E então, um dia, em 1981, o Luiz Carlos Secco, nosso querido “Seccão”, então gerente de Imprensa da Ford, promoveu uma viagem de carros a álcool ao Paraguai (então presidido por Alfredo Stroessner), que importaria esses modelos naquele ano. Faziam parte do comboio, que partiu de São Bernardo do Campo (sede da Ford) seguindo para Ponta Grossa, PR, dirigidos por jornalistas ligados ao setor automobilístico de todo o Brasil. E de lá, em direção a Assunção, capital paraguaia, ao volante de duas unidades do Corcel II, duas da Belina II e uma única, desconfortável (nada contra o modelo, pouco confortável para os meus 1.80 m de altura e 1.17 m de pernas) e “gastona” Pampa.
Pois bem, foi nessa viagem que começou ¨nossa grande amizade, que perdura até hoje, depois de filhos e netos de ambos os lados. Foi assim: a Alzira Rodrigues, repórter da sucursal d’O Estado de S. Paulo no ABC (Santo André, São Bernardo e São Caetano; só a primeira não tinha e ainda não tem, fábrica de veículos, e a segunda perdeu a da Ford, recentemente), era a única moça do grupo, onde só havia marmanjo. Além de única mulher no grupo, ninguém a conhecia bem. Era sua primeira viagem pelo jornal. Então, na hora de escolher parceiro, ninguém ousava apontar para a Alzira. Eu ousei. Fizemos uma divertida viagem, alternando-nos ao volante, conforme as regras da viagem da Ford.
E, acreditem se quiserem, coube a nós dois a Pampa (o carro de trabalho da minha querida amiga e saudosa Sueli Rumi, lembram dela?). Percebemos nossa má sorte quando o “Seccão” anunciou um concurso de economia na viagem, que por razões óbvias nós, na picape, não teríamos a menor chance de vencer. Conscientes disso, Alzira e eu resolvemos dirigir sem preocupação com o consumo. Aceleramos (sempre dentro dos limites), com ar-condicionado ligado, enquanto a maioria dos concorrentes sacrificava seu conforto com os vidros fechados e sem usar o equipamento de conforto térmico e enfrentando a temperatura ambiente que não era baixa.
Em determinado momento resolvemos “ganhar” a competição. Para isso, entramos no primeiro posto onde havia álcool (ainda em território brasileiro) e colocamos lá uma pequena quantidade do líquido e, na hora de aferir os resultados, claro, ganhamos para surpresa geral. Claro, também, que confessamos nossa estratégia. Muitos riram, mas houve quem se sentisse ofendido.
— Isso não é uma brincadeira! — bradou o revoltado colega, que seria o 2º colocado, caso não contássemos o “truque”.
Retrucamos que era uma brincadeira sim, que estávamos num grupo de amigos e que, além de trabalhar, poderíamos também nos divertir.
O que aconteceu a seguir foi que o Secco tomou as chaves do tanque de todo mundo (naquela época as chaves das tampas dos tanques de combustível eram separadas das demais, não havia controle elétrico ou mecânico das portinholas dos bocais como hoje).
Daí, pensei em uma outra forma de burlar o concurso do Secco, mas resolvi não usar esta estratégia: um macaco jacaré seria usado para dar um toque, apenas um, no tanque de combustível, na época de aço, amassando-o e diminuindo assim a sua capacidade (hoje isso seria impossível porque os tanques são de plástico). Mas aí seria demais e resolvemos não mais brincar, mantendo nosso modo de dirigir, e chegar em último lugar no quesito economia.
A volta, com Julio Iglesias
Voltei sozinho, ou melhor, acompanhado de Julio Iglesias, desde Assunção até Porto Alegre. Sorte que a Belina II tinha um toca-fitas e pude ouvir aquele que fora jogador de futebol no juvenil do Real Madrid e depois consagrou-se como um dos mais famosos cantores de língua espanhola em todos os tempos. No caminho as rádios não pegavam.
Bem, voltando à Belina, recebi um salvo-conduto para cruzar as estradas paraguaias sem problemas com as forças armadas e autoridades em geral. Um aviso me foi dado: tome cuidado nos postos policiais ao longo das estradas, pois seus ocupantes não eram lá muito receptivos.
Ouvindo “Me olvidé de vivir” (“Me esqueci de viver”, eu a ouvi pelo menos umas 20 vezes, ou mais), como todas as outras, avistei, no alto de uma elevação, um posto policial. Preparei-me para uma parada forçada, com perguntas duras e enfrentar alguns problemas. Mas salvou-me um avião, que tinha a bordo o presidente Stroessner. Todos os soldados saíram do posto, acho que eram oito, ficaram em formação e, olhando para o alto, bateram continência para o avião que trazia seu comandante maior de volta ao Paraguai. E passei sem problemas pelo posto.
Explico aqui minha volta de carro e não de avião, como fizeram todos os colegas brasileiros. Como trabalhava n’O Globo (sucursal de São Paulo) passei por Hernandarias, distrito no departamento do Alto Paraguai, que na época era um ponto de atração para agricultores brasileiros residentes na fronteira com os dois países. Fui até lá justamente para fazer uma reportagem sobre essa “invasão” brasileira.
CL