O motor boxer, ou motor de cilindros horizontais e opostos, parece incomum mas não é. Tampouco é novidade, como se sabe, mas o fato é que o primeiro de produção que a história registra é da alvorada do século 20, no ano 1900, num pequeno carro inglês de nome Lanchester 8 hp Phaeton, um bicilindro de 2.985 cm³ arrefecido a ar.
Em qualquer motor de combustão interna a pistão a disposição dos cilindros é mero detalhe. O princípio de funcionamento é imutável: mistura ar-combustível entra em combustão, expande-se gerando alta pressão, esta faz deslocar o pistão que, ligado a um sistema biela-manivela, transforma seu movimento retilíneo em rotativo.
A vantagem do motor boxer consiste em ser mais curto do que outras configurações, (ocupa menos espaço nos automóveis) e é mais baixo, contribuindo para abaixar o centro de gravidade, sempre útil nos veículos esteja na dianteira ou na traseira.
Quem tem “mão” em Kombi sabe que na passagem do motor boxer arrefecido ar para o o EA-111 de 4 cilindros em linha de 1.390 cm³, em janeiro de 2006, seu comportamento piorou bastante. O mesmo ocorreu quando o Gol passou a ter motor arrefecido a líquido. Quando eu dirigi Competições na VW do Brasil de 1984 a 1988, a Saveiro que havia na frota do departamento desde o lançamento em setembro de 1982, era tão boa dirigir e de curva com seu motor boxer, 1,6 que nunca a substituímos.
A adoção do motor boxer de quatro cilindros, associado ao arrefecimento a ar, no “carro do povo alemão” foi inquestionavelmente uma das maiores chaves, se não a maior, do seu enorme sucesso, decisão replicada por Ferry Porsche no sucessor espiritual do Volkswagen, o Porsche 356. O motor boxer está mais vivo do que nunca na marca, atualmente no 911 e na dupla Boxster-Cayman,. Os primeiros protótipos do VW chegaram a motor radial de três cilindros arrefecido a ar, e foi o engenheiro da equipe de Ferdinand Porsche, Josef Kales, que apontou a acertada solução do boxer de quatro cilindros arrefecido ar, sistema de arrefecimento do qual ele era especialista.
A compacidade do motor boxer é facilmente demonstrada no VW Fusca: olhando-o de fora parece improvável haver na traseira um motor de 4 cilindros que de pequeno não tem nada. Começou de 985 cm³ e chegou a 1.585 cm³ na produção normal, fora os de mais de 2.000 cm³ altamente modificados. E permite dois porta-malas, caso da VW Variant e do VW-Porsche 914.
Vale explicar que há diferença entre motor boxer e motor em “V a 180º”, No boxer, cada manivela do virabrequim recebe movimento de uma biela, enquanto no outro caso cada manivela recebe movimento de duas bielas. Isso significa que no boxer os pistões se movimentam em sentido contrários e no “V a 180º” o movimento dos pistões é no mesmo sentido. Veja abaixo um motor boxer de Fusca com as peças se movimentando:
Segundo o Wikipedia,, o “crescimento” dos motores boxer foi:
4 cilindros; Benz,1920 – carro de corrida de 20 cv
4 cilindros de produção: Wilson-Pilcher, 1921
6 cilindros: Wilson-Pilcher,1924
6 cilindros de produção: Tucker, 1948
8 cilindros: Porsche 804 de Fórmula 1. 1962
12 cilindros: Honda RA271 de Fórmula 1, 1964
12 cilindros de produção: Ferrari 365 GT4 BB em 1973
Fora os Porsches de rua mencionados acima, a única fabricantes literalmente apegada, com orgulho, ao motor boxe de 4 cilindros, é a Subaru.. Ela já teve um modelo com motor boxer de 6 cilindros, o ER27, no Subaru Alcyone VX (XT no mercado americano) em agosto de 1987. O número 27 indicava a cilindrada de 2,7 litros (2.672 cm³).
Por o motor dianteiro ser longitudinal, a Subaru destaca o fato de sua tração ser simétrica: as semiárvores têm o mesmo comprimento. Nas versões de tração integral a simetria obviamente é mantida.
A primeira motocicleta BMW, a R32 de 1923 (100 anos!) tinha, como até hoje, motor boxer bicilindro longitudinal, o que facilitou o uso da transmissão secundária por cardã (até hoje também). A moto alemã Zündapp K800, de 804 cm³, dos anos 1930, tinha motor boxer de 4 cilindros. O “K” representava Kardanantrieb, justamente transmissão por cardã em alemão.
Outros carros tiveram motor boxer: Citroën 2CV e Ami, Alfa Romeo (Alfasud, 145 e 146), Tatra T77 (checoslovaco), Jowett, Javelin inglês), Chevrolet Corvair (6 cilindros), o francês Dyna Panhard e os brasileiros Gurgel BR-800 e Supermíni. O moto boxer floresceu nos aviões leves com os Continental, Frankin, Lycoming.
O motor boxer é mesmo exitoso.
BS
(Atualizado em 9/10/23 às 15h45, inclusão na lista de carros com motor boxer os Alfa Romeo 145/146, Dyna Panhard e Gurgel BR-800 e Supermíni)
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