Com certeza, alguns colegas, entre o pessoal da nova geração da imprensa especializada, não conheceram o Sérgio Aparecido que atuou no setor até o início deste século, pelo jornal A Tribuna, de Santos, onde ele foi, no início dos anos 70, um dos pioneiros no jornalismo automobilístico, com o seu Jornal Motor. Mas, com certeza também, Mark Hogan (GM e Toyota), André Beer (GM), Wolfgang Sauer (VW), Joseph Sanchez (GM), Joseph O’Neil (Ford, onde ele trabalhou, com o Luiz Carlos Secco, o querido “Seccão”, e eu o substitui em 1973 quando ele foi para a Scania. Aliás, eu havia herdado a Olivetti dele, na Redação do jornal) e outros nomes importantes, conheceram o Serginho, que era unanimidade no setor, com seu bom humor, sacadas geniais e grande profissionalismo. Era apaixonado por carros. E pelo Elvis Presley.
Serginho era capaz de coisas sensacionais como, por exemplo, fazer com que o ponteiro do marcador de gasolina ser mais rápido que o do velocímetro, numa incrível viagem entre Santos e São Bernardo do Campo, de apenas 53 km, consumir o tanque de um Charger R/T, que chegou à sede da Chrysler com pane seca (conto esta história em breve aqui no AE).
Outra foi numa edição do Salão de Paris, tirar do ar a CNN, quando, involuntariamente, puxou o cabo que levava energia para o estúdio que a emissora ali montara para cobrir o evento. Ele puxava um carrinho, levando pesados press kits que eram distribuídos pelas fabricantes. Hoje eles foram substituídos pelo pen drive ou um simples endereço do site.
Contando com o bom humor do Serginho, seus colegas brasileiros prendiam o carrinho para perturbar o pobre coitado. Só que, uma hora, o Serginho perde a paciência e puxou com muita força o carinho que estava preso. Mas não era nenhum colega e sim os cabos da CNN, que saiu do ar. Um enorme segurança aproximou-se nervoso e perguntou, em inglês, o que ele estava fazendo ali. “Just walking” foi a resposta. “Where are you from?” E veio a resposta que só o Serginho poderia dar: “I am from Argentina”. E foi embora. (você poderá ler essa história em detalhes, e muitas outras no livro do nosso querido amigo Josias Silveira, que se foi recentemente, “Sorvete de Graxa”. Imperdível!)
Elvis, sua paixão
Nunca vi um cara amar tanto um ídolo como o Serginho amava Elvis Presley (bem, talvez o Ricardo Caruso, que até já escreveu um livro sobre o cantor e tem pedras da casa do Rei). Na casa do Serginho tinha um telefone cuja chamada tocava com a voz de Elvis cantando “Love me tender”. Amava e imitava o ídolo. Uma vez, numa casa de espetáculos em São Paulo fomos, eu, ele e o Caruso, ver “o melhor cover de Elvis Presley do Brasil”. Os dois não escondiam a ansiedade. Serginho foi com uma bela camisa com a estampa do Rei do Rock.
Quando o artista entrou, com cabeleira e roupa iguais às do cantor, pensei que os dois iam ter um “treco”, tamanha emoção. O show começou e o cover passando entre as mesas, ia entregando o microfone para alguns frequentadores. Foi seu erro. Quando o deu na mão do Serginho, ele se inflamou e mandou lá um “Love me tender” e o público “veio abaixo”, não parando de aplaudir. E o Serginho não queria parar de cantar.
Quando devolveu o microfone para o artista ainda se ouvia: deixe ele cantar, deixe ele cantar!!!!!! Ele era melhor que o cover. Muito melhor!
Na casa do Rei, o desmaio
Outra dele com o Elvis, foi na casa do seu ídolo, em Memphis, nos EUA. Em visita ao local onde ele morava, Serginho conseguiu que a zeladora o autorizasse a vestir a roupa de Elvis (há dúvidas sobre essa autorização, mas aqui o que vale é a versão e não o fato). Ao sair do quarto para ir até o salão onde encontraria seus colegas, Serginho não viu uma porta de vidro e… pumba!!!!! Desmaiou!
Há que garanta que, antes de bater com a cabeça no vidro, ele já havia desmaiado. De emoção, da mais pura emoção. Afinal, estava vestindo as roupas do Rei. E na casa do Rei.
No próximo domingo (20) completará três anos que Serginho foi ao encontro da sua maior paixão, o Rei, Elvis Presley, “que não morreu”, como diz a lenda. Assim como acontecerá com as nossas lembranças do Serginho, nosso querido amigo.
CL