Estava eu fazendo um apanhado das pautas que me foram pedidas por leitores, quando percebi que nesta série sobre mulheres e automobilismo faltou uma bem óbvia: a W Series (“W” de women, mulheres em inglês).
O projeto é um campeonato de monopostos disputado exclusivamente por mulheres, (foto de abertura) e em um par de ocasiões meu “primo” Wagner Gonzalez escreveu sobre o assunto. Mas justamente eu, a única mulher de todo o AE, ainda não havia abordado este assunto a não ser uma menção, de passagem, no meio de um texto sobre outro assunto, e faz tempo.
Sim, ainda devo algumas pautas, mas tenho encontrado alguma dificuldade em conseguir um horário com algumas das fontes. Mas, como sempre digo, Persistência é meu nome do meio.
Por isso, hoje vou preencher essa lacuna.
Pessoalmente, acho uma pena que o campeonato não tenha tanta divulgação. Passo finais de semana inteiros assistindo corridas de diversas categorias, incluindo todos os números das Fórmulas 1, 2, 3 e 4, mas acabo não assistindo as provas da W Series pois mesmo para ver no canal da W Series na internet é necessário lembrar-se de que há corrida — como fazê-lo sem algum tipo de aviso ou notícia?. O mesmo acontece em relação às novidades sobre o assunto. Preciso fuçar bastante, e sempre em sites estrangeiros. Imprensa local é um deserto de informações a esse respeito.
Pelo mesmo motivo, não sei a quantas andam os apoios à categoria, exceto aqueles institucionais, de longo prazo. Patrocinadores? Muito difícil achar informações sobre eles e sobre o retorno que tem. Isso, apesar de a categoria estar muito bem organizada. Falta mesmo, para mim, maior divulgação.
Mas, chega de lamentar o que não encontro e vamos ao que encontrei.
Primeiro, informação básica, pois como sempre diz meu guru profissional e ex-chefe na Gazeta Mercantil, Matías Molina, um jornalista deve escrever como se a própria tia-avó fosse ler a matéria. Ou seja, com clareza, mas com o máximo de informações e presumindo que o leitor não domina o assunto, mas sem tratá-lo como idiota.
A W Series é um campeonato lançado em 2018 que tem como objetivo eliminar as barreiras financeiras que historicamente impedem as mulheres de subir a outros escalões do automobilismo. A seleção é feita apenas com base na habilidade de cada uma. Os carros são mecanicamente idênticos (Tatuus F3 T-318, um carro de corrida homologado com a mais recente especificação FIA F3) o que, teoricamente nivela as participantes e permite que as mais talentosas vençam em vez de aqueles que tem os recursos financeiros mais vultosos. Os Tatuus F3 tem painéis de impacto lateral, estruturas de impacto frontal e traseiro em compósito de fibra de carbono, tirantes de roda, banco extraível e halo para proteger as pilotos.
Este ano, a W Series correrá ao lado da Fórmula 1 em oito finais de semana de Grande Prêmio. Por causa de alguns desafios operacionais não especificados, a corrida da W Series no autódromo de Suzuka, junto com o Grande Prêmio do Japão de Fórmula 1 em 9 de outubro, foi cancelada. Mas, para substitui-la, a categoria anunciou recentemente que no fim de semana 30/9-2/10, será realizada uma prova em Cingapura, no circuito de Marina Bay, o da F-1. Será a primeira corrida da W Series na Ásia. Se não houver novas mudanças, a próxima prova será no Circuito das Américas, em Austin, no Texas (EUA) em 21 e 22 de outubro, seguida do México no Autódromo Hermanos Rodríguez, na Cidade do México (28 a 30 de outubro).
Se alguém acha que na Fórmula 1 houve pouca emoção em alguns anos, com a liderança disparada de algum piloto (já tivemos Senna, Schumacher, Hamilton…), vai confirmar sua impressão na W Series. A inglesa Jamie Chadwick é não apenas bicampeã da categoria, como também venceu cinco das seis corridas deste ano — a da Hungria, semana passada, marcou a quebra da sequência de vitórias, quando a também inglesa Alice Powell cruzou a linha de chegada em primeiro lugar. Mesmo assim, Jamie ainda tem 143 pontos ante 68 da segunda colocada.
No grid, a diversidade de países de origem lembra muito a da Fórmula 1, algo sobre o qual ainda vou pensar melhor. O que acontece, que vemos sempre os mesmos países participarem de corridas de carro? Sei lá, mas claro que fico curiosa por descobrir.
Na W Series, as exceções são a brasileira catarinense Bruna Tomaselli (mas já tivemos muitos brasileiros na F-1), Fabienne Wohlwend, nascida em Lichtenstein (Frederick “Rikky” von Opel foi o único daquele país que correu na F-1; disputou 14 Grandes Prêmios para as equipes Ensign e Brabham entre 1973 e 1974, mas não marcou nenhum ponto), e a checa Tereza Babickova (o único piloto checo na Fórmula 1 foi Tomáš Enge, que disputou apenas três provas em 2001 quando substituiu o brasileiro Luciano Burti, que sofrera um terrível acidente na Bélgica. Enge não pontuou,)
Das 19 pilotos temos:
– 6 inglesas
– 3 espanholas
– 1 japonesa
– 1 finlandesa
– 1 filipina
– 1 americana nascida na China
– 2 holandesas
– 1 brasileira (primeira digressão e momento uiquipídia: Bruna Tomaselli é formada em Jornalismo)
– 1 checa
– 1 norueguesa
– 1 de Lichtenstein (segunda digressão e momento uiquipídia: descobri qual é o gentílico de Lichtenstein: liechtensteinense, liechtensteiniano, liechtensteiniense, listenstainês, listenstainiano, ou simplesmente de Liechtenstein)
Como já disse Beth Paretta, proprietária e chefe da equipe Paretta Sports na Indy, que tem uma enorme quantidade de mulheres: “É importante para mim que a mensagem maior seja que não se trata de mulheres em substituição a homens. Se trata de expandir a grade” e completa, com naturalidade: “Minha esperança é que, em cinco anos, sermos uma equipe majoritariamente feminina seja a coisa menos interessante sobre nós”. Eu também torço por isso.
Mudando de assunto: mesmo eu que não costumo acertar previsão (erro até quem vai levar a presidência nos Estados Unidos onde tem, basicamente, dois candidatos) acho que desta vez vou ganhar o bolão de quem será o campeão de Fórmula 1 deste ano: Max Verstappen. Mas fica só entre nós que eu não quero “secar” o holandês. Não só por que virei fã dele nos últimos dois anos, mas porque acho que realmente merece. Tem um carro muito bom, mas com o qual ele consegue resultados acima do que seriam se ele não fosse tão talentoso e se a equipe não tivesse as melhores estratégias. Por falar nisso, a Ferrari anda passando vergonha. Já não sei se é incompetência ou se tem infiltradas pessoas de equipe adversárias, tamanha a quantidade de lambanças que andam fazendo. Sobre a corrida da Hungria — um circuito que eu adoro e dos poucos em que já andei, como contei neste espaço — só posso dizer que adorei. Uma cena linda do Ricciardo ultrapassando os dois Alpines numa única manobra, outra maravilhosa de Leclerc sobre Russell que lembrou um pouco a de Piquet sobre Senna em 1986 e, por que não, até o giro 360 graus de Verstappen no melhor estilo Nigel Mansell, foi bonito. Ah, além do comentário do próprio piloto (“estava aquecendo os pneus”) vi outro que adorei: o holandês fez isso pois não via ninguém no retrovisor e quis conferir encarando a pista no sentido contrário — vá que tinha algum ponto cego!
NG