Já falei muito nisso e tenho certeza de que não será a última. O fato é que é impossível entender por que ‘montadora” tomou o lugar de fábrica ou fabricante. O que será que levou alguém a achar que automóveis se montam em vez de serem fabricados? Como será que essa pessoa visualiza uma fábrica de automóveis. Seria um vasto número de peças — chegadas ninguém sabe exatamente de onde — sendo montadas como um grande quebra-cabeça? É muito estranho.
O termo é amplamente utilizado por jornalistas que já visitaram fábricas várias vezes, viram os processos de fabricação bem de perto e que a montagem é apenas parte desse processo. Jornalistas dos meios de comunicação mais antigos e importantes, sejam impressos ou digitais, falam em montadora com a maior naturalidade, com a certeza de estarem falando o termo correto.
Tenho visto inúmeros fabricantes se autodenominarem montadora como num evento da Volkswagen publicado aqui em que seu presidente se dirige aos jornalistas diante de um painel que diz “Volkswagen. A ,montadora que mais cresce, investe e acredita no Brasil”. Estive no evento e meus olhos não acreditavam o que eu estava vendo. Fiquei perplexo e fiz a foto.
Até na Anfavea, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, cansei de ver seus diretores se referirem a montadora. Como pode tal aberração acontecer?
O mais incrível é quando falo sobre esse assunto com algum colega jornalista, ele ou ela, chega a ficar irritado. A que ponto esse desvio de verbalização chegou!
O colunista e amigo há décadas Boris Feldman me dá razão — eu não esperaria que fosse diferente — mas diz que se abolir montadora em favor de fabricante ou fábrica os acessos ao exitoso portal dele, o Autopapo, caem por que ninguém coloca fabricantes na ferramenta de busca. De novo, a que ponto chegamos!
Essa já contei mas vale a pena publicar de novo. Em 2006 a Anfavea completou 50 anos de fundação e resolveu publicar uma edição especial sobre a conquista. focando na indústria automobilística brasileira, Como a revista era para ser publicada aqui e e remetida ao exterior, ela foi bilíngue português-inglês.
Quando um exemplar chegou às minhas mãos tive um choque. Nas partes em inglês que falavam das montadoras havia assemblers (montadoras) para todo lado. O pobre do tradutor não teve culpa, apenas fez seu trabalho… Mas isso foi em 2006, se fosse hoje o tradutor teria feito um bom serviço, pois no tradutor do Google hoje a tradução de montadora é automaker e vice-versa.
O mais curioso e intrigantes é montadora se referir exclusivamente a veículos automotores, pois todo o resto — bicicletas, aviões, refrigeradores, lavadoras, etc., é fábrica ou fabricante, Chão de fábrica? Só se for de automóveis…
Mas há esperança. Na coletiva da Anfavea no dia 12 último, o presidente da Renault (foto de abertura), Ricardo Gondo, fez uma exposição sobre a indústria automobilística e o programa Mover (Mobilidade Verde e Inovação) do governo, e no vídeo ele fala em alto e bom som: “A Renault não é uma montadora, é uma fabricante.”
BS
(Atualizada em 22/4/24 às 13h15, foto de abertura estava errada, foi corrigido)
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.