O hidrogênio ficou tristemente famoso no século passado, pois foi utilizado nos dirigíveis alemães (Zeppelin) para transporte de carga e passageiros até que um deles, o Hindenburg, se incendiou ao atracar (nos EUA, em 6 de maio de 1937) matando 35 pessoas. Mas ele continua sendo cada vez mais cotado para se tornar o combustível ideal para o futuro com “carbono zero”. Ele não contém carbono, mas sua produção pode emiti-lo. Por isso o hidrogênio é classificado em três categorias, exatamente em função do método de sua obtenção na natureza:
“Cinza” – O hidrogênio é o elemento mais abundante no universo, mas sempre associado a algum outro, como o oxigênio (H2O). Por ser 14,4 vezes mais leve que o ar, foi utilizado nos dirigíveis — atualmente é usado hélio, (He) neles, um gás inerte mais pesado que o hidrogênio que, por isso, resulta em carga útil menor. Mas, apesar de seguro, o hidrogênio é altamente inflamável. É utilizado atualmente em dezenas de aplicações no setor de transportes, indústria, siderúrgica, fertilizantes (amônia). Não é considerado “limpo” pois, apesar de não emitir carbono, sua produção se vale de combustíveis fósseis quando, portanto, se emite o terrível CO2, o gás do “efeito estufa”. E em grandes proporções: a produção de uma tonelada de H2 resulta na emissão de 7 toneladas de CO2.
“Azul” – Além do “cinza”, existe também o hidrogênio “azul”, produzido a partir de gás natural, com uma diferença essencial: o processo “CCS” (iniciais em inglês para carbono capturado e estocado) que captura o CO2 emitido no processo e o mantém estocado na profundeza da Terra.
“Verde” – É o hidrogênio considerado “limpo” pois a energia elétrica utilizada em sua produção é renovável: eólica, solar ou hídrica. Ele já está sendo produzido, mas em pequena escala devido ao custo, cerca de US$ 7,50 o kg. A obtenção do “cinza” custa apenas US$ 1,50, enquanto a do “Azul” fica em US$ 2,40. Mas imagina-se que o custo do “verde”, com a escalada da produção, poderá ser reduzido a 1/3 a médio prazo.
O H2, pode ser utilizado como fonte de energia para qualquer equipamento (só não é recomendado em dirigíveis…): automóvel, avião, trem, empilhadeira, caminhão ou navio. É considerado elemento fundamental para um futuro de carbono zero, até porque, ao contrário de outros combustíveis, o hidrogênio é versátil e pode ser até utilizado para a geração de energia elétrica. Suas principais aplicações:
– Como combustível – O hidrogênio pode ser utilizado nos motores atuais, em vez de gasolina ou álcool combustível, desde que efetuadas alterações. Várias fábricas estão dedicadas ao seu desenvolvimento como combustível, Toyota, BMW e Ford entre elas. Um novo Mustang, por exemplo, poderá ser lançado com esta motorização, pois a engenharia da Ford está desenvolvendo um motor a combustão com substanciais alterações na relação estequiométrica (mistura ar-combustível superpobre), turbocarregador, injeção direta e até o uso do EGR (recirculação dos gases de escapamento) para obter maior potência com o H2 no lugar da gasolina.
– Para alimentar a pilha a combustível – A pilha recebe hidrogênio de um lado e oxigênio (do ar atmosférico) do outro. A combinação gera energia elétrica e, como resíduo, água quimicamente pura (H2O). É exatamente a operação contrária à da obtenção do H2, onde se usa a energia elétrica (eletrólise) para separá-lo do oxigênio (O). Então, o veículo é abastecido com o hidrogênio que alimenta a a pilha a combustível e daí se gera a energia elétrica para movimentar o (s) motor (es). Ou seja, um automóvel elétrico sem bateria.
– Do álcool – O veículo com pilha a combustível não precisa necessariamente ser abastecido com o hidrogênio, mas opcionalmente com o álcool etílico Dele (e de qualquer outro álcool) se extrai o H2 para alimentar a pilha. Esta solução, para se tornar viável, ainda exige resolver o problema do equipamento (reformador) que extrai o H2 do álcool, pois ele ainda é pesado, volumoso, caro e trabalha em altíssimas temperaturas. Mas já existe experimentalmente e duas universidades brasileiras estão desenvolvendo este projeto (Unicamp e USP) patrocinadas pela Volkswagen e Nissan. Seria uma solução “sopa no mel” para o Brasil, único país no mundo que já conta com uma rede capilarizada de distribuição de álcool em todos o país.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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