Foi em 2016! Um dia, ou melhor, durante dois finais de semana que eles, funcionários da grande fábrica de veículos, deixaram suas mesas, computadores, prensas, ferramentas sofisticadas, pistas de testes, laboratórios e muitos outros afazeres nas fábricas e foram participar de um mutirão na Comunidade de Heliópolis (São Paulo, SP), onde pegaram em pás, pincéis, brochas, tintas, cimento, martelos, pregos, serrotes, pisos e outros artefatos necessários para fazer a reforma de uma casa.
Claro, todos usando equipamentos de proteção individual, como capacetes e luvas, máscaras (não eram, ainda, as de Covid) porque, caso contrário, o pessoal da Cipa (sigla de Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) da empresa poderia dar uma bronca neles. Veio gente até do Rio Grande do Sul para ajudar a pintar ou rebocar paredes.
O grupo que “invadiu” Heliópolis era formado por funcionários da General Motors do Brasil, que mantém o Instituto General Motors (GM). Todos obedecendo ordens — não do então presidente da empresa, Santiago Chamorro (que voltou ao cargo nos dias atuais), que ali também estava — mas as ordens de pedreiros, pintores, assentadores de piso e carpinteiros da comunidade, que passavam as instruções sobre como proceder em cada etapa dos trabalhos que duravam um final de semana.
Graças a estes ensinamentos, Arnaldo Uliana, à época com 32 anos de GM, que viajou de Gravataí, RS, onde a GM tem fábrica e onde era gerente de produção, a São Paulo, por conta própria, se orgulha em dizer que “hoje eu sou capaz de fazer, muito bem, o reboco de uma parede”.
O IGM promovia estas ações de voluntariado junto aos seus funcionários, de todos os níveis da empresa, para ajudar ao próximo. Nem sempre o trabalho era braçal como este de Heliópolis, o IGM, à época, atuava em várias direções, como ensino, saúde, meio ambiente e vários outros.
Ana Cláudia Barbosa, que então, trabalhava na área de manufatura da unidade de Mogi das Cruzes da fábrica, lembra que o orientador da Habitat — ONG internacional que trabalha para melhorar as condições de vida das moradias de pessoas carentes — é um profissional e morador da comunidade e orienta na participação das famílias das casas em recuperação.
— É realmente algo muito gratificante — disse Ana Cláudia — ter ao nosso lado as pessoas, mãe, pai, filhos, participando dos trabalhos e vê-las emocionando-se a cada centímetro da casa melhorado.
Arnaldo, o de Gravataí, lembra que os profissionais eram extremamente rigorosos, acompanhando o trabalho dos voluntários com atenção e rigor.
— Nada de amolecer o corpo e exigindo cuidado com o desperdício. Eu já havia participado de eventos como este em Porto Alegre, RS, onde vivo, mas nunca tão gratificante.
Alcione Viana, então presidente do Instituto, destacou que as reformas das casas não são feitas de graça. Os voluntários nada ganham, mas os moradores têm um custo, ainda que simbólico, para a compra dos materiais necessários. É muito pouco o que pagam, mas é uma forma de valorizarem ainda mais o que é feito nas suas casas.
Bem, e o que fez o presidente da GM, que não queria ser identificado como tal? Bem, Santiago Chamorro fez aquilo que já havia feito na Colômbia, em programa semelhante, onde também foi presidente da GM local. Ele assentou pisos na casa onde atuou. E, orgulhoso, diz que realizou um bom trabalho, ressaltando que “não queremos a solução de um problema, mas sim ser parte desta solução, não sendo assistencialistas, mas colaboradores”.
Foi um fim de semana — destacaram Ana e Arnaldo — que vai ficar na nossa história, com a transformação que foi inserida em nossas vidas.
Ah, sim, teve um almoço. Foi num restaurante “por kilo” na Comunidade. Claro que cada um pagou sua conta. E tudo regado a Tubaína e guaraná Jóinha.
— “Uma delícia” — garantiram todos.
Um segredo desta história
Em uma das casas, Chamorro, impressionado com os donos da casa, pela educação dos filhos e ver tudo muito bem arrumado, perguntou à dona da casa”: “Por que a cozinha ainda não foi reformada completamente?”
— Porque não temos como fazê-lo por falta de dinheiro.
O presidente da GM, hoje na sua segunda passagem como chefe maior da empresa, providenciou, por sua conta, que a cozinha da admirada família fosse concluída.
CL