Minha expectativa de dirigir o Kardian manual, lançado esta semana, era acompanhada de ansiedade. Ocorre que, a exemplo de gato escaldado ter medo de água fria, eu temia que por ser versão de entrada da linha Kardian,, a Evolution, eu ter o mesmo choque quando conheci o Polo TSI manual e constatei não haver conta-giros nele. Para meu alívio, o Kardian Evolution tem o fundamental instrumento. E, melhor, tem controle de velocidade de cruzeiro, em geral (no Brasil) ser raro esse controle associado a câmbio manual.
No lançamento do Kardian, em março, eram três versões (Evolution, techno e Première Edition), todas com câmbio robotizado de duas embreagens em banho de óleo. A Evolution recebeu o câmbio manual JX22 que é fabricado em Aveiro, Portugal pela Horse Powertrain Limited, fabricante da Renault em sociedade com a chinesa Geely e a petroleira árabe Aramco com com participação acionária de, respectivamente, 45%, 45% e 10%. A empresa foi formada recentemente, em 31 de maio último.
O câmbio JX22 é de conceito moderno visando eficiência e traz a comodidade da ré ser também sincronizada que elimina por completo as conhecidas arranhadas quando se engata essa marcha rapidamente.
A única diferença entre as duas versões Evolution é o câmbio. Elas são idênticas em conteúdo de equipamentos e teoricamente nada impede que a Renault lance um versão Techno com câmbio manual.
Câmbio manual é um 5+E
Além de seu manejo de classe mundial, típico de Volkswagen, Honda e Hyundai, com seleção precisa e engates leves e curtos, esse câmbio manual foi calculado para ser um 5+E marchas extremo. A velocidade máxima de 180 km/h é atingida em 5ª marcha com o motor a 5.000 rpm, sua rotação de potência máxima.(precisamente a 5.043 rpm).
No padrão do AE de informar a rotação em velocidade de autoestrada, 120 km/h (velocidade verdadeira, não a indicada pelo velocímetro, o motor está a exatas 2.530 rotações por minuto em 6ª. Mesmo em 5ª marcha, a essa velocidade, a rotação é 3.362 rpm.
Isso me fez lembrar de um fato que já contei aqui, vir de Córdoba, Argentina em 4ª, sem usar a 5ª uma única vez, pois eu precisava chegar a São Paulo o mais rapidamente possível. O câmbio do Santana da VW que eu usava era 4+E;
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Analogamente, o motorista de um Kardian manual pode fazer o mesmo. numa situação que exija máximo desempenho. Ou seja, o câmbio desse franco-brasileiro é realmente um dos seus pontos altos.
Certamente haverá reclamações de que a sexta marcha é “fraca”, “não serve para nada”, por não entender o conceito “n+E”. Inclusive, que estando em sexta e precisar de potência para uma ultrapassagem, de nada adiantar reduzir para 5ª, é necessário reduzir para 4ª marcha,
O conceito “n+E” puro, como nesta Kardian, é o carro ter duas últimas marchas, uma para máximo desempenho, outra para diminuir rotação na estrada. Tanto que quando a Volkswagen lançou carros 4+E na Alemanha, começo dos anos 1980, no diagrama das marchas, o “H”, a última marcha era marcada como “E” em vez de “5”. Isso nos câmbios de 5 marchas, naturalmente.
O escalonamento das marchas deste Kardian permite afirmar que na cidade, mesmo nas vias expressas de São Paulo (marginais dos rios) pode-se esquecer a sexta marcha. Ela se mostra útil em rodovias de topografia plana ou com subidas suaves como de até 2%, o
O gráfico acima tem uma série de cálculos (que não aparecem aqui) que permitem, por exemplo, quantificar em números o que o gráfico mostra, como as quedas de rotação em cada troca de marchas ascendente. Tocando de marcha a 5.500 rpm, 10% acima da rotação de potência máxima, corte “limpo” é a 6.300 rpm) ao troca de 1ª para 2ª a rotação cai para 3.228 rpm; de 2ª para 3ª, 3.555 rpm; de 3ª para 4ª, 3.805 rpm; de 4ª para 5ª, 3.998 rpm; e de 5ª para 6ª, 4.140 rpm.
A planilha oculta permite também saber o alcance de cada marcha levando o motor a 5.500 rpm: 1ª 37 km/h, 2ª 64 km/h, 3ª 98km/h, 4ª 142 km/h e 5ª 180 km/h, messe caso a 5.043 rpm como citado no começo.
A sexta mostra seu valor em rodovias de topografia plana ou com algumas gradientes pequenas como até 2%, quando se obtém o menor consumo de combustível.
O Kardian como um todo
O Renault já foi amplamente descrito e dirigido pelo Gerson Borini no lançamento em março e por mim no teste publicado no mês seguinte. É um carro bem pensado, que logo agrada. Sua sua suspensão é bem controlada sem nenhum desconforto, são 209 mm distantes do solo, a direção eletroassistida é primorosa na indexação à velocidade e centragem.. São 3,2 voltas do volante de 365 mm de diâmetro entre batentes não por a direção ser lenta, mas porque as rodas esterçam bastante, 10,5 metros de diâmetro mínimo de giro, excelente para o entre-eixos de 2.604 mm.
Seu motor turbo de 1 litro é suave, pouco emite o ruído irregular típico dos tricilindros, entrega 120/125 cv e é muito elástico, índice 2,70 com gasolina e 2,78 com álcool. Acelera de 0 a 100 km/h em 11,4/11 segundos. Pesa 1.163 kg, 3 kg menos que o de câmbio automático.
Seu preço neste “novo normal pós-pandemia” é convidativo, R$ 106.990, respeitáveis R$ 11.100 menos que o Kardian Evolution de dois pedais. Para quem não tem preguiça de usar a embreagem e de movimentar uma alavanca, não está nem aí se for chamado de pobre por não ter um carro automático, e tem o puro prazer de dirigir (obrigado, BMW), há bem pouco em que pensar.
BS
FICHA TÉCNICA DO RENAULT KARDIAN EVOLUTION CÂMBIO MANUAL | |
MOTOR | |
Designação | Turbo TCe |
Descrição | 3 cilindros, dianteiro, transversal, 999 cm³, bloco e cabeçote de alumínio, duplo comando de válvulas no cabeçote, corrente, variação de fase na admissão e escapamento, 4 válvulas por cilindro, atuação indireta por alavancas-dedo roletadas apoiadas em fulcros hidáulicos, injeção direta sob pressão de 200 bar, turbocarregador com interresfriador ar-ar, pressão de admissão 1,5 bar relativa, válvula de alívio elétrica, volante de duas massas, flex |
Cilindrada (cm³) | 999 |
Diâmetro dos cilindros e curso dos pistões )mm) | 72,2 x 81,3 |
Potência máxima (cv/rpm, G/A) | 120/125 / 5.000 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 20,4 / 2.000 // 22,4 / 2.250 |
comprimento da biela / relação r/l | n.d. |
Taxa de compressão (:1) | 11,0 |
Densidade de potência (cv/L, G/A)) | 120,1 / 125,1 |
Densidade de torque (m·kgf/L, G/A) | 20,4 / 22,4 |
CÂMBIO | |
Fabricante/modelo | Horse |
Tipo | Transeixo com câmbio nanual de 6 marchas e ré, todas sincronizadas, tração dianteira |
Conexão motor-transeixo | Embreagem monodosco a seco. comando hidráulico |
Relações das marchas (:1) | 1ª 3,909; 2ª 2,294; 3ª 1,483; 4ª 1,026; 5ª 0,744; 6ª 0,560; ré 4,395 |
Relação do diferencial (:1) | 4,500 |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente McPherson, braço de controle triangular, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo de torção, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem integrada ao eixo. |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade |
Relação de direção (:1) | n.d |
Voltas entre batentes | 3,2 |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 10,5 |
Diâmetro do volante de direção (mm) | 365 |
FREIOS | |
Atuação | Hidráulica com dois circuitos em diagonal, ABS e auxílio em frenagens de emergência |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado / 258, piça flutuante de um pistão |
Traseiros (Ø mm) | Tambor aletado / 203 |
De estacionamento | Mecânico a cabo |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Aço, 6J x16 |
Pneus | 205/60 R16H (Goodyear EcoContact 6 |
Estepe | Temporário, roda de aço, pneu 185/65 R15H |
CONSTRUÇÃO | Monobloco de aço aço, suve, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 4.119 |
Largura sem/com retrovisores | 1.747 / 2.025 |
Altura sem/com barras no teto | 1.544 / 1.596 |
Entre-eixos | 2.604 |
Bitola dianteira/traseira | 1.517 / 1.509 |
Distância mínima do solo | 209 |
Balanço dianteiro/traseiro | |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto (Cx) | 0,38 |
Área frontal (m²) | 2,26 |
Área frontal corrigida (m²) | 0,85 |
ÂNGULOS (º) | |
Entrada | 20 |
Saída | 36 |
Transposição de rampa | 12 |
PESOS E CAPACIDADES | |
Peso em ordem de marcha (kg) | 1.163 |
Capacidade de carga (kg) | 443 |
Porta-malas (L, VDA) | 358 (1.304 com banco traseiro rebatido) |
Tanque de combustível (L) | 50 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (km/L, Inmetro) | |
Urbano (G/A) | 12,3 / 8,4 |
Rodoviário (G/A) | 14,0 / 9,7 |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h (s, G/A) | 11,4 / 11,0 |
Velocidade máxima (km/h, G/A) | 180 (limitada) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
V/1000 em 6ª (km/h) | 47,4 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 2.530 |
Vel. máx. em cada marcha a 5.500 rpm (km/h) | 1ª 37; 2ª 64;3ª 99; 4ª 142; 5ª 180 (a 5.043 rpm) |
MANUTENÇÃO | |
Revisões (km/tempo) | 10.000/ 1 ano |
Troca do óleo do motor (km/tempo) | 10.000/ 1 ano |
Troca de óleo do câmbio (km/tempo) | Não troca, vida-toda |