É bem pesada a herança de sucesso do Volkswagen Gol, que desde meados dos anos 1980 era o “cavalo de batalha” da empresa no Brasil. Agora caberá ao Polo colher o legado de ser o modelo de entrada da marca no país.
Se será exatamente esta versão do Polo do Teste de 30 Dias — o TSI, que tem câmbio exclusivamente manual — versão intermediária em termos de potência e preço (R$ 95.640 de acordo com o “monte o seu” do site VW), as vendas dirão. Conhecendo a alma do consumidor brasileiro (quanta pretensão…), talvez seja mesmo o Polo TSI parado à porta de casa a opção mais interessante: não é básico como o MPI equipado com o motor mil aspirado, mas nem tão caro como os “line”, Comfort ou High.
Itens apreciados fazem parte do cardápio do modelo, como central multimídia decente, travas e vidros elétricos, ar-condicionado e ele, o motor mais fortinho do clã. Enfim, não é pobre, nem rico. Aos olhos da massa de consumidores de nossos tempos, o fato de ter câmbio manual o fará perder encanto, mas o degrau de 10 mil reais para levar para a garagem o Polo Comfortline, o menos caro da linhagem de câmbio automático, talvez convença muitos a aturar o pedal da embreagem.
Penso tudo isso enquanto sacolejo na estradinha que da rodovia Rio-Santos me leva a Praia da Fortaleza, em Ubatuba, exemplo exato de como a ausência de manutenção por décadas pode transformar paraíso em inferno. E nesta época de chuvas, os buracos de borda afiada no asfalto degradado me fazem agradecer estar com um carro equipado com pneus de perfil 65, altos para os padrões atuais. Inflados à pressão recomendada (33 libras nos quatro) me parecem bem apropriados ao cenário, capazes de absorver melhor os golpes nos flancos.
Muitas vezes quem mora no Sudeste esquece que o Brasil é, em sua maioria, feito de estradas “de chão”, e que pavimentação — boa ou ruim — é privilégio de regiões que, no cômputo geral, representam a minoria da malha viária do país. Este Polo TSI, que entre um buraco e outro me permite apreciar o excelente câmbio, a embreagem macia e a resposta adequada ao acelerador, parece ter um acerto de suspensões excelente. Gostei andando na capital paulista, gostei andando nas rodovias Ayrton Senna e Tamoios e estou gostando nesta estrada que homenageia o vereador José Alves Barreto, famosa por ter os 6 ou 7 quilômetros mais malconservados de toda a região.
Barulhos internos? Sim e não. A tampa traseira guinchava como um rato mal morto pela ratoeira, mas uma espirradinha de WD40 na borracha de vedação (o certo seria silicone, acho) curou o problema. Aliás, que raiva do cara que convenceu aos projetistas deste Polo a eliminar o botão de abertura na tampa do compartimento de carga. Ter que apertar o botãozinho na chave-canivete (ou do console) para abri-la é chato, muito chato.
Outro senão apontado pela acompanhante é a total ausência de alças no teto para os passageiros, o popular PQP — de “puxa, que perigo”, interpretação civilizada da sigla. Na estrada ruim, o sacolejante Polo deixa os passageiros feito joão-bobo sem o apoio. Outro porém neste cenário off-road é tendência da extremidade do para-choque dianteiro lamber o terreno: quando o carro me foi entregue a lateral direita do para-choque já tinha uma pequena rachadura, que remendei com dois “esgana-gato”. Nesta semana litorânea, providenciei outra rachadura na esquerda…
Mesmo não havendo nenhum tipo de protetor de cárter, o perigo para o motor não me parece grande: o cárter está bem elevado, não tem protuberâncias que tenderiam a tocar no solo, porém será a visita à Suspentécnica na semana derradeira do teste, como é de tradição do 30 Dias, a confirmar tal impressão.
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Abasteci com gasolina assim que cheguei ao litoral, mas julgar o consumo com este combustível nesta semana praiana será injusto uma vez que os trajetos foram sempre malvados: a casa de praia é na montanha! Exige subir cerca de 100 metros em um percurso de 700 desde a beira da praia, o que faz ver cifras como 5, 6 ou 7 km/l para este sobe-morro-desce morro.
Agradou no cenário rampeiro a presença do sistema que segura o Polo no freio nas partidas em ladeira, assim como o limitador de patinagem rodas: é a eletrônica a serviço da condução! E gostei também da atuação dos limpadores de para-brisa e vigia traseira, funcionais e eficazes, adjetivos que servem perfeitamente para o sistema de iluminação potente, no qual os faróis LED (com botão de regulagem elétrica de altura no painel) dão conta do recado perfeitamente. Não há faróis auxiliares de neblina, dos quais não senti falta, mas acho que a luz traseira de neblina deveria ser item de série (assim como o termo de responsabilidade, assinado pelo motorista, prometendo usá-la só sob NEBLINA!)
A subida da Serra do Mar e volta a São Paulo permitiu um ritmo mais animado do que a ida, tanto por estar só no Polo como pela pressa em chegar. Ele diverte quem gosta da atacar curvas, porém a resposta ao volante é diferente da do Polo de cinco anos atrás, o que tinha pneus aro 17 série 50 e amortecedores mais durinhos, que o fazia mais direto ao comando da direção eletroassistida, precisa, à prova de críticas. Não há controlador automático de velocidade, ausência sentida nestes tempos de limites rígidos e radares às pencas.
Na chegada a Capital, mesmo acelerando mais do que o normal, o computador em tela em modo “Desde a Partida” me avisou que cumpri o trajeto de exatos 223 km em pouco menos de quatro horas, a uma média de 59 km/h, e com o ótimo consumo de 15,9 km/l. Registre-se que a média horária poderia ter sido melhor, idem consumo, caso não tivesse perdido tanto tempo nos pedágios, em geral com metade das cabines operando em plena época de férias. Não entendo.
Para a terceira semana, a previsão é mesclar uso urbano, com gasolina no tanque, e talvez acrescentar um breve deslocamento rodoviário. Porém, chegando à metade do Teste de 30 Dias, já posso arriscar que a tarefa de substituir o lendário Gol é algo que este novo Polo parece poder tirar de letra.
RA
Leia os relatório anterior: 1ª semana
Volkswagen Polo TSI
Dias: 14Quilometragem total: 769 km
Distância na cidade: 349 km (45 %)
Distância na estrada: 420 km (55 %)
Consumo médio: 9,1 km/l (48% álcool – 52 % gasolina)
Melhor média (álcool): 12,6 km/l
Pior média (álcool): 7,2 km/l
Melhor média (gasolina): 15,9 km/l
Pior média (gasolina): 5,8 km/l
Média horária: 25,0 km/h
Tempo ao volante: 30h38 minutos
FICHA TÉCNICA NOVO POLO TSI | |
MOTOR | |
Designação | VW EA211 R3 |
Descrição | 3 cilindros em linha, dianteiro transversal, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas, correia dentada, 4 válvulas por cilindro, atuação indireta por alavancas-dedo roletadas, injeção direta, turbocarregador BorgWarner com interresfriador, válvula de alívio de comando elétrico, pressão relativa de turbocarregamento 1,2 bar |
Diâmetro x curso (mm) | 74,5 x 76,4 |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 109/116/5.000 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 16,8/1.750~4.500 |
Taxa de compressão (:1) | 10,5 |
Densidade de potência (cv/L) | 116,1 |
Densidade de torque (m·kgf/L | 16,8 |
Comprimento da biela (mm)/ relação r/l | 140/0,272 |
Gerenciamento do motor | Bosch MED 17..5.21 |
/corte de rotação (rpm) | 6.500 (limpo) |
TRANSMISSÃO | |
Conexão motor-câmbio | Embreagem monodisco, comando hidráulico |
Câmbio | Transeixo com câmbio manual de 5 marchas, tração dianteira |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,769; 2ª 2,095; 3ª 1,281; 4ª 0,927; 5ª 0,740; ré 3,182 |
Relação do diferencial | 3,933 |
FREIOS | |
De serviço | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/ 276 |
Traseiros (Ø mm) | Tambor/228 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, braço de controle em “L”, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção (média, :1) | 14,8 |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 370 |
N° de voltas entre batentes | 3 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10.6 |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 5,5J x 15 |
Pneus | 185/65R15H (Continental ContiPremiumContact) |
Estepe (roda de aço, temporário) | 185/60R15H |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 1.112 |
Carga máxima | 398 |
Peso admissível sobre o teto | 45 |
Peso rebocável (sem/com freio) | 200 |
CONSTRUÇÃO | Monobloco de aço, hatchback, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
DIMENSÕES (mm) | |
Comprimento | 4.074 |
Largura sem / com espelhos | 1.751/1.964 |
Altura | 1.471 |
Distância entre eixos | 2.566 |
Bitola dianteira/traseira | 1.524/1.506 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | n.d. |
Área frontal (calculada, m²) | 2,06 |
Cx x A | n.d. |
CAPACIDADES (L) | |
Porta-malas | 300 |
Tanque de combustível | 52 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 10,2/10,1 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 193/197 |
Aceleração 0-1.000 m (s. G/A) | 31,5/31,2 |
Retomada 80-120 km/h (s, G/A) | 14,2/14,2 (5ª) |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (INMETRO) | |
Cidade (km/l, G/A) | 14,0/9,6 |
Estrada km/l, G/A) | 16,4/11,5 |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em última marcha (km/h) | 38,1 |
Rotação a 120 km/h em última marcha (rpm) | 3.150 |
Rotação à velocidade máxima. (5ª, rpm) | 5.170 |
GARANTIA | |
Termo | 3 anos veículo completo, 6 anos perfuração de chapa por corrosão |
MANUTENÇÃO | |
Revisões (km/tempo) | 10.000 km ou 1 ano |
Troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000 km ou 1 ano |
Troca do óleo do câmbio | Não, vida-toda |