No dia 16 de janeiro de 2023 a Volkswagen emitiu a seguinte nota de falecimento:
“É com grande consternação que recebemos a notícia da morte do pioneiro da Volkswagen, Carl Hahn.
Carl Hahn. foi um grande visionário e uma grande personalidade. Durante quatro décadas ele definiu o rumo da Volkswagen e lançou as bases para o sucesso atual da empresa. Nos Estados Unidos, o VW Beetle se tornou um ícone. Como Membro do Conselho de Administração encarregado de Vendas, ele foi fundamental na fundação da marca premium Audi. E em sentido figurado ele se tornou um dos pais da “Geração Golf”. Como Presidente do Conselho de Administração, ele transformou a Volkswagen em um grupo multimarcas internacionais e, acima de tudo, demonstrou visão estratégica com seu envolvimento na China. Após a reunificação da Alemanha, a Saxônia tornou-se um local de ponta sob sua liderança. A Volkswagen AG e Wolfsburg têm uma grande dívida de gratidão a Carl Hahn.. Ele foi foi é e continuará sendo parte integrante da família Volkswagen”, lembra nosso presidente executivo Oliver Blume.
Que Carl Hahn. descanse em paz.”
Carl Hahn foi um personagem muito importante na história da Volkswagen mundial e o capitulo que envolveu o sucesso do Fusca nos EUA a partir da década de 50 contou com sua visão estratégica ao contratar a agência de propaganda DDB – Doyle Dane Bernbach, de Nova York, que encantou e surpreendeu o mundo com o seu inovador estilo de propaganda que em muito fomentou o sucesso do VW Beetle nos EUA, e por que não dizer, no mundo; inclusive no Brasil (aqui sendo realizado pela Almap na pessoa do também saudoso Alexandre Periscinoto, mas isto é um capítulo à parte).
Visita a Carl Hahn
Na véspera de seu aniversário de 95 anos, Carl Hahn foi visitado por uma equipe do setor de imprensa da Volkswagen, era o dia 30 de junho de 2021. Nesta visita o ex-executivo-chefe da Volkswagen relembrou seu passado e compartilhou sua visão do futuro.
A sua idade não se percebia. Aos 95 anos, o Prof. Dr. Carl Horst Hahn exibia a sagacidade e a espontaneidade de um homem muito mais jovem. Com perspicácia, comentou as coisas que aconteciam à sua volta e brincou com as pessoas na sala, com menos de metade da sua idade, com um sorriso impetuoso, quase juvenil, que dizia: “Não estavam à espera disso, não é mesmo?”
Não, os visitantes não estavam esperando isso, porque Hahn exalava dignidade e respeitabilidade. As suas respostas eram rápidas e bem pensadas. Sem dúvida, Hahn, antigo presidente executivo da Volkswagen e condutor da expansão nos EUA e na China, fundador da Volkswagen Saxónia, adquirente de marcas como Škoda e Seat e salvador da Audi, tinha uma experiência de vida que é incomparável. Ainda naqueles dias, o seu trabalho continuava no seu escritório no Museu de Arte de Wolfsburg, onde aconselhava várias instituições. Ele também era professor honorário.
Foi ele que criou o Museu de Arte de Wolfsburg e falava orgulhosamente sobre ele. Para além da exposição propriamente dita, o edifício contém outra coleção notável. Hahn decorou o seu escritório com a memorabilia da sua carreira, cada item contando uma história que valia a pena ouvir.
Um emprego no Museu
Entre muitos outros itens de sua coleção pessoal há as peças maiores, claramente históricas. Um desenho do primeiro Golf, feito pessoalmente pelo seu designer, Giorgetto Giugiaro. Fotos do encontro dele com o Papa João Paulo II, Mikhail Gorbachev ou o primeiro-ministro chinês, Li Peng. Modelos de importantes veículos, decorrentes de sua longa carreira. Ou o prêmio chinês que o homenageou como o “Homem do Ano 2018”. Numa parede, ao lado de sua mesa, está um cabeçote lendário, mas pouco conhecido. Quando um Audi 5000 estabeleceu um recorde de velocidade no Autódromo de Talladega em 1986, esse componente era parte de seu motor. O Audi 5000 foi um carro feito especialmente para o mercado americano com base nos Audi 100 C2 e Audi 200 C2 (1976-1982) e o sucessor Audi 100 C3 (1982-1990).
Também existem outros itens que nem todos reconheceriam facilmente. Uma foto nada imponente mostra os “salva-vidas de Hahn”, como ele os chamava: seus guarda-costas. “Mas não é disso que se trata”, dizia Hahn. Eles o pegavam todas as manhãs às sete horas em ponto, para fazer jogging, por mais curta que a noite anterior tivesse sido. O exercício sempre foi bom para ele. É por isso que, ainda naquela época, ele fazia o máximo possível. Por exemplo, ele usava uma pequena cama elástica em uma sala ao lado de seu escritório para se exercitar.
Hahn, o estrategista internacional
Hahn também valorizava a sua aptidão mental e visão estratégica. Muito cedo ele decidiu obter uma “educação europeia”. Estudou na França, Itália, Grã-Bretanha e Suíça. O seu objetivo: distinguir-se dos seus contemporâneos com conhecimentos focalizados e experiência diversificada. Hahn também apreciou a exploração geográfica na sua vida privada. Viajou por toda a Europa com a sua motocicleta, uma DKW RT 125.
A vida profissional de Carl Hahn acabou sendo igualmente internacional. Em 1959, ele foi para os EUA para fundar a Volkswagen of America. Em San Francisco, cidade natal de sua esposa, Marisa Lea Hahn, ele ficou particularmente impressionado com as pessoas de origem chinesa. “Eles foram extraordinários”, lembra Hahn. “Eles preservaram sua cultura, ao mesmo tempo em que tiveram um sucesso econômico incrível.” Ao criar campanhas de marketing inteligentes para o VW Beetle e o VW Kombi, suas observações começaram a formar a base da expansão da Volkswagen para a China, anos depois.
Desde cedo, Hahn teve a sensação de que a Shanghai Volkswagen Automotive Co., Ltd., fundada em 1984 e mais tarde denominada SAIC Volkswagen Automotive Co. Ltd., e a FAW Volkswagen, estabelecida em 1991 como uma joint venture entre a China Faw Group Corporation, a alemã Volkswagen AG, iriam um dia fornecer para o maior mercado de automóveis do mundo. “Era possível esperá-lo com alguma certeza, mas, claro, havia muitos pontos de interrogação associados a isso”.
Hahn, o visionário
Com as pernas cruzadas, as mãos apoiadas no colo e o olhar fixo, Hahn falou criticamente sobre sua própria carreira. Olhando para trás, ele disse, “é difícil perceber por que é que, nas estruturas existentes, as vantagens da eletromobilidade não foram reconhecidas durante tanto tempo, especificamente no que diz respeito ao conforto e à economia.” Por cinquenta anos ele pensou sobre esse assunto. Mas na época da visita em questão, Hahn ia para seu escritório no Museu de Arte num carro totalmente elétrico. Seu ID.3 branco estava estacionado em frente ao prédio.
De acordo com Hahn, os carros continuarão a se desenvolver no futuro, independentemente do sistema de tração usado. “Os carros de hoje representam o maior investimento de uma pessoa, exceto aquele para uma casa ou um apartamento.” Em breve, esse investimento desaparecerá completamente e será substituído por um modelo de mobilidade diferente. “Você não terá que comprar o carro do futuro. Você simplesmente o terá, quando e onde precisar, com o toque de um botão.”
Hahn falou esta sentença com uma convicção que fez o futuro parecer claro e certo. De uma forma calma, mas assertiva, ele traçou um quadro de mobilidade variável que não está ligado à ideia de propriedade, mas que, em vez disso, apenas persegue o objetivo do transporte. Esta noção é muito diferente dos milhões de veículos que deixaram incontáveis fábricas a caminho dos seus novos proprietários durante a sua vida profissional. Hahn continuava a ser um pensador disruptivo.
Hahn, o homem ligado à sua família
Essa atitude tornou Hahn bem-sucedido em sua época. No entanto, para ele, fotos de celebridades, objetos preciosos ou marcos simbólicos não eram os itens mais importantes de seu escritório. Sua lembrança favorita estava pendurada bem ao lado da entrada. Era uma foto da sua família. Cada vez que a conversa se desviava do assunto principal, a conversa sempre voltava para seus quatro filhos e nove netos, como eles estavam espalhados pelo mundo, que oportunidades eles estavam aproveitando e com que facilidade eles podiam se comunicar uns com os outros. E o quanto ele sentia falta de sua falecida esposa.
Segue um vídeo (08:26 – falado em alemão com legendas em inglês) com algumas cenas da visita reportada acima, mostrando alguns dos itens de suas recordações.
A foto de abertura é clássica e remete ao tempo que ele ficou nos EUA e fez do VW Beetle um grande sucesso.
Esta é uma homenagem póstuma a uma das importantes personalidades do mundo Volkswagen que recentemente nos deixou e que esteve muito ligado à história do VW Fusca por muitos anos e com muito sucesso.
AG
Agradeço a meu amigo de longa data, Rainer Zerrath, da linda cidade de Würzbug, na Alemanha, que me passou a notícia do falecimento do Carl Hahn em primeira mão através do Messenger do Facebook. A partir daí foi feita a pesquisa para a redação desta matéria. O site www.volkswagenag.com traz a entrevista original que foi adaptada para esta matéria. Foram consultadas outras fontes também.
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