Prestes a começar a temporada 2022, em Interlagos, neste fim de semana, a Stock Car Pro Series (foto de abertura) desenvolve um projeto que mudará radicalmente o carro-padrão da categoria, receita adotada em 2003 e que contempla chassi tubular e motor V-8. Esse equipamento será substituído por outro motor de combustão interna, mas de quatro cilindros em linha com turbocarregador. O chassi inédito está em fase intermediária de projeto por uma empresa especializada e cujo nome é guardado a sete chaves. De acordo com Fernando Julianelli, executivo-chefe da Vicar, empresa que promove o campeonato da categoria), a decisão de colocar o novo carro na pista ainda não está definida: “Esperamos poder lançar o novo carro em 2023, mas essa data não está confirmada.”
Ainda não está definido se a empresa JL, atual fabricante dos carros e mantenedora dos motores e câmbios, será responsável pela construção dos novos carros. Desde os anos 1990 que a empresa da família Giaffone é responsável pela construção dos carros e, a partir deste ano também cuidará da manutenção dos motores usadas na nova categoria Fórmula 4. A substituição do motor V-8 de aspiração natural por uma versão turbo de quatro cilindros vai muito além da simples troca desse equipamento.
De acordo com o engenheiro Gerson Borini, editor técnico da revista Curva3, a mudança implica várias alterações que justificam a construção de um novo carro: “Será necessário a adequação de relações de marchas e de diferencial, visto que o motor menor trabalha em regime de rotação superior ao atual V-8. Por outro lado, os radiadores de líquido de arrefecimento e de óleo devem ter tamanho similar, dado que motores de mesma potência tem mesmo nível de rejeição térmica. No entanto esses componentes serão modificados para permitir a montagem do interresfriador, espécie de radiador que também é conhecido como intercooler,”
A decisão de adotar o motor turbo de quatro cilindros terá efeitos paralelos pois trata-se uma solução mais moderna e que é adotada pelas duas marcas que participam da categoria, Chevrolet e Toyota, e por várias outras que atuam no mercado nacional. Essa receita mecânica também aproxima a categoria da TCR, que utiliza carros de série de modificados para competição, cujos motores são 4-cilindros turbo de 2.000 cm³, 345 cv de potência e aproximadamente 43 m·kgf de torque, sendo que a maioria do grid é de modelos com motor transversal e tração dianteiros. A TCR é uma categoria internacional e tem, inclusive, um campeonato sul-americano e, coincidência ou não, terá um campeonato brasileiro em 2023. Os Stock Car têm tração traseira, solução clássica de carros construídos especialmente para competição. Espera-se que esta receita seja mantida, mas tanto pilotos quanto preparadores admitem que os promotores da categoria não revelaram muitos detalhes do projeto.
Ricardo Maurício, um dos pilotos mais experientes da categoria, entende que “um motor mais leve vai permitir frear melhor, por causa do menor peso do conjunto, mas precisamos saber mais detalhes do motor e do carro para formar uma opinião mais precisa.” Para Rosinei Campos, o “Meinha”, seu preparador e responsável pela equipe Eurofarma, a substituição do motor V-8 por um de quatro cilindros é uma quebra de paradigma:“ Desde que eu conheço a Stock, ela é uma categoria de motor grande… A utilização de um motor turbo parece estar ligada à uma demanda das fábricas envolvidas na categoria.”
¨”Meinha” fala com conhecimento de causa: ele é o único profissional da Stock Car que marcou ponto em todas as temporadas desde o início da categoria, em 1979. Criada a partir do Opala 4100, ela usou inicialmente o motor de seis cilindros em linha e adotou o V-8 26 anos depois, em 2005. Há tempos que executivos da indústria cobram maior similaridade entre os carros da Stock Car e os modelos vendidos em suas concessionárias. Recentemente o chassi tubular foi revestido por peças da carroceria dos modelos Chevrolet Cruze e Toyota Corolla na esperança de atender tal demanda.
A mudança de carro poderá implicar na utilização de pneus de especificação diversa dos atuais. Neste ponto a Vicar já começou a mudança: a partir deste ano o fornecimento e serviço de montagem deixa de ser feito pela Corsa, empresa tradicional no setor de serviços e equipamentos de competição, e será efetuado por uma empresa controlada pela promotora.
WG