Recentemente, ao ver um capítulo da novela Boogie Oogie me chamou a atenção a cor dos carros. Em primeiro lugar, preciso explicar que não tenho o hábito de ver novela, pois não tenho paciência para o gênero, da mesma forma como não gosto de musicais – talvez a única exceção seja o belíssimo Ruas de Fogo. Mas como o filho de um amigo trabalha nela resolvi conferir. Continuo sem entender a lógica das novelas, mas como autoentusiasta me surpreendi com um festival de cores. A novela se passa em 1978 e dá-lhe Brasília vermelha, Fusca azul, Fiat 147 amarelo… tem cena de praia que dá para contar uns 12 carros de umas 10 cores diferentes, várias delas quase à prova de daltônicos. Aí comecei a prestar atenção nas ruas hoje e o que encontrei? Branco, prata e preto — diga rápido várias vezes, é quase como dizer três tristes tigres! Exatamente as mesmas cores que tinha na pronta entrega quando fui comprar meu carro, no meio do ano. Qualquer outra teria de esperar.
Resolvi então pesquisar um pouco e, claro, perguntar e perguntar. Como meus caros leitores já sabem, amo carros mas sou bastante pragmática. Quando compro um veículo penso um pouco no valor de revenda, mas não apenas nisso. Não conseguiria andar num carro amarelo durante três anos apenas porque será a cor da estação em 2018. Apenas se eu gostasse de amarelo. Mas também não compraria um carro amarelo detestando a cor apenas porque custa menos do que o sempre valorizado prata. Deu para entender? Nem um extremo nem o outro.
E a história de qual cor suja mais? Bem, aí, tem para todos os gostos. E como sempre digo que os números sob tortura confessam qualquer coisa — e tem sempre gente disposta a pesquisar qualquer coisa, por mais inútil que nos pareça — encontrei uma pesquisa da rede de lojas de carros britânica Halfords que concluiu que carros vermelhos atraem mais cocô de passarinhos do que os de outras cores!
Sempre gostei do fino humor inglês, tipo Monty Python, mas essa é fantástica. Claro que não sei se os passarinhos brasileiros seguem a mesma dieta alimentícia dos britânicos nem se seu aparelho digestivo é igual — afinal, falamos de pássaros tropicais — mas fica aí a dica. Talvez se você estiver pensando em comprar um Aston Martin, vermelho pode não ser uma boa opção… e antes que me esqueça, o verde foi o menos premiado entre as vítimas dos passarinhos britânicos. Mais uma do humor deles, pois imaginei que verde lembraria grama que é o lugar natural onde pensei que os seres alados fariam suas necessidades. Mas pelo visto não entendo nada de ornitologia.
Retoques – Minha mãe é química especializada em cores e já trabalhou em fornecedores da indústria automobilística. Então, nada melhor do que perguntar a ela sobre a questão da sujeira. Segundo minha genitora, com os avanços da tecnologia a história de que o branco fica amarelo não se aplica aos veículos mas sim, a sujeira é mais visível numa superfície branca e menos numa prata, mas não na preta, pois temos de lembrar que nem toda sujeira é preta. Há poeira vermelha, por exemplo, muito visível em carros pretos e menos em carros prata. Mas aquilo que se aplica ao preto serve em geral para cores escuras também. E tem mais, por questões químicas não se deve deixar sujeira, muito menos o corrosivo cocô de passarinho, numa superfície como a de um veículo. O ideal é lavar ou pelo menos remover com pano úmido. Meu funileiro, que não é de concessionária, há tempos consegue qualquer cor de tinta original por isso a teoria de que branco, preto e prata são mais fáceis de retocar também não encontra fundamento. E tem mais. Minha mãe consegue enxergar oito tons de branco – sim, branco. Ou seja, não dá nem para dizer que branco é tudo igual.
Voltando à questão dos anos 70, grande parte dos carros brancos naquela época, não se sabe por que, eram de frota e a cor não era bem vista. Em São Paulo, a administração Luiza Erundina (1989–1993) estabeleceu a cor branca para os táxis comuns, acabando de matar de vez o branco em carros particulares. Ninguém os queria mais, era cor “de táxi”. Mas como é cada vez mais raro as empresas concederem veículo a funcionários e quando o fazem deixam eles escolher a cor (para os mais graduados) ou os fazem andar com carros adesivados com o nome de empresa (para os de serviço), caiu por terra a questão do carro de frota branco. Houve outro fator para o fim da rejeição paulistana ao carro branco: no Salão do Automóvel de 2010 todos os BMW exibidos eram brancos Talvez por isso essa cor tenha virado moda nos últimos anos.
O fato é que os fabricantes expõem carros de cores diferentes nos lançamentos como forma de destacá-los, mas na hora de produzir, dá-lhe branco, prata e preto. Culpa também da rede de concessionárias, segundo me explicaram quando fui comprar o meu. O próprio revendedor quer ficar com um carro o mínimo de tempo possível, por isso prefere os que têm giro mais rápido. Assim, entramos num looping: independentemente da cor que você prefira, quando você for comprar um carro será mais fácil encontrar preto, prata ou branco. E provavelmente você acabará, como eu, comprando uma dessas três cores. E como vendem mais, serão mais pedidas pelas concessionárias na próxima encomenda. Lembram da história dos biscoitos Tostines? Vendem mais porque estão sempre fresquinhos ou estão sempre fresquinhos porque vendem mais? A mesma coisa com os carros. Mas como sobrinha de dois daltônicos, meu conselho é, compre a cor que quiser. Nem todo mundo vai vê-la, mas provavelmente você sim. Então, escolha a que mais lhe agrada e se for vermelho, pare longe de árvores com passarinhos britânicos.
Mudando de assunto: passarinhos britânicos, carros vermelhos, verdes, até eles me lembram que já é final de ano. A todos, um ótimo Natal!
NG