A GM tentou ser a pioneira na nova fase do carro elétrico na década de 90 — a primeira, é sempre bom lembrar, foi nas duas primeiras décadas do século 20 —, mas deu tudo errado. E mais dois fracassos em 2011 e 2016. Só agora, 30 anos depois, quando milhões de eletrificados de marcas coreanas, japonesas e europeias já rodam pelo mundo, a GM entra como conetndora no pedaço.
O EV1
Lançado em 1993 sob marca GM e não a de uma de suas divisões, o EV1 (Electric Vehicle One) só lhe deu dor de cabeça e um colossal prejuízo no caixa e na imagem da empresa. Tinha atributos interessantes como o baixo peso (1.360 kg) e notável coeficiente aerodinâmico (Cx) de apenas 0,19, entre os mais baixos do mundo num carro de produção em série. Bom desempenho, chegava a 130 km/h (limite deliberado) e cravava 0-100 km/h em 8 segundos. Apesar de considerado à frente do seu tempo, o EV1 falhou em vários aspectos:
– incêndio durante recarga
– bateria de conceito antigo (chumbo-ácido)
– baixo alcance (150 km, depois 200 km com bateria de níquel-hidreto metálico)
– Custo elevadíssimo (atualizado, de US$ 60 mil)
– dificuldade de recarga
De bandeja…
Foram produzidas apenas 1.117 unidades, comercializadas exclusivamente pelo sistema de leasing. Mas a produção foi encerada três anos depois (1996) e a fábrica pediu a devolução de todos os carros antes mesmo de vencer os contratos. Algumas unidades foram entregues para museus e universidades, e todas as demais sucateadas.
A GM perdeu, assim, a excepcional oportunidade de se tornar a grande pioneira mundial dos elétricos. Entregou o título — de bandeja — para Elon Musk, da Tesla.
Volt
Na segunda tentativa, em 2011, a empresa havia pensado num modelo puramente elétrico, mas mudou de ideia e acabou lançando um híbrido plugável, com motor a combustão de 1,4 litro para estender o alcance até 560 quilômetros e recarregar uma bateria menor (apenas 16 kW·h), reduzindo custos. Teve um “irmão” na Europa, o Opel Ampera. Quando terminava seu alcance de 64 quilômetros em modo elétrico, o motor a combustão era acionado automaticamente para ´propulsionar o veículo e alimentar o motor elétrico. Tinha regeneração de energia ao levantar o pé do acelerador e ao frear. Uma ideia inteligente, mas que sucumbiu pelo elevado preço: US$ 41 mil (US$ 54 mil atualizados), US$ 10 mil mais caro que o Toyota Prius. Ademais, tinha só quatro lugares. Sua produção terminou em 2019.
Bolt
Depois das duas derrapadas, partiu para nova tentativa em 2016. Puramente elétrico, algumas unidades vieram para o Brasil em 2018, mas a empresa voltou a ter problemas, desta vez pelos riscos de incêndio nas novas baterias de íons de lítio, produzidas pela LG na Coreia. A GM imaginou que o problema estaria apenas nestas e para uma nova geração do Bolt, lançada em 2020, passou para a bateria da LG produzida em Michigan, nos EUA.
Entrada proibida!
A GM fez um recall de todos os Bolts produzidos até 2019 com baterias da LG da Coreia. Mas não demorou a perceber que também as produzidas nos EUA poderiam provocar incêndios (foto de abertura). O recall foi então estendido para todos as 141 mil unidades produzidas de 2016 a 2022. O único no mundo que envolveu toda a produção de um modelo.
Era tamanho o risco de fogo que a GM recomendou não recarregar o carro dentro de casa nem em estacionamentos. Aliás, teve estacionamento nos EUA que chegou a proibir a entrada do Bolt.
A empresa anunciou seu relançamento no Brasil em setembro de 2021, com pré-venda no valor de R$ 317 mil. Mas, com o novo problema das baterias que fez interromper sua produção nos EUA no ano passado (as novas foram destinadas para o recall), adiamento por um ano e nova apresentação feita agora para o mercado brasileiro. Nos EUA, o preço foi reduzido de US$ 32 mil para US$ 26 mil (cerca de R$ 130 mil). No Brasil, aumentado em R$ 17 mil para R$ 329.000.
A GM trocou o fornecedor da bateria? Não: continua arriscando com a LG, embora a empresa jure, de pés juntos, que está definitivamente eliminado qualquer risco de incêndio (eu não colocaria a mão no fogo…)
Por via das dúvidas, está na hora de a GM cruzar os dedos. Ou trocar seu time de engenheiros eletricistas* em Detroit.
(*) Sou candidato, pois tenho este título…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman! é de exclusiva responsabilidade do seu autor
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