FIAT TITANO TRAZ GENÉTICA CHINESA E TOQUE MINEIRO

O universo das vendas tem planetas variados: para vender um produto é preciso descrevê-lo como o consumidor gostaria de vê-lo. Nessa composição entram, entre vários outros conceitos, origem, evolução, destino e a embalagem para presente. A picape Fiat Titano é um exemplo de um alinhamento de propostas e oportunidades: a necessidade de ter um modelo para expandir sua linha num segmento onde a marca italiana nada de braçada como se fosse um autêntico capeletti in brodo.

Para conseguir isso passou a chamar de seu um projeto que a Peugeot jamais poderia encaixar em seu cardápio devido ao fato que, entre nós, a gastronomia da marca tem pouca tradição no segmento em questão. Prova que há um toque mineiro na recém-chegada é o fato de que a equipe brasileira assumiu a coordenação mundial do projeto KP1, resultado de um programa de testes de 2 milhões de quilômetros rodados em território verde-amarelo. Não foram informados em quanto tempo e com quantos veículos — ou horas de computador — esse número foi alcançado.

Na Argentina e em outros mercados no Exterior a Fiat Titano é comercializada como Peugeot Landtrek, versão que desde 2020 foi anunciada como o novo produto da marca francesa em nosso mercado. São praticamente os mesmos produtos: a maior diferença entre ambas é a grade dianteira que ostenta o emblema-logotipo da Fiat em letras garrafais, como convém a um veículo de carga. A brasileira tem 1.314 litros de volume na sua generosa caçamba e pode transportar até 1.020 kg e puxar reboques de até 3.500 kg, desde que equipado com sistemas de freios acoplados ao veículo trator.

Da herança francesa vem o motor diesel HDI Blue DW12, de quatro cilindros em linha, turbo, fabricado na França e que já equipa o Ducato, furgão de carga da Fiat. Esse motor é capaz de produzir 180 cv a 3.500 rpm e 40,8 m·kgf a 2.000 rpm nas versões Volcano (R$ 239,990) e Ranch (R$ 259.990). Esses números chegam às rodas traseiras e, opcionalmente, as dianteiras, através de um câmbio automático de seis marchas, equipamento de série nas duas. O modelo de entrada Endurance (R$ 219.990) sai de fábrica com câmbio manual de seis marchas e tem torque de 37,7 m·kgf a 3.750 rpm.

As linhas da Fiat Volcano podem ser consideradas atuais, apesar da idade do projeto KP1. Seu desenvolvimento foi iniciado em parceria formada pela Peugeot e sua associada chinesa Changan, marca que identificou a primeira versão Kaicheng F70, comercializada chegou ao mercado do país. Seu motor quatro-cilindros em linha varia de 1,9 L a 2,5 L em versões turbo e híbridas. No Brasil, utiliza-se o de 2,2 L com turbocarregador de geometria variável. Os modelos com o emblema do leão são comercializados nos 48 países que formam a África subsaariana, Ásia, México, Ucrânia e América Latina, exceto Brasil. As unidades disponíveis nas concessionárias Fiat são montadas pela Nordex, no Uruguai.

O interior da Titano tem pontos positivos e outros a melhorar. O banco do motorista oferece conforto, transmite segurança e o volante tem boa pegada. Na versão Ranch, topo de linha, as regulagens são elétricas em distância e inclinação do encosto, sendo que o do motorista conta com regulagem de altura. O controle de seleção de tração 4×2/4×4 H e 4×4 L igualmente agrada pela suavidade de funcionamento.

Entre os pontos negativos notados destacam-se a regulagem dos espelhos, a localização do interrupto do pisca-alerta e a porção combo família de porta-objetos. O melhor acerto dos espelhos externos é obtido com o motorista em posição de condução, algo impossível na Titano: como os controles para isso estão posicionados no canto inferior esquerdo do painel, requerem deslocamento do tronco para serem alcançados. Isso torna a operação cansativa e pede melhor solução.

É cada vez mais comum o acionamento do pisca-alerta no centro do painel, dentro do campo de visão linear horizontal do motorista e ao alcance do passageiro. Ao manter o painel de controles herdado da linha Peugeot esse item está localizado na extrema direita inferior do console central e com identificação difícil. A profusão de porta-objetos — 17 no total —, colabora para que um outro seja esquecido neste ou naquele.

Dinamicamente é possível notar que o motor 2,2 não incentiva desempenho mais esportivo. Nada contra: a proposta do veículo é eficiência de carga e reboque e não sua utilização em track days ou eventos similares. O fabricante indica aceleração de 0 a 100 km/h em 12,4 s para as versões Volcano e Ranch e 14,7 s, para a Endurance. A velocidade máxima de todas é de 175 km/h. A estrutura da picape é formada por carroceria de cabine dupla e caçamba montada em chassi de concepção ultraclássica, leia-se longarinas, eixo traseiro rígido com suspensão por feixe de molas de quatro elementos, e dianteira independente por dois braços superpostos.

A julgar pelo roteiro organizado pela Fiat para o test drive de lançamento para a imprensa pode-se concluir que o consumidor-alvo da Titano está fora dos grandes centros: foram cerca de 100 quilômetros em estradas de terra, incluindo trechos de areião e lama leve. A picape se saiu bem nessas condições, respondendo bem às mudanças de direção e tração. A mudança de tração nas rodas traseiras para tração integral é feita com suavidade e rapidez.

A concorrência da Fiat Titano oferece um espectro amplo de opções e conjuntos e inclui Chevrolet S10 (14% do mercado do segmento de Picapes D), Ford Ranger (6%) Mitsubishi  L200 (3%), Nissan Frontier (2%), Toyota Hilux (12%)e VW Amarok (14%).

O apelo maior da Titano para invadir esses domínios será no preços: começam em R$ 219.990 (Endurance), vai a R$ 239.990 (Volcano) e chega a R$ 259.990 (Ranch). Para reforçar esse posicionamento a marca promoveu recentemente uma redução nos modelos Toro, modelo de concepção mais moderna, porém de menores dimensões. A opção de entrada mais próxima é a Ranger diesel (R$ 239.900), seguida pela S10, L200, Frontier e Hilux —todas na faixa de R$ 245.000). A Amarok de entrada é oferecida a R$ 298.430 em tabelas consultadas esta semana.

A concorrência:

WG

• De série  – Não