Duas vitórias e um segundo lugar nas três primeiras provas da temporada dão mais que otimismo à Ferrari e ao seu primeiro piloto, Charles Leclerc. Como o campeonato terá outras 19 ou 20 corridas (ainda não se sabe se Malásia ou Cingapura vão ocupar a vaga do GP da Rússia) ,a vantagem de 34 pontos sobre o novo vice-líder George Russell, semelhante à vantagem da Scuderia sobre a Mercedes, exatos 104 a 65, é um alento importante para um calendário longo e que teve sua terceira corrida em Melbourne (foto de abertura).
Tais números compõem um cenário que poucos esperavam ver quando o ano começou, cerca de um mês atrás. Na véspera da abertura da temporada se apostava na Ferrari e Red Bull como líderes e que a McLaren se juntaria a esse favoritismo; a Mercedes, por sua vez, alimentava a ideia de que estava escondendo o jogo. Num segundo plano, via-se Alfa Romeo, Alpine e AlphaTauri e, um pouco mais distante, a Haas disputando as glórias do segundo pelotão.
Após duas etapas disputadas em provas noturnas e junto ao deserto do golfo árabe e outra num circuito igualmente ao nível do mar, com asfalto novo e sob o sol australiano, somente a Ferrari confirmou a expectativa. Tal desempenho indica que o modelo SF 75 é o carro mais eficiente até o momento e o monegasco, o piloto mais constante. Ambos estão em viés de subida, o homem mais do que a máquina. Leclerc largou na pole position, liderou a corrida de ponta a ponta e fez a volta mais rápida, algo que o jargão da F-1 classifica como Grand Chelem. O time de Maranello não celebrava um resultado como esse desde 2010, quando Fernando Alonso teve performance semelhante no GP de Cingapura daquele ano. Outro ponto positivo para Leclerc, mas negativo para a Scuderia, é que Carlos Sainz teve um fim de semana para ser esquecido e não marcou pontos. O volante do seu carro não funcionou corretamente na volta de alinhamento e foi trocado no grid de largada; a mudança afetou a largada e contribuiu para sua saída de pista ainda na primeira volta. Com isso o espanhol perdeu a vice-liderança e viu seu maior adversário disparar na tabela de pontos.
George Russell vem mostrando desempenho semelhante a Sainz, famoso pela regularidade com que marca pontos, algo que vinha fazendo há 17 provas. Muito mais do que isso, o inglês vai ganhando espaço em um time há tempos dominado por Lewis Hamilton, que terminou a corrida em quarto lugar. Na base da regularidade que contribui para que a Mercedes retorne mais rápido à disputa por vitórias, Russell confirma o que se esperava dele. Já Hamilton deixa no ar se ainda tem a mesma motivação que o levou a conquistar seus sete títulos mundiais.
Nessa reviravolta impossível deixar de falar de Max Verstappen. Após abandonar a prova de Melbourne o atual campeão já cobrou publicamente a equipe para que providencie um carro minimamente confiável. Há um certo exagero nesse boleto: Sérgio Perez fez um quarto e um segundo lugares e uma pole position nas duas últimas etapas, combinação de resultados que o coloca em quarto no campeonato, três pontos à frente do holandês, que acumula 26 após a vitória e volta mais rápida em Jeddah. A conferir quando Max terá seu pedido atendido. Igualmente impulsionado pelo motor Honda-Red Bull, os carros da AlphaTauri não mostraram a consistência esperada: em seis oportunidades de marcar pontos Yuki Tsunoda foi oitavo na abertura da temporada, em Abu Dhabi, e Gasly fez um oitavo e um nono em Jeddah e Melbourne, respectivamente.
Estebán Ocón pontuou nas três provas e vai se impondo frente a Fernando Alonso (Foto: Alpine)A campanha de Estebán Ocón é a mais consistente entre as equipes do meio do pelotão e com chance de importunar as grandes. O franco-catalão já foi duas vezes sexto e uma vez sétimo (em Jeddah) e não se intimida em disputar posição com seu companheiro de equipe, Fernando Alonso. Problemas mecânicos impediram o espanhol das Astúrias de conseguir algo mais que um nono lugar em Abu Dhabi, o que o coloca em uma posição semelhante à de Verstappen. A fama de criar seu próprio feudo dentro da equipe poderá ser um problema para a Alpine, que já demonstrou potencial de terminar o campeonato em quarto lugar.
A grande adversária do time francês nesse objetivo é a McLaren, que graças ao bom resultado de Lando Norris (quinto) e Daniel Ricciardo (sexto) em Melbourne, agora soma 22 pontos, dois a mais que os “bleus”. Se o desempenho de Alonso é o ponto a ser melhorado na Alpine, o rendimento do motor alemão é o correspondente no carro inglês. Após um início promissor, Valtteri Bottas e Kevin Magnussen também se ressentem da falta de consistência dos seus carros, respectivamente Alfa Romeo-Sauber e Haas, ambos equipados com motor Ferrari.
Ambos estão empatados com 12 pontos no campeonato e já se estabeleceram como líderes de times em ascensão. Situação semelhante a de Alexander Albon, que garantiu em Melbourne o primeiro ponto da Williams. Decepção inconteste após três corridas é o desempenho da Aston Martin: Lance Stroll coleciona dois décimo-segundo lugares e um décimo terceiro, Nico Hulkenberg, substituto de Sebastian Vettel ausente por Covid em Abu Dhabi e Jeddah foi décimo-sétimo e décimo segundo. Em seu retorno, em Melbourne, o tetracampeão mundial abandonou após perder o controle do seu carro na vigésima-segunda volta.
WG