As baixas temperaturas do inverno não fazem nada bem ao automóvel, principalmente quando abastecido com álcool, e isso inclui os flex Pois o combustível deve entrar no motor em estado gasoso e não líquido como vem do tanque. E o álcool tem dificuldade de se vaporizar em temperaturas abaixo de 15 ºC.
A primeira (e, portanto, obsoleta) solução para o problema foi na década de 1980, com os primeiros carros a álcool. Gasolina contida num pequeno reservatório, geralmente no compartimento do motor e com tampa vermelha (foto de abertura) para chamar a atenção, era injetada no coletor de admissão, em complemento ao acionamento do afogador (sim, ainda no tempo do carburador) para que ele “pegasse” nas manhãs mais frias.
Com a chegada da injeção eletrônica em 1992 continuou o uso de gasolina para a partida, mas o afogador já pertencia ao passado. Todavia, a injeção de gasolina nas partidas em baixas temperaturas continuou até mesmo nos carros flex surgidos primeiro trimestre de 2003.
Um importante avanço ocorreu em 2009 com o Polo E-Flex ao adotar o sistema Flex Start, da Bosch, em que o álcool era pré-aquecido na galeria na qual ficavam os injetores, passando a injeção de gasolina para partida a frio para a história.
O passo definitivo para a partida a frio sem qualquer dispositivo ou estratégia especial foi dado com o lançamento do VW up! TSI em 2015, modelo que inaugurou a injeção direta na produção brasileira. A forte pressão de injeção, 250 bar, atomiza o álcool de tal maneira que ele “acende” no motor apenas com a centelha da vela. É desnecessário o auxílio da gasolina para iniciar a combustão mesmo sob as mais baixas temperaturas.
Mas ainda há milhões de carros com o reservatório de gasolina para a partida em baixas temperaturas, e é aos donos desses carros que dirijo algumas recomendações.
- Gasolina velha – Se a gasolina ficar mais que 3 ou 4 meses (1 ano ou pouco mais no caso das premium, especialmente a Podium) no reservatório (popular “tanquinho”) ela “apodrece” e perde suas características físico-químicas. Algumas fabricantes evitam este envelhecimento fazendo o sistema, sempre que o arranque é acionado, mesmo sem necessidade, esgotando o reservatório. Ou adotam um menor, de apenas ½ litro em vez do mais comum de 1 litro, para que esvazie rapidamente.
- Bomba pifada – A pequena bomba elétrica que injeta a gasolina no coletor de admissão pode ter se queimado, travado ou com mau contato.
- Sensor da central – O sistema só funciona se perceber que a temperatura está abaixo de 15 ºC e com álcool no tanque. Se o sensor responsável por alguma destas duas informações estiver inoperante, a bombinha não será acionada.
No caso de pré-aquecimento do álcool na galeria (ou na lança do injetor) por uma resistência elétrica, e uma delas pifar, surge uma luz de alerta no painel com o desenho de uma mola espiral.
Solução infalível
Em caso de qualquer problema de partida nas baixas temperaturas, uma solução infalível é misturar gasolina ao álcool. Nos EUA, onde também existe carro flex, o álcool é chamado de E85 (“E” de ethanol) por este conter 15% de gasolina, evitando qualquer problema de partida a frio relacionado ao álcool. Nos estados americanos mais ao norte, onde a temperatura é mais baixa, no inverno o álcool é E70, ou seja, com 30% de gasolina.
No Brasil, é só copiar: no inverno, ao primeiro sinal de dificuldade para o motor “pegar” de manhã, faça você mesmo um álcool E85. Ao abastecer com álcool seu carro a álcool ou flex, a mistura deve ser 5:1. Por exemplo, ao colocar 20 litros no tanque, 16 litros serão de álcool e 4 litros, de gasolina.
Rodar 10 km: não precisa mais!
Não é mais necessário em carros mais modernos “rodar” alguns quilômetros antes de estacionar à noite depois de abastecer com álcool o tanque que continha gasolina. Isto porque a central era informada desta alteração pela sonda lambda (no escapamento), só depois que a gasolina na bomba e na linha de combustível era substituída pelo álcool. Hoje um sensor na linha de combustível avisa bem mais rapidamente à central eletrônica sobre a alteração de combustíveis no tanque.
Bateria no inverno: tombo e coice
No inverno, a reação química que produz energia elétrica é dificultada pelas baixas temperaturas. Além disso, o motor exige maior potência para ser acionado, pois quanto mais frio, mais viscoso fica o óleo e difícil de acioná-lo. Fórmula perfeita para pifar a bateria.
Ligar o ar-condicionado?
Sim, mesmo sem necessidade. Para não ficar todo o inverno sem funcionar, com possibilidade de ressecamento de mangueiras e travamento de válvulas. O ideal é ele funcionar uns cinco minutos a cada dez dias ou três vezes por mês.
Calor no pé…
O sistema de calefação, ao contrário, fica meses sem funcionar até chegar o inverno. O calor para a cabine vem de mangueiras e dutos que trazem água quente do motor para o trocador de calor no interior do painel e que podem se oxidar ou ressecar. Surgem então trincas ou furos e a água quente pinga nos pés do motorista e passageiro.
Trincou do nada?
De repente, surge — do nada — uma trinca no vidro do para-brisa. Não foi uma pedrinha que o atingiu, mas provocada pelo choque térmico: elevada (e rápida) variação da temperatura ambiente.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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