No último domingo Max Verstappen deu um passo tão importante quanto marcante para garantir seu quarto e consecutivo título de Campeão Mundial de F-1. A combinação de sua vitória magistral, os caprichos da meteorologia, acidentes e uma exibição apagada de Lando Norris compuseram um cenário onde o holandês brilhou intensamente num domingo nublado e ensopado. Destaque ainda para a equipe Alpine, que colocou Esteban Ocon e Pierre Gasly no pódio no Autódromo José Carlos Pace. O campeonato prossegue dentro de três semanas em Las Vegas, EUA, quando o resultado da temporada poderá ser decidido: se Verstappen marcar três pontos a mais que Norris o rival ficará sem chances de superá-lo nos dois GPs finais da temporada: Qatar (1/12) e Abu Dhabi (8/12).
A etapa brasileira, atualmente denominada GP de São Paulo, teve recorde de público e uma boa dose de emoções e decepções, consequência de fatores dos mais variados. Em 2022 Verstappen garantiu o título no Japão, em 9 de outubro) e em 2023 na corrida Sprint do Qatar (7/10), o que certamente afetou o interesse do público pelo evento. Nesta temporada o renascimento da McLaren como equipe de ponta e a chance de Lando Norris chegar ao título de pilotos catalisaram a atenção dos entusiastas e de outros nem tanto.
Mais de 290 mil pessoas compareceram em Interlagos entre sexta-feira e domingo, sendo que na semana da prova houve um aumento de 16,3% na emissão de passagens aéreas em voos internacionais para São Paulo, segundo dados da Embratur. Ocorre que esse crescimento evidenciou situações positivas e negativas. No primeiro caso estão o melhor aproveitamento da área do autódromo ao oferecer chances de acompanhar a prova na fan zone no interior do espaço entre as curvas Bico do Pato, Junção e Subida do Café e também junto ao kartódromo.
Ocorre que o acesso do público a essas e outras arquibancadas apresentou falhas gritantes: filas mal organizadas geraram confusão e invasões e alguns torcedores desistirem de entrar no autódromo apesar de várias horas de espera para abertura dos portões. Problemas dessa natureza são imperdoáveis para um evento de ingresso caro. A entrada e saída do estacionamento interno igualmente foi caótica na sexta e sábado, tanto no lado interno quanto externo do circuito. A construção de um novo túnel de acesso, próximo ao kartódromo, deverá contribuir para solucionar tal situação.
Dentro da pista o recapeamento dos 4.309 metros do traçado paulistano não garantiu um piso modelo: foram notadas ondulações em alguns pontos e as bordas de vários trechos estavam desniveladas ou com piso extremamente irregular. Em resumo, o retrato do descaso com que o dinheiro dos contribuintes é tratado pelas empreiteiras contratadas pelo poder público. Interlagos é um circuito antigo, inaugurado em maio de 1940 e, portanto, é injusto compará-lo às pistas construídas nos últimos 15 anos e a partir do zero. Criar soluções para isso é mais que uma obrigação: seria a melhor forma de divulgar a capacidade brasileira de organizar eventos de primeira grandeza.
Boa parte desses problemas foi ofuscada pela atuação antológica de Max Verstappen e sua equipe: ele cumpriu sua parte na pista e a escuderia dos energéticos soube explorar as oportunidades que acidentes e a interrupção da prova causada pela batida do argentino Franco Colapinto. A Red Bull utiliza um sofisticado programa de computador desenvolvido pela Oracle que avalia todas as variantes possíveis durante a prova e indica a solução mais apropriada para tomar decisões volta após volta. O fato de estar disputando títulos nas últimas 15 temporadas contribui para fazer melhor uso dessa ferramenta. Na McLaren, que somente voltou a disputar vitórias há dois anos, ainda se notam reações menos seguras e menos eficientes. falhas que se tornam menor a cada largada.
Em um outro plano, a equipe Alpine conseguiu um resultado ainda melhor que a vitória de Esteban Ocon no GP da Hungria de 2021. Em Interlagos ele liderou da 29ª até a 42ª passagem, quando foi ultrapassado por Verstappen na freada do S do Senna. Quem esperava um revival do episódio entre ambos no GP de 2018 se frustrou: o francês não ofereceu resistência e só cuidou de completar a prova no segundo lugar, à frente de seu companheiro de equipe.
O resultado pode entrar para a história como o melhor de Ocon no time francês: no ano que vem ele defenderá a equipe Haas, ao lado de Oliver Bearman, um dos expoentes da nova geração de pilotos, onde também estão incluídos Franco Colapinto e Liam Lawson. O brasileiro Gabriel Bortoleto poderá ser incluído nesse grupo: nos próximos dias o banco BRB, seu principal patrocinador, espera anunciar um acordo que garanta o piloto paulista na temporada de 2025. A Sauber — hoje controlada pela Audi —, é o endereço provável de Bortoleto para o ano que vem.
O resultado completo do GP de São Paulo você encontra aqui.
WG
A coluna “Conversa de pista” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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