A produção da 2300 seguiu na fábrica de Xerém, distrito industrial de Duque de Caxias, RJ, de onde também saíram os FNM 2000 e 2150, até meados de 1978. Isso porque, a partir daquele ano, a Fiat adquiriu a Alfa Romeo do Brasil, transferindo a produção do sedã para sua fábrica em Betim. MG, região metropolitana de Belo Horizonte. Alguns dizem que houve uma significativa melhora na qualidade dos 2300 feitos em Betim, onde as instalações eram mais novas e modernas, mas outros afirmam o contrário, inclusive com relação a má qualidade das chapas de aço utilizadas na fábrica mineira, o que resultava em ferrugem precoce nos 2300 a partir de 1978. Hoje tudo isso é história, e o fato é que o Alfa deixou de ser carioca e passou a ser mineiro.
Desde o design até a mecânica, várias coisas mudaram nos Alfa Romeo 2300 mineiros ao longo dos anos seguintes (1979, 1980, 1981 e 1982), que recebiam uma frente retocada, inéditos para-choques escurecidos e detalhes próprios para a versão ti, enquanto com o avanço do Programa Nacional do Álcool (Proálcool) na época, chegavam ao mercado em 1981 os únicos Alfas movidos pelo combustível derivado da cana-de-açúcar do mundo. Nos carros a álcool, eram novos o sistema de ignição transistorizada, inclusive para facilitar as partidas a frio, cabeçote que permitia a maior taxa de compressão (passava de 7,5:1 na versão a gasolina para 7,9:1 nos carros a álcool, aumento bem tímido) e um diferencial com sutil mudança na relação final e funcionamento mais silencioso (um Dana 30 semelhante ao utilizado pelo Opala).
O ritmo de produção seguia quase de forma artesanal: só para que se tenha uma ideia, em 1983 foram feitas mais ou menos 700 unidades entre os Alfa 2300 TI-4 e 2300 Álcool TI (não existia mais a versão B). Em contrapartida, eram sedãs muito completos, com direito a bancos revestidos de couro, ar-condicionado de série, vidros elétricos nas quatro portas, travas elétricas, comandos elétricos dos retrovisores, toca-fitas, tampa do grande porta-malas com abertura elétrica, relógio digital, rodas de liga de alumínio e outros itens. E, como seu concorrente Ford Landau não estava mais em linha, já era do sedã feito em Betim o título de carro mais caro do Brasil, servindo inclusive ao presidente da República.
O projeto do 2300, especialmente a mecânica, no entanto, já estava obsoleto, e o mercado brasileiro já pedia um novo Alfa Romeo mais atual, moderno, e que suprisse melhor a demanda do mercado executivo (um de seus problemas, por exemplo, era não ter a opção de câmbio automático, já exigida nos carros de alto padrão). Além disso, com 10 anos de mercado, o consumidor já queria linhas inéditas e atualizadas, coisas que o sedã de 1974 não tinha mais. Por essas e outras, seus resultados de vendas, que já eram pequenos por conta do restrito segmento de luxo, estavam ainda mais fracos. Lembrando que o mercado automobilístico brasileiro vinha em franco crescimento na época, com boas novidades: Fiat Uno, Chevrolet Monza, Ford Escort, VW Santana, etc.
A Fiat, dona da Alfa Romeo, até acenou com a possibilidade de lançar por aqui o moderno sedã 90, um perfeito sucessor para o 2300, mas as vendas tímidas da categoria não justificavam um enorme investimento de desenvolvimento, engenharia, design e na fábrica mineira (só havia a possibilidade da produção nacional, já que as importações seguiram proibidas até 1990). Depois de mais uma reestilização no 2300 1985, quando ganhou linhas dianteiras menos harmônicas e retoques na traseira, o sedã seguiu em declínio até sair de linha oficialmente em novembro de 1986, após uma produção total ao redor das 30 mil unidades, entre as linhas de Xerém e Betim. Nesses doze anos e meio que ficou no mercado, o Alfa 2300 foi até exportado para alguns países da Europa, como Alemanha, Holanda e Bélgica, onde recebia o sobrenome “TI Rio”. Um sedã com muita história!
DM
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