Carros de competição podem ser arte de várias formas: design é uma forma de arte. Estética é uma forma de arte. Aerodinâmica é uma forma de arte. Pintura é uma forma de arte. Mas há também a arte plástica em si e nela há uma pessoa que se destaca: Ararê Novaes.
Famoso pelas ilustrações e caricaturas de carros de várias categorias, ele é unanimidade entre os fãs de automobilismo. No ano passado, a Vicar, empresa administradora da Stock Car encomendou a Ararê uma ilustração com todos os 43 carros campeões da categoria para seu projeto Hall of Fame.
O projeto foi desenvolvido em parceria com a consultoria TresPontoZero.io, especializada em projetos Web 3.0 e até a forma de comercialização foi diferente: foram usadas NFTs, ou “non-fungible token”. O palavreado parece mais difícil do que é: cada token não fungível é um certificado de propriedade digital, um ativo único que pode ser comercializado individualmente e representa direitos digitais de propriedade sobre ativos em formatos como áudio, vídeo, imagem ou mesmo físicos. O token é, em si, um certificado de propriedade que pode ser verificado publicamente. A origem dos NFT é bastante recente, remonta a apenas 2014.
Mas voltemos à Stock Car. A Vicar encomendou ao artista plástico e publicitário Ararê um pôster com todos os modelos desde 1979 até 2021. A peça foi apresentada num evento no Autódromo de Interlagos que incluiu uma corrida com os carros clássicos pilotados por grandes nomes não menos clássicos como Ingo Hoffmann, Paulo Gomes e Chico Serra e foi comercializado de várias formas, incluindo “pacotes” com outros itens de hospitalidade e parte da arrecadação foi destinada ao Instituto Ingo Hoffmann, belíssima iniciativa do doze vezes campeão da categoria que oferece conforto e qualidade de vida às crianças em tratamento contra o câncer bem como a suas famílias. O Instituto coordena o projeto Casa da Criança e da Família, em parceria com o Centro Infantil Boldrini. Desde 2005 já atendeu mais de 20 mil famílias.
A coleção homenageou carros deveras icônicos como o Opala de Paulo Gomes, vencedor de 1979; o Opala Hidroplas, de Zeca Giaffone, que venceu em 1987; o Ômega que levou o troféu de 1996 com Ingo Hoffmann; o Vectra com estrutura tubular que deu o título a Chico Serra em 2000; o Chevrolet Astra de Giuliano Losacco que venceu em 2005; e o Mitsubishi Lancer que estreou em 2006 com o título de Cacá Bueno.
Conversei longamente com Ararê e afirmo: é uma figuraça. Apaixonado por carros e por ilustrações, me contou sobre sua trajetória profissional. É totalmente autodidata e acabou nessa área meio por acaso, depois de trabalhar durante muitos anos em agências de publicidade. Com quase quatro décadas de idade, resolveu partir para outro ramo — o das ilustrações, algo que já fazia na publicidade, mas agora em tempo integral. Foi aprender a usar softwares de computador (inicialmente fazia os rascunhos à mão e os escaneava) e começou a vender seus desenhos. Os imprimia e enviava pelos correios, mas a operação se mostrou muito complicada — os custos de envio cada vez mais altos, as exigências de como os desenhos deveriam ser acondicionados para envio cada vez maiores, os prazos muito longos para entrega… e Ararê partiu definitivamente para o meio digital. E lá se vão 15 anos fazendo isso — com muito sucesso, diga-se.
Hoje ele libera uma espécie de senha digital e o cliente mesmo imprime o desenho no meio em que preferir. Evita-se o envio físico, os amassos no papel, e acelera-se todo o trâmite.
Seus principais clientes são pessoas físicas que compram suas ilustrações para pendurar nas paredes de casa ou para dar de presente — mas cada vez mais surgem pessoas jurídicas, como foi o caso da Vicar. Tem carros de passeio , de Fórmula 1, Fórmula Truck… de tudo.
Entre seus clientes há muitos pilotos e ex-pilotos. Ararê conta que a ilustração mais “exótica”, por assim dizer, foi uma encomendada por Nelsinho Piquet feita há uns 10 anos. Ele encomendou uma caricatura de uma caminhonete para dar de presente para um amigo DJ, quando morava em Charlotte, Carolina do Norte, nos Estados Unidos. E pediu especificamente que o veículo tivesse a cara do amigo e estivesse saltitando. O resultado, conta Ararê, ficou excelente e tanto Nelsinho quanto o DJ adoraram. Certamente foi algo muito original e personalizado.
O pai de Nelsinho, Nélson Piquet, tem vários trabalhos de Ararê na famosa garagem onde guarda seus carros . Encomendou alguns e, bem ao estilo dele, o trâmite todo foi muito simples. “Quando trabalho para pessoa jurídica é uma burocracia enorme. Tenho que assinar contratos de dezenas de páginas, com um monte de cláusulas e restrições (sempre há uma que de não reprodução do trabalho colocada por Ararê, é claro) No caso do Nélson, mandei um recibo simples, daqueles de papelaria”, conta, rindo da simplicidade já conhecida do tricampeão.
Atualmente, 70% a 80% das encomendas que Ararê recebe são de caricaturas de carros e os outros 20% a 30% de desenhos propriamente ditos. Quase todas as caricaturas incluem o próprio piloto com o carro.
Ararê trabalha meio recluso, em sua casa em Piracicaba, no interior de São Paulo, e mantem uma página com alguns de seus trabalhos, que também são comercializados pelas redes sociais.
Ele conta, feliz, que nunca teve uma devolução de trabalho ou uma reclamação e que sempre contou com total liberdade de criação — seja ao fazer encomendas de pessoas físicas ou jurídicas. Nada mais justo com alguém que trabalha com a qualidade dele.
Mudando de assunto: Bem… o que dizer do Grande Prêmio do Canadá? Que tanto a Red Bull quanto Max Verstappen sobram? O sujeito correu umas 60 voltas com um pássaro no duto do freio e nada aconteceu. Imagino os engenheiros da equipe quebrando a cabeça durante dias para ganhar milissegundos e depois um ser alado entra no carro e, mesmo assim, o neerlandês ganha a corrida, com folga… Essa é para fazer aqueles mexicanos que acham que a Red Bull sabota o carro do Sergio Pérez pensarem um pouco mais seriamente. Ri muito com comentários nas redes sociais. Um deles dizia: “Boa, Canadá, (depois do pássaro) agora joga um alce nele!”. Também me diverti com os rádios. O do Max dizendo “quase me tirei da corrida naquela zebra, haha” revela uma tranquilidade, autocrítica e bom humor incríveis. E, por incrível que pareça, tenho torcido para o Alonso — logo eu, que o detestava. Sempre reconheci um grande piloto, mas não gostava dele. A mudança de atitude do espanhol me fez também mudar de atitude. Como diria o Lulu Santos: tudo muda, o tempo todo…
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.