Tem um velho estereótipo que diz que carro é coisa de homem. Bem, cá estou eu há uns 10 anos lutando bravamente contra essa falácia. Não que eu seja a única — até mesmo porque há também muitos homens que estão comigo nesta trincheira. Mas, por algum estranho motivo, no cinema isso parece estar mais arraigado. Se não na qualidade, pelo menos na quantidade.
Por sugestão do meu querido amigo Guilherme Moraes, fã de cinema de todo tipo, frequentador assíduo e ávido consumidor de filmes inclusive em streaming, minha escrevinhação de hoje é sobre mulheres e carros nos filmes. Apesar da ajuda de um grande cinéfilo e conhecedor como poucos, meu amigo Vladimir Batista (uma espécie de “Rubens Ewald Filho” que escreve maravilhosas resenhas de filmes e que sempre leio antes e depois de ver qualquer filme), tive dificuldade em conseguir um número minimamente razoável de exemplos. E vejam, caros leitores, que sequer me apeguei a padrões de qualidade. Nada disso, estava valendo qualquer coisa.
Não faço a menor ideia de qual seja o motivo nem de se isso vai durar muito ainda. Só sei que os três quebramos a cabeça e não saiu mais do que o que segue abaixo:
A ordem, como quase sempre quando escrevo, é aleatória, exceto no primeiro exemplo, que é um ícone dos road movies (filmes de estradas) e o meu favorito de todos os que listei. Diria até que o único que realmente gostei. Os outros são, no máximo, um passatempo. Então, sem mais delongas, vamos à minha seleção:
Thelma & Louise
O filme de 1991 é um clássico feminista. Uma garçonete na casa dos 40 anos entediada e uma jovem dona de casa despirocada se conhecem por puro acaso no Arkansas e resolvem deixar suas vidas para trás e sair numa viagem de carro, um lindo Thunderbird 1966 conversível (foto de abertura), apenas para fugir da rotina entediante em que vivem. Ao parar num bar na estrada, numa tentativa de estupro, acabam matando o homem e fogem de carro tentando chegar ao México. Mas eis que são perseguidas pela polícia. Totalmente road movie, o filme é sobre a amizade improvável de duas mulheres cansadas de suas vidas sem graça, à procura de algo diferente que nem sabem o que seria. O carro está em quase todas as cenas do filme, assim como as estradas, que dão a sensação da liberdade que ambas procuram. O excelente diretor Ridley Scott (que também escreveu o roteiro) e um elenco excepcional, liderado por Susan Sarandon e Geena Davis, além de coadjuvantes de primeiríssima como Brad Pitt, Harvey Keitel e Michael Madsen ajudam a sustentar um grande filme.
Velozes e furiosos
Todos os filmes da franquia são, claro, sobre carros. E seus personagens principais são homens, mas há mulheres com bastante relevância, como a personagem Letty Ortiz, interpretada por Michelle Rodríguez. Ela faz parte da história desde o primeiro filme (já está sendo rodado o décimo-primeiro), há mais de duas décadas. Letty é namorada do personagem principal, Toretto (interpretado por Vin Diesel), uma mulher de temperamento forte, que comanda roubos, briga sempre e dirige como ninguém. Mas ela gosta mesmo de carros potentes também fora das telas e tem (ou teve recentemente, pois às vezes troca) máquinas como um Jaguar E-Type, um Porsche 911 GT3 RS, um Lamborghini Aventador, um Ferrari 488 GTB e um Chevrolet Chevelle SS, claro, com motor V-8. Os vários filmes da franquia tiveram vários diretores, incluindo o próprio Vin Diesel.
Táxi
O filme é de 2004 e é bem tipo Sessão da Tarde. Belle (Queen Latifah) é uma motorista de táxi muito habilidosa e excelente mecânica que, no entanto, tem o sonho de correr na Nascar. Por uma série de acontecimentos, um policial que fica sem carro acaba entrando no táxi dela e se envolvem como vítimas num assalto a banco em que Belle reconhece as motoristas dos carros da fuga — um grupo de lindas mulheres, entre as quais está Giselle Bündchen — é estranho vê-la como vilã, mas dirige esplendidamente. Belle e o policial passam dias tentando pegar o grupo de bandidas-modelos com algumas cenas de perseguição e de habilidade ao volante por parte das dublês. A direção de Luc Besson garante muita movimentação e eu confesso que só me lembro de algumas cenas, todas elas, claro, de carros. Mas como passatempo não compromete. O carro de Belle é um Peugeot 406 e as manobras são muito mais de habilidade no trânsito do que de velocidades excepcionais (foto Taxi Latifah). Já Giselle Bündchen pilota um BMW 760i, pois vilã que é vilã pode correr quanto quiser, não?
Mad Max: A estrada da Fúria
Este filme de 2015, dirigido por George Miller, recebeu 10 indicações ao Oscar e levou 6. É considerado um excelente filme de ação. A história não é lá muito diferente daquelas dos filmes futuristas de ação. O personagem principal Max Rockatansky (pela primeira vez um Mad Max sem Mel Gibson, mas sim com Tom Hardy) se junta a um grupo de rebeldes que atravessa Wasteland numa máquina de guerra pilotada pela imperatriz Furiosa (Charlize Theron). O grupo foge de uma cidade que foi tomada por Immortan Joe que os persegue com seu exército e inicia a guerra na estrada que já vimos nos outros filmes da série. Furiosa pilota um gigantesco War Rig, uma carreta que, na realidade, foi feita sobre o chassi de um caminhão Tatra, mas usando partes da carroceria de diversos carros, entre eles Chevrolet Fleetmaster. A carreta tem dois motores V-8. De diferente no filme, além da lindíssima Charlize, tem a importância que Miller deu às perseguições de estrada tanto que o filme foi concebido como uma perseguição contínua, com poucos diálogos e muitos recursos visuais. O roteiro foi feito depois. Ah, e mais de 80% dos recursos visuais são verdadeiros, isto é, nada de computador, tudo dublês, maquiagem e cenários.
Mudando de assunto: achei muito bonita a homenagem que fizeram Enzo Fittipaldi e Nelsinho Piquet ao Wilsinho Fittipaldi, correndo com os capacetes em homenagem ao grande mestre. Singela e comovente.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.