Autódromos e pistas de testes de fabricantes de automóveis e de pneus são locais ideia para explorar os limites de um carro, tecnicamente falando. Mas o mesmo não de pode dizer de lançamentos nesses locais. Isso porque há uma preocupação — infundada — desses fabricantes de que jornalistas se acidentem e isso tem levado a cada vez mais limitações de velocidade e tempo de permanência na pista. Contaram-me que agora mesmo, no Festival Interlagos, uma determinada marca permitia que o jornalista desse apenas uma volta no circuito. Não uma volta completa, mas sair do box e retornar sem fechar a volta. Absurdo.
Não só isso, pois em regra tem-se que levar um acompanhante, um “fiscal”. Nada mais desagradável, ter um passageiro, geralmente desconhecido, num momento de concentração na avaliação de um carro. É o tipo de procedimento que deveria ser facultativo. Se bem que em determinados casos essa companhia forçada é útil, como me disse outro dia o Gerson numa conversa a esse respeito. “Às vezes eles passam informações úteis sobre certas funções do veículo”, disse.
Complicado mesmo é grande parte dos fabricantes-anfitriões dever achar que se trata de uma corrida só pelo fato de se estar num autódromo ou pista de teste e por isso, obrigarem o suo de capacete. É péssimo usar esse útil equipamento de segurança quando não se está numa competição, perde-se grande parte da essencial acuidade auditiva para se experimentar ou avaliar um carro.
Para tornar as coisas ainda mais complicadas para os jornalistas que estão ali para conhecer o produto, o circuito é recheado de chicanas delimitadas por cones de borracha para limitar velocidade.
E não é só: em muitos casos juntam certo número de carros que andam em comboio atrás de um carro-madrinha. Não há nada mais desalentador e desestimulante do que ter uma “babá” à frente.
Todavia, há situações especiais em que o carro-madrinha é útil. Em 2013 a Porsche, para comemorar o cinquentenário do 911, convidou jornalistas de vários países para conhecer o seu museu e dirigir alguns 911 do acervo por estradas secundárias de Zuffenhausen a Weissach, cerca de 80 quilômetros. É em Weissach que fica o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Porsche e o objetivo foi nos da oportunidade de conhecê-lo. Isso, claro, incluiria andar numa das pistas de testes do complexo. Não se tratava de avaliar ou testar nada, apenas curti 911 antigos. Seis carros com um carro-madrinha — em termos — pois precisei usar tudo que conheço de pilotagem para acompanhá-lo. O alemão andou realmente forte.
Esse parte e toda a história deste programa memorável são descritos em detalhes na minha matéria “Vinte e quatro horas de Porsche 911 em Stuttgart”, de 2013, cuja leitura recomendo.
Não era assim
Há vários exemplos de como eram diferentes as avaliações nos lança,mentos.
Numa visita técnica à Fiat na Itália uns dez anos atrás fomos andar com vários carros na pista do Centro de Desenvolvimento de Balocco, perto de Turim. Tivemos que levar acompanhante. Como andamos lá sem restrições, os acompanhantes começaram a se sentir mal, a enjoar. Parei e falei com o pessoal da Fiat para andarmos sozinhos e fui atendido. Tudo transcorreu normalmente depois.
No lançamento do Gol GT em 1984, o palco foi Interlagos. circuito antigo, Pista totalmente livre, andava-se á vontade e sem capacete e acompanhante.. Incidentes e acidentes, zero. O diretor de pesquisa e desenvolvimento da Volkswagen (como era chamada a engenharia) Philipp Schmidt viu ali a oportunidade de se fazer um corrida de Gol GT com os jornalistas, ideia demovida pelo chefe de imprensa na ocasião.
Dez anos depois eu e mais de uma centena de jornalistas estávamos no autódromo de Barcelona para conhecer o Corsa Wind. Andamos na pista sem chicanas quantas voltas quiséssemos, e sem capacete. A única exigência era atar o cinto de segurança., claro.
Fiat Punto, 2007, autódromo de Buenos Aires: pista sem chicanas redutoras de velocidade, sem capacete, sem acompanhante.. Zero-zero mais uma vez.
Entre maio de 2002 e abril de 2003 fui assessor de imprensa da Stuttgart Sportcar, então o importador oficial Porsche para o Brasil. A diretoria me autorizou a organizar uma sessão de experimentação de um 911 para 15 jornalistas, de minha escolha, em Interlagos. Utilizamos um 996, o primeiro arrefecido a líquido, do estoque de usados, um ano-modelo 1998. Na hora da nossa janela para usar a pista (era dia de várias corridas), chuva. Cancelar nosso evento, nem pensar. Os 15 jornalistas andaram na chuva com um carro de motor traseiro, 3,4 litros, 300 cv. De novo, zero-zero.
Preocupação realmente infundada
Primeiro, os jornalistas que avaliam ou testam carros são responsáveis, dirigem bem e estão em condições controladas, onde não há pedestres, ciclistas e tráfego estranho aos carros que estão sendo apresentados;
Segundo, assina-se termo eximindo a fabricantes de responsabilidade por acidentes que se venha a sofrer ou por lesões corporais a terceiros que estejam usando a pista. Sem assinar o termo não dirige. Quem já andou no anel norte (Nordschleife) de Nürburgring conhece a sistemática.
Um momento tão especial com o do lançamento de um carro não merece ser maculado por preocupações infundadas. Não precisa.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor..