Em meio à tristeza da pandemia da Covd-19, uma ótima notícia : o álcool que usamos em casa fazia novamente jus ao nome. Voltava a 70% (70 INPM), pondo fim pavoroso hiato de 22 anos com álcool 46 INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas). Comprávamos álcool e só tínhamos 46% do produto. O resto era água!
Por que passou de 70% a 46%? Foi por que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) quis e, pronto. O órgão alegou o álcool 70% “ser altamente inflamável, o que representa um risco potencial (nosso grifo) em espacial para crianças.”, conforme o jornal O Globo diz na matéria postada no seu site dia 5 último.
Risco potencial significa que pode ocorrer, não que ocorreu, certo? Só se a Anvisa vislumbrado outra destinação desse álcool e tratou de torná-lo menos inflamável ou mesmo ininflamável.
Aliás, nunca vi dados sobre acidentes com crianças relacionados a álcool. O interessante é, quando bem criança, eu ter brincado muito com umas lanchinhas movidas por jato de vapor, que funcionavam com álcool para esquentar a água, nunca com supervisão de adultos.
E por que na pandemia o álcool passou a 70%? É porque, diz a matéria citada, pesquisas comprovaram cientificamente que o álcool 70% tem uma melhor ação antibactericida (grifo do jornal), até mesmo em comparação ao álcool isopropílico, com concentração de 99,6%. Isso ocorre porque a presença das moléculas de água facilitam a atuação do etanol no combate a microrganismos ao impedir que ele evapore muito rápido.
Conversando ontem com um médico pediatra amigo sobre a medida absurda, ele contou que quando é feito o corte umbilical, álcool 70% é usado na assepsia da área devido à sua alta capacidade antibactericida.
Fora isso, é um conhecido produto de limpeza altamente eficaz e de baixo custo, facilmente encontrado em farmácias e supermercados. Quem faz churrasco sabe da sua utilidade para iniciar o fogo no carvão.
A máquina a vapor
No final da adolescência conheci um brinquedo de um amigo pelo qual me apaixonei. Era um motor a vapor de verdade, miniatura, claro. Tinha caldeira e tudo mais. Anos depois, coisa de 1985, vi um igual, novo, numa loja em Punta Del Leste, mas o preço era absurdamente alto e não comprei.
Alguns anos depois, 1992, entrei numa grande loja de brinquedos em Londres para levar uma lembrança da viagem para meus dois filhos de 7 e 9 anos, menino e menina, na ordem. O que vejo? A mesma máquina a vapor! Desta vez não deixei passar, comprei-a.
Quando os filhos e minha mulher viram o que eu havia comprado, ficaram emocionados. Mais ainda quando tirei a máquina da caixa e ainda mais quando a pus para funcionar.
Alguns anos depois houve uma Feira de Ciências na escola deles. O menino apresentou a máquina a vapor como pesquisa. Foi o maior sucesso, em especial quando ele “ligava” a máquina.
Ganhamos um neto no mesmo ano da criação do AE, 2008. Como toda criança, não demorou ele se interessar por tudo que tinha rodas, com predileção de rodas sobre trilhos. Eu então colocava filmes de locomotivas a vapor, como ele curtia as rodas acionadas pelas bielas, o vapor saindo dos motores lá na frente e a fumaça da queima do carvão saindo pela chaminé! E o ruído! E o apito!
Um pouco antes da pandemia ele me pediu para pôr a máquina em funcionamento. Saudade talvez. Peguei a caixa guardada no alto de um armário, coloquei a máquina sobre a mesa, enchi a caldeira com água (veio um pequeno funil para isso), coloquei o algodão na bandeja sob a caldeira, pus álcool nele, ateei fogo e, quase nada. Um fogo débil que logo apagava. Era o maldito álcool 46%. A água não esquentou ao ponto de virar vapor. A máquina não funcionou. Frustrante.
Daqui para frente
Diante desse medida absurda da Anvisa, vamos fazer estoque de álcool 70%. Mas um dia ele vai acabar Solução? Fácil.
Meu último número é 35.000 — postos que vendem álcool combustível no Brasil. Esse álcool contém 1% de gasolina para desnaturá-lo e ficar intragável, mas para limpeza dá perfeitamente.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.