Kenneth Paul Block, ou apenas Ken Block para os aficionados em manobras radicais com todo tipo de veículo a motor, foi persona peculiar. O esportista, que sofreu acidente fatal na última segunda-feira (2/01) quando pilotava um snowmobile nas montanhas de Utah, nos Estados Unidos, tornou-se mundialmente conhecido por demonstrar sua habilidade especial no controle de qualquer tipo de veículo a motor.
Numa subida íngreme, o veículo empinou e caiu para trás sobre Ken, que teve morte instantânea. Tinha 55 anos.
O mais interessante nesta trajetória, que o levou para demonstrações de sua habilidade pelo mundo é que ele só foi se envolver com o automobilismo esportivo aos 37 anos de idade. Nascido em Long Beach, Califórnia, Ken passou a infância e adolescência em cima de skates realizando manobras radicais. Mas seu sonho era fazer arquitetura e acabou entrando num curso de design.
Durante o curso comprou uma moto e participou de competições amadoras de trial e motocross. Formado, foi trabalhar como desenhista numa empresa de artigos esportivos. Foi lá que, certo dia, teve uma epifania, largando tudo dizendo que iria para o Colorado se tornar um snowboard bum (vagabundo do snowboard), com a ideia de que a experiência com skate lhe proporcionaria bagagem para se tornar um snowboarder vitorioso.
Grande decepção, logo descobriu que sua habilidade em cima de uma prancha sobre a neve, era limitada e que não teria muito futuro como snowboarder profissional. De volta à Califórnia e ao skate, Ken também entrou na faculdade de arquitetura. Lá conheceu Damon Way, irmão do renomado skatista Danny Way. Com a vivência deles no skate decidiram desenvolver artigos específicos para praticantes desta atividade.
Montaram uma empresa de artigos esportivos que posteriormente, em 1994, se transformou na DC Shoes, especializada em calçados para aguentar as exigências dos skatistas. O sucesso foi imediato, no final de 1995 a DC fechou o balanço com vendas de 7 milhões de dólares. O crescimento exponencial atraiu a cobiça das gigantes do setor até que, no começo de 2004, a DC foi comprada pela Quiksilver por 81 milhões de dólares.
Milionário aos 37 anos de idade, Ken conhecia Travis Pastrana, que estava começando a participar de ralis, modalidade muito pouco difundida nos Estados Unidos. Ficou interessado e perguntando a Pastrana como entrar nos ralis. este lhe indicou para o curso do Team O’Neal, no qual Ken logo mostrou uma habilidade natural inegável. Em pouco tempo estava disputando provas com Pastrana.
Em 2006, Ken iniciava sua carreira como piloto profissional ao ser contratado, juntamente com o amigo Pastrana, para compor o Subaru Rally Team USA. Além dos ralis na América do Norte, os dois também participaram de uma nova modalidade que estava surgindo: os X Games, na qual além de habilidade ao volante também eram realizadas manobras radicais, nas quais Block logo se destacou.
Pilotando o Subaru WRX STI, Block foi medalha de bronze na primeira, e de prata na segunda participação do X Games, além de vitórias no campeonato norte-americano de rali, que também tinha provas no Canadá e México. Em 2010, enquanto Pastrana foi fazer uma experiência na Nascar, Ken foi contratado pela Ford, que junto com a empresa de bebida energética Monster, investiu para tornar Ken uma estrela mundial em demonstrações de habilidade ao volante.
Um “Hoonigan”, termo que o próprio Ken Block criou e que definia como “Uma pessoa que opera um veículo a motor de maneira agressiva e pouco ortodoxa, mas não se limitando apenas a drifting, burnouts, donuts, como também a ações de ‘aeronáutica’ automobilística.”
Na mesma ocasião, Ken abriu uma empresa para divulgar suas atividades: a Hoonigan Racing Division que, além de participar de competições, também produz vídeos de ação divulgados em canais de TV de conteúdo esportivo e no YouTube, no qual a série “GymKhana” já somou mais de mais de 500 milhões de visualizações. Hoonigan também é marca de uma linha de vestuário que destaca estilo de vida daqueles que são apaixonados pelo automobilismo e demonstram isto dirigindo com um toque de rebeldia.
O contrato com a Ford também possibilitou a Ken Block realizar o sonho de participar de algumas provas do Campeonato Mundial de Rali (WRC). Por sinal, foi o primeiro piloto americano a ser inscrito em uma prova do mundial. Mas não teve muito sucesso. Na primeira tentativa, o Rali de Portugal de 2011, foi parar no hospital juntamente com seu copiloto, Alex Gelsomino, após uma capotagem com o Ford Fiesta RS WRC, durante o reconhecimento do percurso.
Em 2013 e 2014 teve outras oportunidades e conseguiu um sétimo lugar no Rali do México, etapa do WRC. Apesar de ficar encantado com a habilidade de Ken em se adaptar facilmente no comando do carro, Malcolm Wilson, chefe do M-Sport World Rally Team, que representava a Ford no campeonato, nunca viu em Ken Block um potencial campeão na competição. Talvez porque achasse Ken “Hoonigan” demais para se adaptar a disciplina de uma equipe.
Que Ken Block descanse em paz.
RM