Esta semana o leitor André Stutz Soares fez a gentileza de me mandar matéria publicada no Portal do Trânsito e Mobilidade que fala de estudo mostrando que reduzir velocidade não impacta no tempo de viagem e tem o benefício de reduzir acidentes e fatalidades.
Mais uma do time inimigo do automóvel e, por conseguinte, da população.
O estudo foi feito, diz a matéria, pela Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC) de Fortaleza, CE. Já começou errado; a sigla da autarquia deveria ser AMTC, mas isso é detalhe. O importante são os dados mostrados. “Esse estudo mostrou que, quando se leva em consideração o tempo total de viagem, o impacto é insignificante considerando o deslocamento do ponto de origem até o destino do condutor,” explica o coordenador da Central da Mobilidade para a Preservação de Vidas no Trânsito na AMC, Lélio do Vale, justificando as reduções de velocidade.
Em seguida a matéria cita recomendação da Organização Mundial de Saúde de que a velocidade máxima nas cidades seja 50 km/h e dá exemplos de cidades e países onde houve redução de velocidade acompanhada de queda das mortes no trânsito. Para não precisar transcrever tudo, leia quais exemplos clicando no link do tal portal. na primeira linha deste texto.
Antes de continuar, aviso que sou absolutamente contra velocidade excessiva nas vias urbanas Sou contra, isso sim, contra esse modo espúrio de fazer dinheiro a que os três níveis de administração se lançam cada vez mais aqui e no mundo todo.
Os leitores do AE sabem, de longa data que esse tema é recorrente aqui. Quando Fernando Haddad assumiu a Prefeitura de São Paulo em 2013 determinou redução de velocidade em todas as vias da cidade. As vias expressas das marginais passarem de 90 km/h para 70 km/h. Seu sucessor João Dória Jr. prometeu na campanha, e cumpriu, restabelecer aquele limite para 90 km/h. Ativistas e cicloativistas ficaram em pé de guerra vaticinando que seria uma carnificina a volta do limite pré-Haddad. Aconteceu? Sete anos já se passaram e nada de carnificina nas duas marginais de São Paulo.
Mas João Dória Jr., ao contrário do que muitos imaginavam, só mexeu nos limites das marginais, por isso recebeu o apelido prefeito cinquentinha II — o I é do Haddad.
Outro bom exemplo está nas avenidas paulistanas Presidente Tancredo Neves e Almirante Delamare, de 50 km/h. Ao entrar em São Caetano do Sul o limite da Av. Goiás sobre para 60 km/h, velocidade adequada e segura naquele ponto.
Mais exemplos. Na cidade do Rio de Janeiro o limite na orla marítima — praia, banhistas — é 70 km,/h; No túnel Zuzu Angel, ex-Dois Irmãos, que liga a Gávea a São Conrado, duas bocas, duas faixas e sem baias para emergências, inaugurado há 50 anos, o limite é 90 km/h. Mesmo limite das pistas no Aterro do Flamengo. Não se tem notícia de “carnificina” nessas vias.
Em São Paulo há verdadeiros absurdos, como nas avenidas Jacu Pêssego e dos Bandeirantes, 50 km/h, quando poderia ser de 70 km/h sem nenhuma ameaça à segurança do trânsito. Um dos meus percursos habituais na volta para casas é sair da avenidas do Bandeirantes e cortar caminho pela avenida Ceci. estreita e de mão dupla. O limite ali também é 50 km/h, mas é muito, vou a 40 km/h. a velocidade natural — e segura — para ela.
Acidentes
O que mais me dana é ler ou ouvir que depois de uma via ter sua velocidade-limite reduzida, os acidentes diminuíram xis por cento. É como se antes da redução a velocidade fosse assassina, tresloucada. Fica a impressão, ou certeza, de que não há empenho em determinar a causa dos acidentes: pôr a culpa na velocidade é fácil, não dá trabalho.
Há também a questão da base estatística ser pequena e distorcer o efeito da redução de velocidade, muito comum.
Os leitores do AE sabem de casos de rodovias cujos limites de velocidade são absurdamente baixos, o que denota falta de capacidade da autoridade sobre a via para estabelecer esses limites e/ou fazê-los deliberadamente baixos para o município, estado ou União arrecadar com as multas.
Sem contar as armadilhas, as pegadinhas, como a “campeã” no acesso de marginal do Tietê à ponte Cruzeiro do Sul, proibido em determinado horário por placa posicionada e visível depois de se apontar para a curva e não ter como sair da situação — com uma câmera de prontidão. Ninguém escapa.
Falei acima em velocidade natural. É como a de uma pessoa caminhando normalmente, 4 km/h. Mandá-la ir a 2 km/h é o mesmo suplício de numa via de velocidade natural 80 km/h sermos obrigados a rodar a 40 km/h.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.