Então… um mês passou muito, muito rápido e cá estou eu de volta. Hoje ainda não vou falar sobre minhas férias, pois acabei de chegar e preciso baixar alguns milhares (sim, é isso mesmo) de fotos pois não fiz nenhum tipo de separação entre as que tirei para usar nas minhas colunas e as que irão para os meus famosos álbuns que, presumo, me levarão cerca de um ano entre selecionar fotos, mandar imprimir, colocar na ordem correta nos álbuns e, pior ainda, escrever ao lado de cada uma a data, o lugar exato e algumas linhas sobre a foto em si.
Mas já conto aqui por onde andei e, acredito, ninguém adivinharia: Catar e Tanzânia. Antecipo que fui ao Catar primeiro e por último, para aproveitar o direito que a companhia aérea nos dava de parar por alguns dias tanto na ida quanto na volta, o chamado “stopover”. A Tanzânia é que era o objetivo da viagem e foi onde mais tempo estivemos, tanto no continente quando no incrível arquipélago de Zanzibar.
Provavelmente nada poderia ser tão diferente quanto esses dois países — seja na geografia, na economia, nas pessoas… foram contrastes gigantescos. Até mesmo no trânsito são duas dimensões totalmente diferentes, como se orbitassem sistemas solares distintos e já conto que provavelmente nunca dirigiria por muito tempo na Tanzânia a não ser por absoluta necessidade. Catar é tranquilo nesse sentido.
É claro que uma viagem destas, e durante um mês, teve perrengues. Alguns já eram esperados, outros foram insólitos, mas o resumo é que foi algo fantástico. Mas, como eu disse, falarei sobre tudo isto nas próximas colunas. Aguardem, acredito que valerá a pena.
Hoje vou falar sobre Fórmula 1, mas também sobre a imprensa automobilística. Não consegui assistir às corridas do Japão (foto de abertura) nem a de Cingapura pois no meio da África não tínhamos televisão nas nossas tendas —aliás, uma constante nesta viagem, o que foi ótimo pois deixei de saber um monte de coisas que só teriam me irritado quando o que queria era desligar dos problemas. Mas este ano o campeonato foi muito bom, tecnicamente. Claro que quando uma equipe dispara na frente (bem, especialmente um piloto) tem gente que reclama. Para quem já viveu a época de ouro de Senna ou Schumacher, nada demais. De tempos em tempos, isso acontece, por isso eu não reclamo.
Reclamo, isso sim, de comentários sem fundamento ou simplesmente errados nas redes (anti) sociais e até mesmo na imprensa tradicional. Nos últimos meses, publiquei várias colunas com invenções do setor automobilístico extremamente originais e práticas, como o limpador de para-brisa e a sinalização horizontal nas estradas, entre outros. Mas na semana passada me deparei com uma novidade: a invenção do volante de Fórmula 1 achatado, quase oval, com alças dos lados, em lugar da circular mais comum. Vejam, caros leitores, que ele teria sido inventado por Lewis Hamilton (foto), segundo declarou o próprio a uma publicação de Cingapura. Considero-me (ênclise modestíssima, reconheço) bastante bem-informada, mas nunca havia visto esse dado.
Algumas publicações divulgaram essa história assim mesmo — outras poucas desmentiram que isso tenha realmente acontecido simplesmente porque esse formato de volante começou a ser usado quando Lewis Hamilton tinha 10 anos. Embora ele seja um gênio nas pistas, nada indica que nessa tenra idade ele tenha desenhado um volante de carro ou qualquer outro componente.
Assim, acabei explicando para alguém que segue a mesma página de Fórmula 1 que eu, como agiria se, numa entrevista, Hamilton me dissesse que ele inventou o volante oval, com alças dos lados. A pergunta que ele me fez era: “você publicaria isso mesmo sabendo que é uma besteira?” Sim, mas com o contraponto. Em primeiro lugar, o repórter tem que entender mais sobre o que vai escrever. O Google está aí ao alcance de todos, é fácil e grátis. Não tem desculpa para o jornalista não se preparar previamente. O certo seria, na hora, perguntar ao entrevistado “como assim? Le Mans já havia usado esse volante em 1995, quando você tinha 10 anos, e a própria McLaren o fez em 1999, no carro de Mika Häkkinen” e deixaria que o entrevistado se explicasse. Se o jornalista não sabia disso, deveria ter checado pelo menos na hora de escrever e, ao descobrir que a tal invenção já existia havia tempos, teria que ligar para o piloto e confrontá-lo com esses dados. Na terceira hipótese, dos meios de comunicação que apenas republicaram a entrevista, o editor tinha obrigação de escrever também o contraponto, pois quem bobeou ao não perguntar foi a publicação de Cingapura, mas quem republica tem obrigação de verificar o que divulga. Não se deve endossar qualquer coisa.
E por que publicar mesmo sabendo que era lorota? Porque Hamilton é uma pessoa famosa e o público costuma acompanhar alguns veículos de comunicação — se aquele que você lê não divulga a história, os leitores podem achar que alguém comeu mosca na redação e procurarão a matéria em outro lugar, que não terá o contraponto. Ou seja, seria desinformar o próprio público.
Não sei o que leva uma pessoa a se adjudicar algo que não fez e especialmente algo tão facilmente comprovável, mas um dos motivos pode ser confiar em que ninguém vai verificar se isso é verdade ou não. Como jornalista, essa razão me incomoda muitíssimo, mas o caso do volante mostra que poucos checam o que vão divulgar. As outras razões são todas no campo da Psicologia e algumas merecem tratamento especializado. Tem, ainda, a possibilidade de o jornalista não ter entendido nada do que o piloto disse e ter escrito algo totalmente diferente, mas como até agora não houve errata, acho pouco provável.
Mas, voltando ao campeonato de 2022, deu a lógica e se confirmou a tendência que se delineou desde o início do ano, apesar de alguma esperança aos tifosi nas primeiras provas de 2022. Aliás, além de um estrategista melhor, a Ferrari deveria contratar uma mãe-de-santo, um pajé, um padre, uma equipe inteira de descarrego, exorcismo e qualquer outra coisa para tirar o azar de seus pilotos. É impressionante como tudo deu errado para os dois neste ano.
Também ficou muito claro que boa parte da imprensa especializada precisa se informar melhor. Mudanças no regulamento para pontuação em caso de interrupção foram feitas há meses, por isso não há motivo para que não se saiba, ao longo de uma prova, como será a pontuação de cada piloto.
O mesmo quanto à questão do teto de gastos. Se todas as equipes concordaram que até 5% acima do limite merece uma punição branda, exigir penas drásticas que não estão no regulamento não faz sentido. Nesse quesito, fica claro que as escuderias já tinham um habeas corpus preventivo para extrapolar nas despesas e quem não o fez assim procedeu porque não precisou ou não quis — mas não porque não pudesse fazê-lo, até mesmo com o beneplácito dos outros.
O ano todo tivemos situações que estavam previstas no regulamento, mas para as quais boa parte da imprensa não sabia como responder. Não tem desculpa. O regulamento da Federação Internacional do Automóvel (FIA) está no site da entidade e pode ser consultado por qualquer pessoa, sem necessidade de cadastro, credenciamento, nada.
Estou deveras curiosa para saber como vão se comportar os novos pilotos no ano que vem — e por novos digo também em termos de idade. Mas tenho gostado muito de ver os “pegas” entre a geração de Vettel, Alonso e Hamilton e a molecada como Tsunoda, Leclerc ou Russell. Se bem que exceto Tsunoda, os outros são novos em idade, mas já tem longa experiência na F-1, mas às vezes me forço a lembrar que Leclerc já está na categoria há cinco anos. Vamos ver como agem Sargeant, DeVries e Piastri e, quem sabe, Drugovich – eu estou na torcida por ele.
Mudando de assunto: está certo que cheguei me sentindo meio alienígena depois de um mês de desligamento quase total de tudo. Por isso, este “meme” faz todo sentido neste momento.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.