Títulos de campeões de Pilotos e Construtores definidos, a temporada de 2022 da Fórmula 1 faz sua tradicional parada na América do Sul: domingo será disputado o GP de São Paulo, em Interlagos, etapa outrora conhecida como GP do Brasil. Sem maiores novidades ou especulações para alimentar as conversas de paddock e mesa de bar, a evolução da categoria ganha destaque no cotidiano da modalidade, em especial, três tópicos: o futuro da Red Bull após a morte de Dietrich Mateschitz (foto de abertura), a chegada de uma nova equipe e a possibilidade de a Colômbia ser incluída no calendário de 2024.
Mateschitz fez fama e fortuna junto com Chaleo Yoovidhya. A partir do Krafting Daeng (touro vermelho em tailandês), uma bebida energética criada pelo último, os dois lançaram internacionalmente o produto em meados dos anos 1980 a partir de uma sociedade onde o tailandês detinha 51% e o austríaco 49%. Yoovidhya, quinta fortuna da Tailândia, faleceu em 17 de março de 2012 e sua família herdou as suas ações. Mateschitz morreu em 22 de outubro último, véspera do GP dos Estados Unidos. Suas ações foram transferidas para seu filho Mark. Ele já anunciou pretende comandar o império formado pelas equipes Red Bull e Alpha Tauri, pelo circuito Red Bull Ring e investimentos em turismo, entre outros segmentos, a partir de um triunvirato completado com Franz Watzlawick e Alexander Kirchmayer. O primeiro cuidará do setor de bebidas e o segundo, dos projetos corporativos e investimentos.
Considerado a eminência parda mais nítida da F-1, o austríaco Helmut Marko era amigo de longa data de Dietrich Mateschitz, o que lhe garantia algo semelhante ao que nós brasileiros conhecemos como “imunidade parlamentar”. Ainda não se sabe qual será o destino de Marko, famoso por ser implacável com pilotos que não rendem o que considera o mínimo, pilotos que todos percebem o processo de fritura que sofrem. Perguntado recentemente se continuará na equipe, ele declarou:
“Alguma coisa vai mudar, com certeza. Afinal, tínhamos uma verdadeira autocracia (antes da morte de Mateschitz). Sempre trabalhamos de forma muito autônoma no passado e éramos a única empresa do grupo que não respeitava certas normas internas da companhia. Essa autonomia era aprovada pelo Diettrich.”
De uma forma ou de outra é sabido que a nova administração quer continuar com o programa de F-1 e que a equipe AlphaTauri não está à venda: pelo contrário, Marko sugeriu que novos investimentos sejam feitos no time baseado em Faenza, na Itália e, com isso, recolocar a equipe como um atuante do pelotão intermediário.
A improvável venda da AlphaTauri tem a ver com a renovada discussão de a F-1 abrir espaço para mais uma equipe, opção que pode ser preenchida pela operação conduzida pela família Andretti ou pela Porsche. Os americanos querem porque querem ter uma equipe para chamar de minha, mas nem todos aprovam essa ideia: uma equipe a mais reduziria em 10% o faturamento dos prêmios que cada escuderia fatura ao final do campeonato e também poderia afetar o valor de cada organização.
Michael Andretti, filho de Mário e que já pilotou para a McLaren nos tempos de Ayrton Senna, esteve muito próximo de firmar um acordo com a Sauber, mas a negociação teve um final digno da epopeia Ford x Ferrari. Na história real, após algumas conversas preliminares, os americanos foram a Maranello com a missão de fechar o negócio já acordado. Na hora de assinar o contrato, Enzo Ferrari simplesmente mudou de ideia. No caso da Sauber, os Andrettis ficaram com o pincel na mão e hoje sabe-se que a Audi será a parceira da Sauber a partir de 2026. Extraoficialmente acredita-se que essa incorporação acontecerá bem antes.
Quem comanda a F-1 atualmente é outro italiano, Stefano Domenicali, por acaso um ex-diretor da Ferrari. Embora não facilite a vida dos Andretti, Domenicali já advoga a ideia lançada por Toto Wolff:
“A primeira coisa que temos que considerar é se a eventual possibilidade de um novo time ingressar na F-1 isso agregaria valor ao campeonato. Se for o caso, discutiremos o assunto internamente. Mas de qualquer maneira, isso terá que ser reconhecido pelos times que já disputam o campeonato e que não poderiam ter sua participação financeira diluída.”
Um novo time na F-1 não é o único problema que tem consumido o tempo de Domenicali. Consta que logo após o GP do México o dirigente viajou para a Colômbia, mais exatamente para a cidade portuária de Barranquilla. Pauta do encontro com investidores e autoridades locais: um contrato de 10 anos para promover um GP em circuito de rua a partir de 2024 ou, no máximo, 2025.
WG
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