No ano que vem, o recorde da distância de 33 km, completados em duas rodas num Chevrolet Chevette, pela rodovia dos Bandeirantes entre Jundiaí e a Capita (foto de abertura), vencidos em 30 minutos, vai completar 40 anos, sem ter sido batido até agora.
O piloto Carlos Cunha (foto ao lado, de seu acervo), autor da façanha que consta no livro de recordes do Guinness, está se preparando, aos 70 anos, para tentar bater este seu próprio recorde. Então ele vai aumentar seus “passeios” em duas rodas para mais de 26 mil km. Como eu andei com ele em duas rodas, algumas vezes, acho que posso me creditar 5 km desta prática que assusta um pouco, confesso. Com sua fala, que pouco mudou desde aqueles tempos, Cunha conta que tem treinado semanalmente em pistas fechadas, que existem na região de Campinas e, quem sabe, conseguirei bater meu próprio recorde.
Falando em recordes, ele lembra outro que não foi batido, até hoje, tendo acontecido a bordo de um caminhão, pelo anel externo de Interlagos (Autódromo Municipal José Carlos Pace). Foi em agosto de 1986, cobrindo a distância de 3,5 km. Este também está no Guinness.
Por ocasião do recorde da rodovia dos Bandeirantes, eu estava na Assessoria de Imprensa da GM e cobri o feito do Cunha, muito celebrado pelo pessoal de Marketing da fábrica, já que a única mudança feita no carro foi a colocação de pneus especiais, compactos, que suportaram o trajeto. Todo o resto do Chevette era original, incluindo suspensão e direção normal, sem assistência hidráulica.
No dia seguinte ao escrever o texto e enviar para a Casa da Notícia, agência que o Nereu Leme (olha ele ai de novo), que saíra da Folha de S. Paulo, pedindo que ao imprimi-lo o fizesse inclinado, para distribuir à Imprensa nacional. Nereu estranhou, mas a ideia foi colocada em prática. E, modéstia à parte, deu ótimo retorno, havendo alguns órgãos de imprensa que publicaram como o receberam, inclinado.
Determinação
Ele saiu de casa aos 14 anos, determinado a ter sua própria vida e foi trabalhar em um circo, andando em pernas de pau. Depois do circo, veio o trabalho de manobrista e então, nunca mais deixou o volante
Começou a “carreira sobre duas rodas”, em um Dodge Polara 1800, ao lado de Oswaldo Steves, pela Kaiser Motors, em 1973.
Em 1975 ele sai da Kaiser Motors e, junto com Euclides Pinheiro, cria a equipe na Chevrolet, iniciando suas apresentações com um Opala, mas logo passando para o Chevette. Com seu show, Cunha percorreu o Brasil inteiro, realizando 3.000 shows, que somaram mais de 25.000 km (isso mesmo, mais de 25 mil km em duas rodas).
Carlos diz que nunca criou nada de improviso. Tudo, segundo ele, ela treinado para que não houvesse erros que pudessem, não apenas comprometer o espetáculo, mas, principalmente, a segurança da equipe e do público que comparecia em massa aos shows em várias partes do Brasil, inclusive em vias públicas, devidamente sinalizadas.
Os recordes mundiais
1º Recorde no Guinness Book
Percurso em duas rodas com o Chevette
Data: dezembro de 1985
Local: Rodovia dos Bandeirantes, Jundiaí, São Paulo
Distância percorrida: 33 km
Tempo: 30 minutos
Velocidade média: 60 km/h
2º Recorde no Guinness Book
Recorde de salto com o carro Chevrolet Monza
Data: dezembro de 1985
Distância do salto: 31 metros e 40 centímetros
3º Recorde no Guinness Book
Duas rodas com o Caminhão Chevrolet D11.000
Data: agosto de 1986
Local: Autódromo Municipal José Carlos Pace
Distância Percorrida: 3,5 km
Condições: Circuito no anel externo do autódromo.
4º Recorde no Guinness Book
Chevette em duas rodas
Agosto de 1986
Velocidade em duas rodas: 137 km/h
Curiosidade: Esse Recorde foi alcançada um dia depois do Recorde em duas rodas do caminhão D11.000
5º Recorde no Guinness Book
Recuperando o Record do sueco. Kenneth Ericsson
Data: 12 de junho de 1987
Relatos também de: 218 km e 200 m de distância
Veículo utilizado: Chevette em duas rodas
Obs.: O pneu começou a dechapar no final do percurso, 62 voltas no anel externo de interlagos
6º Recorde no Guinness Book
Recuperando o recorde do sueco.
Data: abril de 1989
Lançamento do Kadett GS
Velocidade em Duas Rodas: 155 km/h
Curiosidade: Um repórter que gravava a cena acabou colidindo com o carro do piloto um dia antes do recorde, levando à substituição do veículo por outro Kadett, que era o mesmo modelo utilizado por Cunha.
Uma queda interrompe a carreira
Em 1993 sofre uma queda e bate a cabeça, após passar mal e é levado ao hospital, onde permanece por 15 dias, com fratura na base do crâneo, perdendo o labirinto do lado direito, perdeu a audição e ficou apenas com um barulho (zumbido) que não teria cura. Os médicos já tinham avisado Cunha que não conseguiria se recuperar e estavam sem opções do que fazer.
Nesse momento Cunha sentiu que não voltaria mais. Porem com muita força de vontade, Cunha buscou na fé sua solução e fez um contrato com Deus. Se ele saísse do hospital e conseguisse voltar a fazer seus shows e ter uma vida normal, ele iria ser testemunho de um milagre em todos os lugares que fosse e iria relatar sobre o acontecido, que só voltou a andar por conta de Deus.
“E Deus cumpriu sua parte do contrato, contrariando todos os médicos” afirma Carlos, que saiu andando do hospital e não de cadeira de rodas.
Recuperação
Após sair do Hospital, Cunha decidiu se recuperar de uma maneira diferente, foi para Ubatuba e começou a andar de moto aquática, esporte que praticava antes do acidente, forçando sua coordenação motora e resistência.
Após 60 dias, Cunha conseguiu ficar de pé e não só no moto aquática, “mas sim na vida”, diz ele. Após conseguir levantar, Cunha foi aos e os médicos mal acreditaram o que havia acontecido.
Após exames, Carlos Cunha voltou a treinar suas manobras radicais. Porem continuou sem sua audição no lado direito e com seu labirinto danificado
01/05/1994 – Volta de Carlos Cunha aos shows
Corridas
Carlos Cunha foi campeão da Stock Car Light de 1998
Concessionária
Ainda no hospital, Cunha assinou o contrato da concessionária Chevrolet em Sumaré, iniciando novo trajeto na vida
Outro susto
No dia 28 de julho, de 2007, um infarto chegou na madrugada, confirmado às 15 horas e exigindo um cateterismo. Mesmo após o infarto, Cunha continuou seus shows mesmo com o stent no coração.
E segue a vida, com o prêmio Medalha do Cavaleiro de São Paulo, da Academia Brasileira de Arte Cultura e História.
CL
(Atualizada em 29/3/24 às 10h50)
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