Foi em 1995 que um grupo de sócios de um clube alpino da província de Verona, no norte da Itália, teve a ideia de construir uma casinha alpina de madeira sobre o chassi de um VW Beetle ano 1970. O carro escolhido como base deste projeto foi um VW 1302, primeira série do Superbeetle ainda com vidro do para-brisa praticamente plano — tinha ligeira curvatura, de flecha bem pequena, surgido com a reformulação da carroceria em 1964 —, mas já com suspensão dianteira McPherson, motor 1.600 cm³ e na versão com Automatic Stick Shift (carro equipado com conversor de torque e três marchas manuais para frente — L para arrancar em situações extremas, 1 e 2, e uma marcha à ré, e sem pedal de embreagem simulando um câmbio automático). Com esse câmbio a suspensão traseira era por braços semiarrastados em vez de semieixos oscilantes..
A ideia era ter uma espécie de base móvel para as atividades do clube em eventos, seja como secretaria ambulante, ou ponto de venda de ingressos ou até uma cervejaria itinerante. Para tanto foi feito um esboço preliminar, detalhando as primeiras ideias do projeto:
Outro detalhe do esboço acima que não foi realizado foi o sino, um símbolo alpino (remetendo ao gado que é levado para o alto da montanha durante a parte quente do ano e que porta sinos nos pescoços), que era para ser instalado num suporte preso ao para-choque dianteiro.
Depois deste primeiro esboço foi feito um esboço mais detalhado já com o telhado “mais aerodinâmico” e demais detalhes, uma verdadeira obra de arte pintada em guache:
No esboço abaixo foi feito um detalhamento mais próximo do que acabou sendo realizado:
Também foram feitos estudos estruturais para definir como o projeto poderia ser realizado:
O resultado da adaptação de uma cabana alpina num VW Beetle ficou muito bom mostrando o contraste entre o conhecido carro da Volkswagen agora com uma sólida carroceria feita em madeira maciça com todas as ferragens de casas de madeira desde fechaduras até dobradiças. Até “carrancas” foram usadas para manter as folhas das janelas abertas.
Dando uma olhada na foto acima vemos que acabou sendo feita só uma janelinha superior, esboços iniciais mostravam duas. A janela lateral tem um beiral escamoteável que é usado como mesa, por exemplo para servir cerveja em canecos de vidro. As suas lâminas são mantidas abertas por “carrancas” de ferro fundido. Abaixo da janela existe uma gradinha para segurar vasos de flores. E entre esta gradinha e a maçaneta da porta de entrada está uma caixa para receber cartas. Outro detalhe é que o telhado tem calhas funcionais com a correspondente tubulação para desague. A porta de entrada tem janela com vidro plano de correr com cortininhas características em tecido xadrez e uma bela fechadura com uma sólida maçaneta. Abaixo vê-se como ficou o chaveiro deste veículo:
A lateral direita é semelhante à esquerda, só não tem a caixa de correio. Outro detalhe interessante é que os para-choques foram substituídos por fortes tábuas vergadas. A casinha alpina sobre rodas tem um engate para reboques homologado que permite rebocar pequenas cargas para os locais de eventos. Ao lado direito da janela traseira se pode ver um pequeno quadro-negro oferecendo cerveja em três idiomas, já que este veículo também participa de eventos na Suíça, pais fronteiriço que têm três idiomas oficiais, fora os dialetos.
Em seu interior, na parte traseira a casinha alpina sobre rodas tem um sofá de madeira em “U”, com uma mesinha redonda central e no canto direito da foto está um fogareiro a gás que também serve como lareira; dela sai uma chaminé feita em chapa com uma pintura imitando tijolos.
Ao fundo uma janela retangular grande que pode ser aberta para servir de balcão para atendimento ao público em eventos. As duas janelas laterais com suas cortinas típicas. No lado esquerdo da foto o interruptor da luz interna.
Olhando do interior do salão para o posto de pilotagem podemos reconhecer o painel do Fusca que foi pintado com desenhos de montanhas. O volante foi substituído por outro de madeira. Os bancos dianteiros têm assentos e encostos em ripas de madeira, presos em uma estrutura tubular.
Na foto abaixo podemos ver que não há pedal de embreagem, já que, como eu disse antes, este é um VW Beetle com Automatic Stick Shift. Também vemos que a alavanca de câmbio foi substituída por uma peça de madeira torneada. Não sei se estas almofadas nos bancos ajudam muito a melhorar o conforto destes bancos duros de madeira.
Na parte anterior do telhado existe um detalhe que aloja uma janela, também com cortinas, encimada pela águia que vimos anteriormente. O telhado é coberto por um material impermeável que imita telhas.
As paredes internas são decoradas com quadros e na parede esquerda há até um relógio cuco, item que não pode faltar num chalé de montanha:
O capô dianteiro do VW Beetle e a tampa do motor foram transformados em tela de pintura recebendo imagens de montanhas e lagos. Como vimos, parte do interior das portas e o painel receberam o mesmo tratamento.
As rodas receberam uma enorme calota plana que também serviu de tela de pintura recebendo a arte de uma paisagem:
Por falar em tampa do motor vamos abri-la para mostrar o 1600 arrefecido a ar deste VW 1302:
Para fechar esta parte da matéria, uma foto três quartos de frente da casinha de montanha sobre rodas. Vimos várias curiosidades deste veículo singular. Vocês certamente encontrarão outras ao analisar as fotos. Acho que faltou falar dos limpadores de para-brisa que receberam uma cobertura diferente, uma pena de ganso esculpida em madeira:
Este veículo peculiar estava a venda na modalidade de leilão sem reserva no site Catawiki, de onde vieram as fotos desta matéria. E o leilão foi concluído no dia 20 de julho passado por um valor de US$ 16.298,00; naquela ocasião o hodômetro do carro marcava 73.219 km, sendo que antes da transformação este carro era de uso diário.
Uma curiosidade a mais
Chamo a sua atenção para o jornal antigo, dobrado em quatro, que está sobre a mesinha do salão da casinha de montanha sobre rodas na foto abaixo:
O foco de nossa atenção é a matéria: Il buon Maggiolino fa anche da casseta – O bom Fusca também funciona como um lar, que aparece no canto direito inferior da página 22 do do jornal Cronaca Dalla Provincia – Crônica da Província, de 16 de setembro de 1997.
O artigo fala sobre um encontro de Fuscas ocorrido na cidade de Monteforte d’Alpone na Província de Verona, situada a 28 km a leste da cidade de Verona. Mas o que me chamou a atenção em especial foi a seguinte passagem desta matéria:
Havia também um Lafer branco, um cruzamento entre um MG¹ e um Fusca, e um Puma vermelho, tão aerodinâmico e agressivo quanto um Ferrari.
(¹) – O redator da notícia confundiu MG com Bentley – eu corrigi na tradução, mas está valendo.
Vejam só, dois carros especiais brasileiros participando de um evento de Fuscas em 1997 no norte da Itália, chamando a atenção e sendo elogiados!
Tenho todo o artigo tanto em italiano como em português, ficam à disposição de quem quiser lê-lo, basta solicitar por e-mail – alexander.gromow@autoentusiatas.com.br.
AG
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