Câmbios manuais e automáticos sempre conviveram em harmonia. não havia polêmica aqui e no resto do mundo. Apreciadores de um ou outro sempre foram atendidos. milhões de consumidores aqui e mundo a fora tinham o poder da escolha.
Aos poucos foi tomando corpo uma “guerra” contra o câmbio manual, chegando ao ponto de um vendedor de concessionária VW perguntar a um cliente conhecido nosso que desejava um Jetta GLI manual, inexistente no Brasil: “O sr. se sujeitaria a trocar marchas num Jetta?”, tentativa em vão de demovê-lo da ideia de querer um Jetta manual para lhe vender um automático.
Nas décadas 1970 e 1980 a indústria tinha à disposição versões do mesmo modelo com os dois tipos de câmbio, mesmo que as versões automáticas não fossem mais que nicho, Só carros grandes como Ford Galaxie e Dodge Dart automáticos tinham melhores números de vendas.
Não me consta que as (poucas) versões de câmbio automático vendidas então tenham causado prejuízo às fabricantes, o grande argumento de hoje para justificar não haver a mesma oferta de manuais — nicho — nas linhas de produtos
Outro argumento infantil que ouço é ser complicado produzir versões distintas quanto a câmbio. Infantil mesmo: em 1984 e 1985, na fábrica Anchieta era produzido o Passat com dois tipos de câmbio manual, o 5-marchas normal e o 4+E. E na fábrica São Caetano do Sul da GM eram fabricados na mesma linha Omega, Vectra. Kadett e Corsa.
Uma “doença” das fabricantes que ainda oferecem câmbio manual é exclui-lo das versões mais luxuosas, quando uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, tipo do pensamento obtuso, Polo TSI Highline, por exemplo, só automático. Quem quiser câmbio manual, que se conforme e compre o simplório Polo TSI (foto de abertura)
Ou seja, câmbio automático passou a ser associado a luxo. Errado.
Quando o brilhante Polo GTS foi lançado em março de 2020 com o motor TSI 250 1,4-L de 150 cv, o “combate ao manual” vinha sua escalada, seu câmbio era exclusivamente automático epicíclico de 6 marchas, inconcebível num carro rotulado Grã-Turismo Sport. Disponível fosse com os dois tipos de câmbio agradaria a gregos e troianos. E isso, como vimos, isso está longe de dar um trabalho danado…
Um argumento que ouço com frequência é um modelo que tenha câmbio manual e automático precisar de homologação individual e que isso pesa para as finanças das fabricantes. Fala-se em R$ 1 milhão o custo de uma homologação. É alto? Sem dúvida, mas longe de ser inviável para as grandes fabricantes.
Há um consenso no mercado de que dada a popularização do câmbio automático nos últimos dez anos, carros assim dotados desvalorizam menos do que os manuais. Só que o “Rei Mercado” parece ignorar a diferença dos custos de reparação entre câmbio automático e manual. ao longo da vida útil de um veículo. Ilusório, portanto.
Há poucos dias noticiamos o início da oferta do Jetta GLI com câmbio manual no mercado americano. O editor Daniel Araújo também nos alertou a respeito. Inexiste indício maior de que expressiva parte dos motoristas prefere câmbio manual — m direito, afinal.
Aqui mesmo no AE, no espaço de comentários, é nítida a apreciação de muitos pelo câmbio manual.. Entretanto, a nossa indústria automobilística encontra-se com ociosidade de 30% a 50% há dez anos, parecendo esquecer que estímulos de vendas incluem atender a todos os anseios do mercado. É um quadro realmente estranho.
Seria esta mais uma maldição que paira sobre o Brasil além da elevada carga tributária dos automóveis e da gasolina que não faz mais jus a esse nome há 27 anos?
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.