De repente — sim, de repente — descobriu-se o carro elétrico a bateria [BEV, battery electric vehicle]. Coisa nova, nunca existiu. Assim parece, pelo tanto que se lê a respeito, chegando ao extremo de frases de efeito como “o futuro é elétrico”. ´É como se o carro elétrico das duas primeiras décadas do século 20 fosse apagado da memória das pessoas por atualização OTA, over the air, remota, baixada da nuvem. O BEV é uma ruptura, alardeia-se.
Essa” atualização” das mentes chegou ao ponto inimaginável de a Prefeitura de São Paulo excluir do [ilegal, só o Ministério Publico estadual não vê] rodízio os carros BEV, rodízio esse de nome “Operação horário de pico” que tem por objetivo de reduzir congestionamentos — como se a propulsão elétrica tornasse o carro invisível.
Rupturas vêm ocorrendo há décadas, fazem parte da evolução associadas à engenhosidade humana. Da pena mergulhada na tinta para escrever à caneta-tinteiro e desta para a esferográfica. Sem nenhuma imposição ou proibição de uma para dar lugar à outra. Exemplos desse processo são incontáveis.
Alguém acha que as máquinas de escrever precisaram ser banidas para que os editores de texto nos computadores florescessem? Ou que viesse uma ordem para proibir a venda de câmeras fotográficas a filme? Banir os motores a pistão dos aviões para serem exclusivamente a ser a reação? Óbvio que não.
Pois é exatamente o oposto do que está acontecendo com os BEV. Governos de países dos dois lados do Oceano Atlântico decretaram que carros de motor de combustão interna (ICE, internal combustion engines), a gasolina ou a diesel não poderão ser vendidos a partir de determinado ano, variando de 2025 a 2040. Ruptura forçada. Forçada e subsidiada.
Tão forçada que ainda se discute se os carros híbridos (HEV, hybrid electric vehicle) ou híbridos plugáveis (PHEV, plug-in hybrid electric vehicle) poderão ser vendidos só por terem motor ICE.
As fabricantes de automóveis se viram (e ainda se veem) num dilema, ou partem já para as soluções elétricas, ou se arriscam a ficar para trás ou até encerrar atividades fabris. Seus caixas em dólares e euros estão se esvaindo em modelos BEV e em fábricas de baterias.
Voltando às rupturas citadas, todas, absolutamente todas trouxeram real benefício, da praticidade da caneta esferográfica à velocidade dos aviões combinada com a impensável até então confiabilidade dos motores; escrever, nem se fala.
Entre os danos da ruptura forçada em pauta, a perda de centenas de milhares de empregos com o fim de fabricantes de sistemas de escapamento, de catalisadores, de câmbios manuais ou automáticos de qualquer tipo, de embreagens, de supercarregadores/turbocarregadores, de sistemas de ignição incluindo velas, de filtros de combustível e de ar. de motores de ignição por centelha (SI, spark ignition) ou por compressão (CI, compression ignition),
E o carro elétrico, que benefícios trouxe? Só dois. Um, nunca ter problemas relacionados a sistema de escapamento. Outro, o comportamento dinâmico não se alterar entre tanque de combustível cheio e quase vazio. O resto se resume a um motor apenas diferente. O resto é igual, dirigi-los inclusive.
Pior, no caso do carro ICE está sendo jogada no lixo um longo — mais de um século — processo de desenvolvimento e um carro que funciona admiravelmente bem, de uma praticidade inquestionável. Já pensou numa ambulância levar um paciente ao hospital e se ver sem carga na bateria para fazer outro serviço igual?
Ambos, precisam ser reabastecidos de energia — num é rápido, no outro é demorado, requerem manutenção, podem enguiçar, poluem direta ou indiretamente,, lembrando que poluição do carro ICE atual é irrisória.
Não sou contra nem a favor do carro BEV, apenas acho que o DIREITO de escolha não pode acabar por canetadas. Sou contra sim a imposição do carro BEV a troco de nada. Nem preciso falar de preço do veículo e da sua bateria. tampouco da energia elétrica necessária.
Em síntese, que vença o que o mercado decidir.
BS