Se 30 anos atrás câmbio automático era coisa de “quem não sabia guiar”, hoje as caixas manuais são vistas como algo de “status inferior”: onde já se viu carro de luxo ter câmbio manual?
Essa inflexão se deu de 25 anos para cá, quando os câmbios automáticos ficaram substancialmente melhores, com mais marchas e conversores de torque com estol em rotações mais baixas e com bloqueio.
Quem dirigiu um automático da década de 1980 e mesmo 1990, sabe do que falo. Eram pavorosos. Ruins de arrancada e trabalhavam deixando o motor esgoelando em velocidades de autoestrada. Verdadeiros devoradores de combustível.
Por outro lado, os câmbios manuais também evoluíram exponencialmente: pedais de embreagem pesados é apenas uma lembrança, assistentes de partida em aclive ajudam, e muito, os menos experientes na prova da ladeira. A seleção e engate de marcha estão num nível de precisão impensável duas décadas atrás, à exceção nos Passat a partir de 1977 — eram muito ruins nos três primeiros anos.
A caixa manual é a interação mais perfeita do motorista com o automóvel, e percebendo isso, a Volkswagen relançou o Jetta GLI nos Estados Unidos com essa opção. Veja nesta matéria de fevereiro do ano passado que a VW está muito longe de solitária nisso no mercado americano.
Aqui no Brasil, por sua vez, somos condenados a viver na triste “ditadura automobilística”. Até recentemente era a do preto, prata e branco. Agora, ganhamos a ditadura do automático. É praticamente impossível comprar um veículo novo com câmbio de trocas manuais a não ser que sejam exclusivamente sequenciais como nos câmbios automáticos. Impossível selecionar uma determinada neles.
Sem dúvida, o câmbio automático ajuda quem dirige carro de baixa cilindrada e não tem o conhecimento nem a habilidade para usar a marcha correta para que o motor entregue a potência necessária nas variadas condições de uso. Isso o automático normalmente faz, mas o motorista habilidoso faz melhor com câmbio manual. É por isso que deve haver a escolha.
Temos motores turbo maravilhosos, com ampla faixa de rotações que, com um câmbio longo, proporcionariam um trabalho espetacular. Quem já teve o privilégio (privilégio mesmo) de dirigir o famoso Passat Village “câmbio longo”, sabe do que estou falando.
Infelizmente o câmbio manual esta sendo visto como algo em desuso, obsoleto. Deixou de ser escolha, o automático se tornou obrigatório. Quem sabe a indústria automobilística daqui em algum momento se toque— “se manque”, como se diz popularmente — ao analisar o mercado estadunidense e veja que só terá a ganhar se voltar ao “antigo normal”? Sem preconceitos!
DA