraído no país, mas, mesmo assim ainda se importam combustíveis e, por isso, tanto o preço internacional como a variação cambial influem no custo da gasolina e diesel.
A qualidade do combustível também influi no preço final. Diversos países oferecem gasolina de baixa octanagem e densidade e alto teor de enxofre. A nossa foi padronizada em agosto do ano passado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para densidade mínima de 715 g/L, octanagem mínima de 93 RON e teor de enxofre de 50 partes por milhão (ppm). E se equipara, nestes padrões, às melhores do mundo.
Entretanto, o governo brasileiro prejudica nossa gasolina ao exagerar a adição do álcool anidro que substituiu o chumbo tetraetila. Cedeu à pressão dos usineiros e elevou o percentual para 27,5% (25% na premium). Ou seja, mais que o necessário para aumentar sua octanagem e ainda reduz seu poder calorífico.
No frigir dos ovos, o brasileiro paga alto preço pela gasolina e ainda leva ¼ de álcool, que aumenta o consumo. Gato por lebre…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Mais Boris? autopapo.com.br