No final de 2021 testei o Audi A3 sedã Performance Black 2,0 TFSI e o balanço foi positivo, pois é sempre bom relembrar o prazer que é dirigir um sedã em um mercado lotado de suves. Com o A3 Sportback o resultado é semelhante. Primeiramente experimentei na pista de Interlagos durante o evento de apresentação do carro que estava inserido no Festival Interlagos. Isso me motivou a solicitar o empréstimo à Audi para viajar a Araxá, MG para acompanhar o evento Brazil Classics Kia Show 2022.

O grande diferenciador deste modelo 2022 em relação ao sedã testado no final de 2021 é a tecnologia híbrida de 48 volts que foi incorporada à linha A3. Um motor/gerador está instalado no lugar do alternador com três funções básicas: em acelerações soma potência ao motor a combustão, em desaceleração contribui no torque de freio-motor ao regenerar energia para a bateria, e nas condições em que o motor a combustão não precisa estar funcionando, como em descida, no plano ao levantar o pé do acelerador ou parado no trânsito, é o responsável pela partida rápida do motor.

Os preços públicos da linha Audi A3 2022/22 são:

A3 Sedan 2.0 S line TFSI S tronic: R$ 269.990,00
A3 Sportback 2.0 S line TFSI S tronic: R$ 269.990,00
A3 Sedan 2.0 Performance Black TFSI S tronic: R$ 289.990,00
A3 Sportback 2.0 Performance Black TFSI S tronic: R$ 289.990,00 (versão testada)

Se preferir assista primeiramente ao vídeo de apresentação e avaliação gravado na região da Curva AE em Araçariguama, SP:

Remap no motor

O motor EA 888 de quatro cilindros em linha 2,0 TFSI a gasolina turbocarregado com interresfriador que entregava 190 cv foi recalibrado e passou para 204 cv a 4.200-6.000 rpm e torque máximo de 32,6 m·kgf agora é de 30 m·kgf a 1.500-4.180 rpm. São diferenças muitos sutis que passam despercebidas na condução do carro no dia a dia, pois o que importa é o nível de integração do motor com os demais sistemas do veículo.

O câmbio S-tronic de 7 marchas, robotizado com dupla embreagem em banho de óleo, tem possibilidade de trocas de marchas manuais apenas pelas borboletas atrás do volante, e em qualquer modo de condução que é selecionado (Efficiency, Comfort e Dynamic) as trocas são sempre suaves e bem casadas com a expectativa do motorista.

A maior parte da viagem Campinas-Araxá-Campinas foi feita com dois ocupantes e pequeno volume de bagagem. O modo Efficiency foi o escolhido e o câmbio na posição Drive para maior comodidade e economia de combustível. O consumo acumulado nessa viagem foi de 14 km/l, sendo que no trecho padrão entre São Paulo e Campinas a 120 km/h (real GPS) com controle de velocidade de cruzeiro ativado, obtive a média de 17,5 km/l, enquanto no sedã, com o antigo motor e sem sistema híbrido o resultado foi 16 km/l, nas mesmas condições. Isso mostra que realmente o sistema híbrido traz dividendos para o carro.

Entendendo o sistema híbrido do A3

Estamos vendo os fabricantes incorporando sistemas híbridos em seus carros, e o principal objetivo é atender os novos requisitos de emissões de gases poluentes e economia de combustível. O monóxido de carbono (CO) emitido por um veículo leve passou a ter limite de 1 g/km em 2022, enquanto na regulamentação anterior era de 1,3 g/km — no início do Proconve, o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores em 1986, era 54 g/km. O mesmo acontece em outros gases que também tiveram cerca de 30% de redução nos limites do Proconve L6 para o L7. E na durabilidade, o requisito passa de 80 mil para 160 mil quilômetros, pelo que os catalisadores precisaram passar a ter sua função assegurada dentro do novo limite de quilometragem. O sistema híbrido ajuda nesse caminho da redução de emissões, pois em algumas situações de tráfego o motor a combustão pode ficar desligado e a bateria supre a energia necessária, por consequência melhora o consumo de combustível.

No caso do Audi A3 o sistema escolhido foi o híbrido leve — MHEV (Mild Hibrid Electric Vehicle – veículo elétrico híbrido leve) — que consiste na utilização de um motor/gerador interligado a uma bateria de 48 volts. O funcionamento é praticamente imperceptível pelo motorista, e o principal resultado é o menor consumo de combustível.

Durante a viagem fiz vários experimentos e percebi que em qualquer velocidade, ao atingir uma descida e aliviar o pé do acelerador, o símbolo de start/stop acende no quadro de instrumentos e a rotação do motor cai a zero, indicando que o motor a combustão está desligado e o carro está descendo a ladeira “na banguela”. É a roda- livre atuando, deixando o veículo muito leve, e a qualquer toque no pedal do acelerador ou freio, o motor volta a funcionar na rotação e marcha que estava antes de desligar. Segundo a Audi, no sistema de 48 volts, essa “banguela” pode durar até 40 segundos, e a economia de combustível é da ordem de 0,4 litro a cada 100 km.

O sistema de ar-condicionado é alimentado por compressor elétrico, portanto o motor a combustão parado não traz prejuízo ao conforto térmico na cabine. A partida do motor acontece de forma suave, e praticamente inaudível, pois é feita pelo motor/gerador que está ligado à polia do virabrequim por correia, evitando o ruído desconfortável do pinhão acoplando à cremalheira do motor quando o motor de partida é o convencional.

Medições do nível de ruído interno; atente para os valores à esquerda que indicam o ruído médio em 30 segundos de aquisição, e nos gráficos coloridos, quanto mais quente a cor, maior a intensidade de ruído para cada faixa de frequência

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Curiosamente, ao utilizar o controle de velocidade de cruzeiro, que no A3 é do tipo convencional, os momentos de motor desligado acontecem com menor frequência, mas ainda assim acontecem. A dedução é que ao procurar manter o carro em velocidade constante, o motor a combustão acaba sendo necessário por mais tempo. E em experimentos parciais de consumo, não notei grande diferença entre dirigir no pé ou com o auxílio do controle de cruzeiro. Novamente a dedução é que o controle de cruzeiro tem menor nível de reaceleração, o que na média colabora com o consumo.

Em acelerações, principalmente partindo da imobilidade, o motor/gerador elétrico auxilia no impulsionamento do veículo com 8,2 cv e 6,1 m·kgf por até 5 segundos, ajudando assim o trabalho do motor a combustão e novamente colaborando com o consumo e emissões. Em situações onde a carga da bateria de 48 volts está baixa, ou outros parâmetros do veículo estão fora das condições ideais, o sistema não entra em operação para não prejudicar o conforto, a segurança, ou o desempenho do veículo.

Conteúdo limitado

A marca Audi nos inspira a pensar em carros premium com grande conteúdo embarcado e alto valor agregado, mas no caso do A3 Sportback não é isso que se vê. O conteúdo pode até ser considerado limitado por alguns. Os sistemas de auxílio ao motorista são os básicos, e o destaque fica na qualidade dos materiais de acabamento interno e na sua boa execução. A inspiração do interior do veículo veio do suve Lamborghini Urus (a Lamborghini pertence à Audi, por sua vez parte do Grupo VW.

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Muito do que foi visto no sedã se repete nesta carroceria mais esportiva e jovial. O entre-eixos é o mesmo e consequentemente a distribuição de espaço interna é idêntica, exceto no porta-malas, que obviamente no sedã é mais amplo. São 380 litros versus 425 litros no sedã.

O desenho externo da carroceria é muito atraente e apesar de ser apresentado como Sportback, pode chamá-lo de hatch, pois é isso que ele é. A linha da traseira é muito bonita e inspira velocidade, esportividade e jovialidade. As molduras que imitam saídas de ar nas extremidades do para-choque traseiro é outro elemento que chama atenção.

A iluminação totalmente em LED com faróis do tipo Matrix ajudou muito na parte noturna da viagem. Os últimos 150 km foram percorridos à noite, e bastou deixar o sistema alto automático ativado e os 15 LEDs de cada farol vão acendendo e apagando seletivamente para proporcionar a melhor iluminação, sem ofuscar os carros no sentido contrário ou à frente. Esse é um daqueles equipamentos que todos os carros deveriam ser obrigados a ter nos dias de hoje.

No quadro de instrumentos notei a inexistência do formato tradicional de conta-giros e velocímetro que havia no sedã, e não ficou claro se essa funcionalidade foi removida apenas do Sportback ou se no sedã 2022/22 também. Outro item não disponível é o carregador de celular por indução, e o espelhamento por Android Auto ou Apple CarPlay só é possível por cabo USB-C, igual ao sedã.

O sistema de som com 10 alto-falantes é perfeito para reproduzir as playlists favoritas em uma viagem tão longa. E os bancos dianteiros tem ótimo conforto, com ajustes elétricos para o motorista e extensão frontal do assento.

Dinâmica perfeita

Novamente as qualidades da versão sedã estão todas presentes nesta carroceria hatch, e mesmo com o balanço traseiro mais curto, que poderia deixar a movimentação da suspensão traseira mais brusca, não acontece isso. Utiliza o mesmo conceito de McPherson na dianteira e multibraço na traseira, com molas helicoidais, amortecedores pressurizados e barra antirrolagem nos dois eixos. Em lombadas mais curtas é possível notar o ruído de queda de roda devido à falta dos batentes hidráulicos nos amortecedores.

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O sistema de direção beira a perfeição em todos os sentidos, com bom compromisso entre esforço estático e dinâmico, sensação de centragem do volante positiva e resposta na saída do centro permite precisão para contorno de curvas. Adicionalmente o sistema tem três curvas de ajustes que podem ser selecionadas juntamente com os modos de condução ou independentemente pelas configurações individuais. O volante com revestimento em couro e texturas diferenciadas é ótimo e não cansa, e demonstra uma conexão perfeita do volante aos pneus.

Freios a disco nas quatro rodas com ventilados na dianteira podem ser exigidos que não apresentam sinais de fading, apesar que durante a viagem, praticamente não enfrentei nenhuma situação de serra ou frenagem de emergência, mas na avaliação em Interlagos foi bem exigido. A modulação do pedal é confortável para uso no dia a dia, sem causar cansaço por alto esforço. O freio de estacionamento de acionamento eletromecânico é inteligente com ativação e desativação em conjunto com o câmbio.

Conclusão

Se a busca é por um carro hatch para fugir do lugar comum que estão se tornando os suves, o Audi A3 Sportback é uma boa opção a ser considerada, em que pese o valor mais alto dos veículos importados na nossa realidade atual. O modelo entrega a versatilidade do rebatimento do encosto do banco traseiro para acomodação de carga, com desempenho que permite atingir 100 km/h, partindo da imobilidade, em 7,4 segundos, e ainda alcança 210 km/h com total segurança e na mão.

GB