As primeiras Royal Enfield Bullet 500 chegaram ao Brasil pelos idos de 2015 ou 2016. Rodei poucos quilômetros com uma delas, o que bastou para saber que aquela motocicleta não era para mim. Na verdade, achei mesmo que ela não era para ninguém. Freava mal e andava pior. Curvas? Melhor não! Visual de moto antiga, tecnologia idem, padrão construtivo pavoroso. “Quem vai comprar isso?”
Resposta: quem admirava um visual retrô sem dar bola para a eficiência técnica ou dinâmica, abrindo mão do prazer de pilotar pelo prazer de ser visto pilotando algo insólito, chamativo. Tinha (e tem) bastante gente assim no mundo…
Anos se passaram, quase uma década, e nessa fresta de tempo comecei a ver outros modelos de Royal Enfield na rua, e gente que considero motociclistas com “M” maiúsculo elogiando-as, e até comprando-as. Algo tinha acontecido! Hora de romper preconceitos, e comecei pela base: no começo deste ano pedi uma Royal Enfield Classic 350 emprestada, a mais barata da marca vendida no Brasil até então.
Uma semana de convívio e, sim, o padrão construtivo melhorou. O motor — de nova fatura, ainda um monocilindro arrefecido a ar+óleo — funcionou bem, idem o câmbio. De um modo geral a parte ciclística não me horrorizou. Quanto ao visual, o de sempre, look de moto antiga, mas com acabamento caprichado. Gostei?
Calma, muita calma. O progresso em relação à Bullet 500 foi grande, mas ainda havia um senão determinante para mim: o prazer de pilotar estava fortemente prejudicado por quilogramas demais, 200, e potência e torque de menos (20 cv e 7,6 m·kgf), cifras que penalizavam a maneabilidade de forma exagerada para meu gosto. Premissa: não sou adepto da pilotagem esportiva, por falta de talento, excesso de senso de preservação (ou ambos), mas minha preferência é por motos fáceis, leves, que respondam aos comandos de maneira ágil, é qualidade essencial para o uso que faço delas, essencialmente urbano.
Preâmbulo feito, finalmente falarei da novidade Royal Enfield Hunter 350. O modelo me fez fazer as pazes com a marca, cumplice o belo test ride noturno organizado na cidade de São Paulo, nos meus caminhos de todo dia. A Hunter 350 se enquadra no que considero uma boa motocicleta, se fosse uma peça de roupa seria um jeans, boa para múltiplas ocasiões, máquina que certamente teria espaço em minha garagem.
Nenhum de seus pecadinhos (todas motos os tem…) irrita e, no fim das contas, prós superaram contras por boa margem. A mágica da Royal Enfield ao inventar a Hunter 350 foi o regime de emagrecimento, os 14 kg a menos que a Classic, com a qual compartilha o mesmo motor, revisto no que diz respeito à entrega de potência e torque apesar das cifras serem iguais. Outro fator positivo foi a modificação no chassi (sempre um tubular de aço com arquitetura tipo Diamond), com distância entre eixos reduzida e ângulo da coluna de direção alterado.
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O progresso no padrão construtivo é outro aspecto. A Royal Enfield fez uma grande lição de casa não apenas em seus centros produtivos indianos mas também criando uma estrutura voltada para desenvolvimento em sua pátria de origem, a Inglaterra. Nascida lá em 1901, à partir do crescente declínio da indústria britânica de motos nos anos 1950, tornou-se marca indiana, que tecnologicamente falando dormiu em berço esplêndido até acordar, vigorosamente, há cerca dez anos e se aventurar no mercado mundial.
Para quem é esta Royal Enfield Hunter 350? Para quem quer gastar pouco — seu preço sugerido está abaixo dos 20 mil reais — gosta de motocicletas com cara de motocicleta, sem jaspionices, não se importa com a potência modesta e não precisa rodar em rodovias com frequência, e muito menos fazer grandes viagens.
Apesar de ainda não ser leve (180 kg), a Hunter é ágil, freia bem, tem um motor honesto, câmbio ótimo e uma ergonomia bem estudada. Projetada com atenção e bem construída, um olhar mais exigente não vê muitos problemas — probleminhas, melhor dizendo.
A Royal Enfield Hunter 350 marca uma nova página da fabricante, que confirma um esmero construtivo já notado nas Himalayan, Scram 411 e bicilíndricas 650 Interceptor e Continental. Enfim, da Índia para o mundo, com preço justo, estilo e eficiência dinâmica. Minha má impressão causada pela Bullet 500 foi cremada e jogada nas águas do Ganges, e ouso dizer que a Hunter 350 talvez seja a melhor coisa surgida da associação entre britânicos e indianos desde o White Album os Beatles, que ouço enquanto escrevo…
RA
F ICHA TÉCNICA ROYAL ENFIELD HUNTER 350 | |
MOTOR | |
Descrição | Monocilindro, 4 tempos, arrefecimento dinâmico a ar e óleo, injeção eletrônica |
Cilindrada (cm³) | 349,3 |
Diâmetro x curso | 72 x 85,8 |
Potência máxima (cv/rpm’) | 20,2 / 6.100 |
Torque máximo (m·kgf/rpm) | 2,75 /4.000 |
Taxa de compressão ):1) | 9,5 |
Rotação de marcha-lenta (rpm | 1.050 ± 100 rpm |
Partida do motor | elétrica |
Óleo do motor | SAE 10W50 API SL, Jaso MA-2 semissintético |
TRANSMISSÃO | |
Embreagem | Hidráulica convencional |
Câmbio | 5 marchas |
Transmissão- secundária | Corrente |
QUADRO | |
Tipo | Duplo tubo inferior |
CICLÍSTICA | |
Suspensão dianteira | Telescópica, garfo de Ø 41 mm, curso 139 mm |
Suspensão traseira | Amortecedores de emulsão duplos com ajuste de pré-carga de 6 etapas, curso 90 mm |
FREIOS | |
Controle | ABS duplo |
Dianteiro (Ø mm) | Disco / 300, pinça flutuante e dois pistões |
Traseiro ( )Ø mm) | Disco / 270, pinça flutuante e um pistão |
Pneu dianteiro | 100/70-17 – 54P |
Pneu traidor | 140/70-17 – 66P |
PESO E DIMENSÕES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 181 |
Distância entre eixos (mm( | 1.370 |
Altura do assento (mm) | 790 |
Distância mínima do solo (mm) | 150,5 |
Comprimento/largura/altura (mm) | 2.100 / 800 / 1.055 |
CAPACIDDES | |
Tanque de combustível (L) | 13 ± 0,5 |
Aviso de combustível baixo (L) | 4 ± 0,5 |
CONTEÚDO ROYAL ENFIELD HUNTER 350 |
Painel de instrumentos LCD digital com velocímetro analógico |
GPS Tripper |
interruptor de emergência |
Descanso lateral e central |
kit de ferramentas sob a tampa lateral direita |
Interruptor do descanso |