No mês de agosto do ano passado falei aqui neste espaço sobre a W Academy (F1 Academy), a nova iniciativa de se incentivar uma maior participação de mulheres nas corridas de carros. O objetivo de longo prazo é que haja maior presença feminina na Fórmula 1.
Uma das minhas críticas a este tipo de programa é que ele acaba não tendo muita divulgação e que a televisão não se interessa (não sei quais os motivos) por divulgá-la mais e por transmitir suas provas com mais informações. Por exemplo, poderiam ser feitos micro programas com informações sobre as competidoras e sobre as provas a serem transmitidos antes das corridas e até mesmo junto com as chamadas para as mesmas – isto é, se houvesse.
Eu mesma penei bastante para ver a segunda prova da Arábia Saudita. Num final de semana cheio de disputas em várias categorias — Fórmula 1, 2 e 3, além das outras categorias como Nascar — não foi fácil achar a reprise da corrida, já que ao vivo não achei nos trocentos canais de televisão que tenho. Mesmo na modalidade “por demanda” o vídeo que constava era de outro programa, um de comentários de futebol protagonizado pelo ex-jogador Zico. Isso, apesar de constar como W Academy – GP da Arábia Saudita. Mas como sou persistente, acabei localizando a prova e assistindo. Mas só a segunda prova, a primeira perdi mesmo e só sei que a francesa Doriane Pin ganhou.
A segunda corrida em si não foi muito emocionante, mas ficará marcada por uma excentricidade. E já vou direto ao “spoiler”, portanto, quem não viu e quer ver é melhor parar de ler estas escrevinhações aqui mesmo. A vencedora da prova, Doriane Pin, tomou uma punição de 20 segundos e com isso, além de perder o primeiro lugar, foi parar em nona posição. Abbi Pulling, herdou a vitória e deixou a rodada na liderança da competição. Maya Weug subiu para segundo lugar no pódio, com Nerea Martí em terceiro.
Estranho mesmo foi o motivo: ela não parou nem diminuiu a velocidade depois de receber a bandeira quadriculada e continuou correndo alucinadamente.
Doriane, da equipe Prema, sofreu com uma série de equívocos, mas é óbvio que o principal foi dela mesma, pois era visível a bandeirada, tanto para quem assistia pela televisão quanto para as outras competidoras – tanto que elas pararam logo depois da linha de chegada. Ela alegou que não a viu.
Paralelamente, a equipe não avisou pelo rádio, nem lhe deu os parabéns. Alegou posteriormente problemas no rádio, mas depois da primeira volta pós-bandeirada o rádio funcionou bem e eles conversaram. A escuderia avisou que a corrida havia acabado e que ela deveria parar e ela respondeu. O diálogo foi, textualmente: “Doriane, o que você está fazendo? É a bandeira quadriculada!”. A jovem, então, respondeu com um “você não me avisou”. Mal súbito no rádio? Talvez, poderia até ser, mas ainda tem mais.
Geralmente nas provas de automobilismo a equipe avisa ao piloto quando este abre a última volta. O motivo é simples: é hora de tudo ou nada (caso tenha que acelerar e ultrapassar alguém), ou segurar a posição, poupar pneus, ou qualquer outra que seja a estratégia. Neste caso, não houve esse aviso.
Se a equipe havia detectado um problema no rádio deveria ter usado e velho e utilíssimo sistema de placas, a serem mostradas na linha de chegada, como se fez a vida toda. Esse é sempre o plano B. Era só mostrar a posição que a Doriane ocupava e que era a penúltima volta. Mas nada disso foi feito.
Pessoalmente, sempre acho simpático quando a equipe sai da mureta dos boxes e vai à grade junto da linha de chegada cumprimentar o piloto quando ele está chegando para receber a bandeirada. É um momento de explosão de emoções bonito de se ver. Mas a equipe Prema também não fez isso. A televisão mostrou o pessoal da mureta se cumprimentando entre si e só isso. Ninguém, nenhum mecânico na reta de chegada, nadinha. Da mesma forma, nenhum “Great job. Well done” no rádio. Nadica.
Mas, como naqueles comerciais de televisão de antigamente, aqueles do “ligue já”, isto não é tudo. Depois da bandeirada, nenhuma luz piscante ao longo de todo o circuito, nenhuma bandeira dos fiscais sendo agitada, nada. Parecia o deserto de Gobbi de tão vazio. Não lembro de ter visto um circuito tão sem vida depois de uma prova, em nenhuma categoria.
Ah, a brasileira Aurelia Nobels, sobre quem falei aqui, marcou 6 pontos na primeira corrida e nenhum na segunda. Com isso, ela está em 11º lugar no campeonato.
Uma pena que tenha acontecido tudo isso, pela equipe e, especialmente, por Doriane, que correu e fez tudo certo para merecer o pódio. Todo mundo sabe que esta é uma categoria de entrada e são admissíveis coisas que em outras seriam impensáveis —a mais visível é que há muita mais flexibilidade nos limites de pista e, exceto se há ganho de posição sem que ela seja devolvida, não há punição. Aliás, algumas curvas sequer eram feitas por mais da metade das corredoras. Elas simplesmente cortavam caminho e seguiam em frente. Até aí, normal. O que não se deve ter é irresponsabilidade ou amadorismo, algo que acho a equipe Prema deve ter aprendido depois da prova da Arábia Saudita. E certamente Doriane será mais atenta e menos ingênua na prova de Miami, nos dias 3 a 5 de maio, a segunda do calendário.
Mudando de assunto: desta vez, absolutamente nada a ver com carros, mas há muito tempo não via tantos filmes tão bons concorrendo ao Oscar como este ano. Da mesma forma, exceto pelas comentaristas brasileiras (saudades do Ruben Ewald Filho), a cerimônia em si foi bem melhor do que as dos últimos anos. Entre meus filmes favoritos recomendo: Oppenheimer, Zona de Interesse e Ficção Americana. Ainda falta ver alguns, tem outros que gostei, mas que não foram indicados e não, não curti Barbie.
NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.