Bom, caros leitores, chegou a vez de falar sobre a Escócia. Em primeiro lugar, por mais que tenha me esforçado nas fotos nenhuma delas faz justiça à beleza deste país. Posso dizer que quase tudo é simplesmente de cair o queixo. Já havia ouvido falar sobre as lindas Terras Altas (as Highlands) e havia visto filmes mas, novamente, nada reflete como a Escócia é deslumbrante. E não apenas as Terras Altas, as médias e as baixa também
Não me refiro apenas aos maravilhosos uísques puro malte que meu marido e eu degustamos com entusiasmo, mas a tudo. Um povo extremamente simpático, bem-humorado e que mora num paraíso. Isto posto, volto agora ao relato da minha viagem de carro pelo Reino Unido, hoje em sua última parte.
Saímos da Irlanda do Norte e pegamos um ferryboat em Belfast que nos levou até à cidade escocesa de Cairnryan. Tudo superfácil e passagens comprados pela internet com enorme antecedência. A travessia é bonita, mas só se vê, basicamente, água durante as quase duas hora e meia de viagem. Só quando a embarcação se aproxima da costa escocesa é que há alguma paisagem.
Nosso barco estava lotado de motociclistas. Tímida como sou, conversei com dois deles no convés e eles me contaram que haviam participado de uma corrida pelas estradas da Irlanda e Irlanda do Norte. Acredito que tenha sido a North West 200, um superevento realizado desde 1929 e que reúne muitíssima gente, mas é suposição minha baseada na data, pois o sotaque dos dois era muito difícil de entender e eu estava mais preocupada em que eles tirassem fotos minhas com minha câmera, que um deles não sabia usar.
Depois de atracarmos, pegamos a A77, uma belíssima estrada que vai quase sempre beirando a costa oeste da Escócia, para poder chegar a uma cidade entre Glasgow e Edinburgo para visitar um querido amigo escocês que partiria no dia seguinte para a Espanha. Era nossa única chance de nos encontrar.
A A77 é simplesmente maravilhosa. Pista simples, sem acostamento, quase sempre tem asfalto muito bom e sinalização corretíssima. Mas estava repleta de interdições por causa de obras o que atrasou nossa chegada à casa do nosso amigo. Como já comentei neste espaço, todo mundo respeita, mesmo quando não há pessoas trabalhando ou fiscalizando. Novamente na M77 entre Cairnryan e Glasgow, perto do castelo de Culzean, encontramos interdições. Como disse, foram muitas naquele dia.
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Como praticamente todas as estradas por onde andamos no Reino Unido, as curvas são superelevadas e feitas no ângulo correto, mesmo nos trechos de pista simples e sem acostamento. Nem preciso dizer o quanto isso melhora a segurança nas estradas, não?
Aliás, tivemos sorte e encontramos várias vezes ao longo das estradas as típicas vaquinhas de franja, um cartão postal das Terras Altas. Aliás, experimentamos também em bife e hambúrguer e a carne é excelente.
Outro fato que nos demorou foi a enorme quantidade de trechos de “velocidade média” com radar. Eu não contava com isso, mas no final tudo deu certo. Por sorte, uma parte considerável da viagem foi por rodovias rápidas, como a M77 que nos levou para perto de Glasgow, para onde voltaríamos definitivamente no final da viagem.
Depois de encontrar nosso amigo John, seguimos rumo a Edinburgo, onde ficaríamos um par de dias. A cidade é lindíssima, mas praticamente não andamos de carro, já que nosso hotel estava superbem localizado. Fizemos tudo a pé e pegamos um Uber quando fomos jantar e degustar uísques na Sociedade do Puro Malte Escocês. Foram 9 whiskies no total, antes e depois do jantar, onde tivemos os privilégios de sócios ù gentileza do querido John, que é membro da Sociedade e nos deu um voucher para que fôssemos “sócios por um dia”. Na volta, andamos até o hotel. Melhor assim.
Edinburgo tem muitas bicicletas e algumas ciclofaixas bem sinalizadas e segregadas do resto dos veículos, mas quando não há (ou mesmo quando há), as bicicletas circulam entre os carros sempre de maneira educada e sinalizando quando vão fazer uma conversão. Bem primeiro mundo.
Depois de um par de dias, com chuva fina e muito nevoeiro especialmente pela manhã, saímos rumo a Aberdeen. Há duas opções de caminho, e preferimos ir pela A90. Em parte da rodovia há duas faixas em cada sentido, com separação entre elas.
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Como aconteceu em outros lugares, encontramos tratores transitando pela rodovia que, como expliquei aqui, é permitido no Reino Unido. Esta foto eu tirei a 8 milhas, ou 12,8 km, de Laurencekirk, quase na metade do caminho entre Edinburgo e Aberdeen.
O nevoeiro aparecia e desaparecia ao longo do caminho. Num determinado trecho era tanto e tão denso que nem desviamos para visitar o castelo de Stoneheaven, que estava na lista de lugares para conhecer. Bem, de qualquer forma fomos a tantos castelos nesta viagem que um a menos faria pouca diferença. Foi uma pena, mas não algo irreparável. Não se enxergava nada, mas assim como desceu, ele se dissipou na chegada a Aberdeen e saiu o sol que felizmente nos acompanhou durante todo o resto da viagem.
Passeamos bastante por Aberdeen, que é muito bonita, mas confesso que para mim o mais original e folclórico foi conhecer a vila de Footdee, que parece saída de um conto de fadas. Chegar lá foi engraçado. Seguimos as indicações de uma escocesa do nosso hotel e fomos de carro até a avenida que margeia as praias de Aberdeen, no mar do Norte. Estacionamos e andamos até o final da avenida. Lá nos deparamos com um muro de menos de um metro de altura. Ao pé do muro, vários sacos de areia. Seguindo as instruções da escocesa, subimos nos sacos de areia e pulamos o muro. Lembro que perguntei umas três vezes para a moça se era isso mesmo que teríamos de fazer. Cheguei mesmo a dizer “nunca fui presa no meu país, não quero ser presa em outro” e algo assim como “tem certeza? Não quero invadir nada,,,”. Depois percebemos que o muro é de contenção da maré, assim como os sacos de areia. A vila é um sonho e seus moradores não poderiam ser mais simpáticos e gentis.
De lá fomos para Speyside, uma área do rio Spye, seguindo pela estrada A96. Speyside é uma das regiões produtoras de um tipo de uísque frutado e adocicado e eu havia marcado visita e degustação numa destilaria. O caminho é lindíssimo e várias vezes dirigimos ao lado do rio.
Já perto da Glenfiddich, nos deparamos com sinalização de “desnível” (“RAMP”). Apesar da quantidade de avisos, o tal desnível era pouquíssimo perceptível e meu marido e eu demos risada de tanto aviso para algo que no Brasil nem teria merecido sequer uma plaquinha de papelão.
Uma curiosidade: em todas as visitas a destilarias nos perguntaram quem estava dirigindo. Assim, eu degustei os uísques no local, mas meu marido recebeu caixinhas com minigarrafinhas com os mesmos uísques da degustação, mas para beber quando não estivesse dirigindo. Achei muito razoável, já que falamos de quatro doses de uísque 25 ml cada uma que tinham entre 50% e mais de 60% de álcool. Antes de chegar à destilaria passamos por uma charmosa estrada que, acho, era a A941. E sempre o asfalto e a sinalização eram impecáveis, mesmo em estradas pouco transitadas.
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De lá seguimos para a lindíssima Inverness e encontramos uma estrada piorzinha, algo muito raro nesta viagem.
No caminho, vimos várias indicações de velocidade diferente para cada pista, dependendo do sentido. Já mencionei isso neste espaço e acho que é uma solução inteligente. Afinal, se você vai adentrar uma vila deve andar mais devagar do que se está saindo dela..
Em Inverness paramos em dois dias diferentes num estacionamento que tinha ponto de recarga para carro elétrico, mas, assim como no resto da viagem, não era muito frequente.
No dia que fomos fazer um passeio de barco pelo Lago Ness (não, não encontramos o monstro Nessie, mas valeu muito a pena), tivemos que esperar uns 5 minutos para a ponte do canal Caledonian abrir para uma embarcação sair e depois fechar novamente para os veículos poderem transitar. E, como primeiro mundo, ninguém buzinou nem se exaltou. Apenas uma pessoa desceu do carro para ver o motivo da retenção.
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De Inverness seguimos para a ilha de Skye, para experimentar os puro maltes da região, que tem sabores mais marítimos. Mas, além dos ótimos uísques, há muita coisa legal para ver em Portree, só que uma delas não conseguimos: a pedra do Old Man of Storr. Dirigimos até Trotternish, nós e uma penca de gente, a estrada estava quase congestionada, mas o nevoeiro não permitiu, por isso comprei um cartão postal para saber como é. Chegamos até bem perto da pedra, ainda na estrada, mas nem subimos a pé.
Nos aproximamos da ilha de Skye curiosos para ver a exótica ponte que soubemos existir.
Aliás, a chegada à ilha é por uma ponte de 700 metros que é um cartão postal do lugar e une Kyle of Lochalsh a Kyleakin.
E dirigir pela ponte ainda proporciona lindas vistas dos lagos. Na ilha de Skye vimos muitas placas apenas em gaélico escocês, mas como em todo o Reino Unido, todo mundo falava inglês e não tivemos problemas.
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Aliás, a ilha estava lotada e jantamos à 17h00 no único lugar que tinha vaga. Já estávamos acostumados a jantar cedo, mas este foi nosso recorde, assim como foi nosso recorde de luz de dia, que durava até depois das 23h00, o que só tornava ainda mais estranho jantar tão cedo. Foram 6 horas de luz de dia, intensa, desde o jantar até finalmente escurecer. Felizmente o hotel de Portree tinha cortina blackout, porque às 4 da manhã já tínhamos luz de pleno dia novamente.
Da incrivelmente bonita ilha de Skye seguimos rumo a Glasgow, pela estrada A82. Cruzamos sei lá quantos lagos e foi aí que vimos algumas das paisagens mais deslumbrantes não apenas do Reino Unido, mas das nossas vidas. A região de Fort William e especialmente Glenncoe são indescritíveis.
Chegando a Glasgow devolvemos o carro e ficamos dois dias a pé. Entre nossos passeios, me chamou a atenção a sinalização de uma rua, na saída de uma ponte, que era transitável apenas para ônibus e bicicletas. A cidade é bonita e tem muita coisa para ver, mas para nossa tristeza foi nossa última parada nesta longa e linda viagem.
Sempre gosto de fazer viagem de carro, mas digo que com certeza ir à Escócia e viajar de carro vale a pena. Mesmo que fosse apenas para rodar pela região de Fort William e Glenncoe, pagar tanto para alugar um carro teria valido a pena — mas na verdade valeu por muitos outros lugares. E sim, antes que me perguntem, comi haggis (o bucho de ovelha recheado com vísceras, servido na forma de um salsichão) e gostei. Aliás, comi em todos os cafés da manhã, junto com outras coisas diferentes. Em Roma, como os romanos — ou melhor, na Escócia, como os escoceses.
Mudando de assunto: juro que não estou obcecada com vídeos fofos de crianças e carros, mas quantos mais vejo, mais me aparecem. Achei este lindo demais. Diz: “Pedi a minha filha de 5 anos que estacionasse o carro dela. Não pensei que ela o fizesse de marcha à ré”.
https://www.instagram.com/shannfitzgerald/reel/C7j4pmzJuu9/
NG
(Atualizada em 21/07/24 às 11:00 am)
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora;