Pelos comentários tanto na matéria quanto no vídeo do Subaru Forester ficou claro que a marca Subaru é muito admirada e reconhecida, principalmente por quem tem algum modelo da marca. Eu considero a Subaru uma das jóias da indústria automobilística. Nascida em 1953, ela produz ao redor de 1 milhão de unidades por ano e portanto, quando comparada com as marcas líderes que produzem entre 9 e 7 milhões de unidades por ano, podemos considerá-la pequena. Mais da metade do volume produzido é vendido nos Estados Unidos, onde a Subaru foi introduzida no final da década de 60pelo visionário Malcolm Bricklin, também criador do Bricklin SV-1. E por ser uma marca pequena, a Subaru consegue manter o foco na qualidade japonesa, nos motores boxer e na tração integral simétrica como seus pontos fortes e comuns a todos os modelos (ou quase, pois há o BRZ e houve o Tribeca). O que a ajuda bastante é ser parte de um dos mais sólidos conglomerados de empresas do mundo, o grupo Fuji Heavy Industries, que lhe garante uma certa segurança nos períodos de dificuldade de mercado. A Toyota tem participação nesse grupo. Daí a parceria no desenvolvimento do Subaru BRZ e Toyota GT86.
O nome Subaru quer dizer Plêiade em japonês, o nome de um grupo de estrelas na constelação de Touro, daí o logo da marca com as estrelas no fundo azul escuro do espaço. E as estrelas representam as empresas que formam o grupo Fuji.
Quando estive na Subaru para pegar o Forester, o XV Crosstrek estava estacionado bem ao lado e eu pensei comigo mesmo que gostaria mais de testar o XV que o próprio Forester. De cara o achei bem interessante na proposta, um aventureiro, de tamanho médio, com uma capacidade maior para aventuras além do campo minado das cidades. Já logo solicitei o XV para assim que possível. Mas para a minha grata surpresa, e para eu continuar insistindo que não devemos fazer pré-julgamentos, o Forester se mostrou um dos carros mais interessantes que testei. E não é à toa que dos 1.126 Subarus vendidos no Brasil no ano passado, 900 foram Forester.
O XV até o ano passado ainda usava o nome Impreza XV, que nas gerações anteriores era Outback Sport. É claro que WRX ou STi são as nossas versões preferidas! Mas para um uso familiar o XV atende bem. Fui buscar o carro com minha esposa e de cara ela gostou do visual. A Subaru conseguiu algo interessante, pois o XV não é todo empetecado. Tem pára-choques um pouco mais robustos, mas sem exageros, molduras nos pára-lamas, barras no teto e rodas com desenho exclusivo. As rodas são o elemento mais chamativo do carro. Eu gostei e entendo bem como elas se integram ao desenho da carroceria, mas suspeito que alguns mais conservadores podem torcer o nariz numa primeira olhada. Rodas pretas com partes polidas não agradam à maioria. Soma-se a esse visual os 220 mm de atura do solo e temos um aventureiro com personalidade, carronalidade. Minha esposa é apaixonada pelo MINI Countryman. Eu joguei um verde (na verdade nem tanto, pois de fato eu gostei muito do visual do XV) e insinuei que esse Subaru é tão legal quanto o MINI. Ela concordou sem muito esforço.
O interior é extremamente bem construído e elegante. Mas falta um pouco de emoção, característica da maioria dos japoneses e alguns alemães (VW), onde a racionalidade é mais importante. Mas é bem agradável e bem completo com uma ampla lista de equipamentos. O único faltante é o sistema de navegação. Mas cada vez mais uso o Waze com suporte para o telefone fixado por ventosa, mesmo em carros com navegador de fábrica. Como os comandos não são padronizados e o método para inserir endereços é arcaico, eu prefiro muito mais usar o Waze. O sistema de som, que não é premium, é excelente com uma boa conectividade. Minha filha adorou, e eu também. Outro dia, ao pegarmos a Audi RS 4, ela, a filhota, ficou extremamente decepcionada pela falta de um simples USB. Nós gostamos de USB porque é mais fácil de fazer a conexão e economizamos bateria do celular. Ponto também para o teto solar de série.
Depois de experimentar o fantástico 2-litros turbo (FA20) e a fantástica CVT Lineartronic no Forester, eu tinha uma expectativa alta sobre o XV mesmo ele usando o FB20 sem turbo e com injeção no duto. O boxer de quatro cilindros do XV gera 150 cv a 6.200 rpm e tem torque máximo de 20 m.kgf a 4.200 rpm. Ou seja, ele gosta de rotação. Cheguei até a pensar que 150 cv é pouco, mas ando meio mal acostumado com os últimos turbos que tenho testado e voltei para a realidade. Saí com o carro e logo constatei, mais uma vez, que nem todas as CVTs são espertas.
O XV pesa 1.415 kg e tem um motor que gosta de rotação, mas uma caixa totalmente voltada para o conforto. Eu ainda gostaria de conversar em profundidade com um engenheiro especialista em CVT para entender como e por que algumas dessas caixas são brilhantes e outras nem tanto. Se considerarmos que as CVTs existem principalmente para conter o consumo, ou ter um melhor consumo do que as automáticas epicíclicas, deve haver um ponto onde para melhorar o desempenho há um comprometimento do consumo. E a menos que o motor seja o estado da arte em consumo, a solução recai sobre a caixa. De todo o jeito, eu tenho certeza que o XV é assim porque os japoneses chegaram ao melhor equilíbrio possível. A aceleração de zero a 100 km/h diz um pouco sobre o desempenho, pois leva 10,7 segundos. Mas tudo funciona com muita suavidade e precisão.
No XV, diferentemente do Forester, não há modo sport. Apenas modo manual, colocando a alavanca para o lado esquerdo, que simula 6 marchas. E o curioso é que não se pode trocar as marchas pela alavanca nesse modo, apenas pelas borboletas. E pela primeira vez eu vi um carro sem kickdown mesmo no modo manual. Ou seja, quando em manual, não importa como você utilize o pé direito, a caixa nunca reduz. Isso me fez passar um sustinho ao pegar um acesso para uma via expressa depois de um longo tempo em sexta marcha. Precisei ganhar velocidade para acompanhar o tráfego e pisei fundo. Nada de resposta. Demorei um pouco para me lembrar que estava no modo manual e reduzir as marchas pela borboleta. E curiosamente, no outro extremo, quando atingimos a rotação de corte as marcha passam automaticamente.
Outra curiosidade é que há uma luz azul que fica acessa até o motor atingir a temperatura ideal de trabalho. Enquanto essa luz estiver acessa não é possível atingir altas rotações. A Fielder que eu tive era assim também, mas não tinha essa luz. Descobri porque logo na esquina de casa tenho que virar uma avenida movimentada e para entrar no fluxo tenho que acelerar forte, com o motor ainda frio. Mas com a Fielder (e Corolla) as marchas passavam a cerca de 4.000 rpm. O Bob lembrou que o Galaxie/Landau tinha essa luz também. Hoje em dia é um preciosismo.
A capacidade de adaptação do ser humano talvez seja uma de suas maiores virtudes. Depois de vários dias com o XV, incluindo o uso em cidade, estrada e estradas secundárias, eu me adaptei a essa caixa e aprendi a extrair o máximo possível. A única coisa que eu realmente não gosto muito é o efeito elástico, de borracha, inexistente no Forester. O consumo médio que obtive em todos os usos e situações, inclusive no fora-de-estrada, foi de 7,4 km/l de gasolina. Achei bom.
Durante minhas andanças resolvi levar o aventureiro para a terra e ver como o sistema de tração integral trabalha. Ainda que as propagandas do XV enfatizem chuva e neve, se eu tivesse um desses eu iria querer aproveitar bem a sua altura do solo e a tração 4×4 permanente para chegar a lugares interessantes.
Atrás de Pirapora do Bom Jesus existe um morro de onde há saltos de paraglide e como eu estava na região resolvi chegar lá. E claro, procurei o caminho mais difícil. De cara coloquei o XV numa condição bem desconfortável, em uma grande inclinação com duas rodas cruzadas praticamente no ar e com quase todo o peso do carro em apenas uma das rodas traseiras. Ou seja, deixei o sistema de tração maluco, tentando distribuir a tração de um eixo para o outro e de um lado para o outro ao mesmo tempo. Foi bacana ver o sistema trabalhando. A condição era muito severa e tive que pegar um pequeno embalo para sair desse enrosco. Mas palmas para o XV, eu adorei o seu comportamento e valentia. Além de não ter raspado os pára-choques ou assoalho nenhuma vez. Dá para ver bem no vídeo.
Segui ainda mais por essa trilha mas cheguei a um ponto onde até um 4×4 off-road teria dificuldade de passar. Tive que recuar. Peguei então um estrada de terra mais normal e completamente vazia onde pude abusar um pouco da velocidade em curvas, inclusive forçando escapadas. E aí o sistema é brilhante transmitindo muita segurança. A excelente altura do solo e o ajuste de suspensão contribuem para uma experiência muito confortável, mesmo em estradas bem mais esburacadas. A suspensão merece também muitos elogios. McPherson na frente e duplo A na traseira, transmite confiança também em rodovias, com quase nada de rolagem. Nem parece que o carro tem suspensão elevada. E a calibração da direção com assistência elétrica também é perfeita.
Ao final de uma semana eu posso dizer que o XV Crosstrek me cativou pelo conjunto sólido, seguro e atraente. Entre o Forester XT turbo e o XV Crosstrek aspirado eu gostaria mesmo é de um XV turbo com a caixa do Forester. Possivelmente nessa configuração ganharia o selo do PK. Pelos R$ 99.900 cobrados pelo aventureiro podemos encontrar uma miríade de coisas interessantes. Mas acho que nenhuma delas com uma combinação tão única de qualidade,versatilidade, segurança e carronalidade.
Gostei: visual, segurança ativa e versatilidade.
Não gostei: ajuste da caixa CVT
FICHA TÉCNICA SUBARU XV CROSSTREK | |
CARROCERIA | |
Tipo | Utilitário esporte, monobloco em aço, 4 portas |
Lugares | 5 |
MOTOR | |
Designação | Subaru FB20B |
Configuração | 4-cilindros horizontais opostos, longitudinal |
Cilindrada/diâmetro e curso | 1.998 cm³ / 84 x 90 mm |
Combustível | Gasolina |
Potência máxima | 150 cv a 6.200 rpm |
Torque máximo | 20 m·kgf a 4.200 rpm |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Aspiração | Atmosférica |
Material do bloco/cabeçote | Alumínio/alumínio |
Trem de válvulas | Duplo comando, acionamento por corrente, 4 válvulas por cilindro |
Variador de fase | Admissão e escapamento |
Formação de mistura | Injeção no duto |
SISTEMA ELÉTRICO | |
Tensão | 12 volts |
Bateria | nd |
Gerador | nd |
TRANSMISSÃO | |
Câmbio | Automático CVT, conversor de torque com bloqueio, 6 marchas virtuais |
Relações das marchas | De 3,581:1 a 0,570:1; ré 3,667:1, faixa 6,282:1 |
Relação de diferencial | 3,7:1 |
Tração | Integral |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, McPherson, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra estabilizadora |
Traseira | Independente, braços triangulares, mola helicoidal e barra estabilizadora |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira com assistência elétrica variável |
Relação de direção | nd |
Voltas entre batentes | nd |
Diâmetro do volante | nd |
Diâmetro mínimo de curva | 10,6 m |
FREIOS | |
Dianteiros | A disco ventilado |
Traseiros | A disco |
Controle | ABS e EBD |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Alumínio, 7Jx17 |
Pneus | 225/55R17 |
AERODINÂMICA | |
Coeficiente de arrasto aerodinâmico | nd |
Área frontal | nd |
Área frontal corrigida | nd |
CAPACIDADES | |
Porta-malas | n.d. /1.200 litros |
Tanque de combustível | 60 litros |
PESOS | |
Em ordem de marcha | 1.415 kg |
Distribuição dianteira/traseira | nd |
Carga útil | nd |
DIMENSÕES | |
Comprimento | 4.450 mm |
Largura sem espelhos | 1.780 mm |
Altura | 1.615 mm |
Distância entre eixos | 2.635 mm |
Bitola dianteira/traseira | 1.525/1.525 mm |
Distância mínima do solo | 220 mm |
DESEMPENHO | |
Aceleração 0-100 km/h | 10,7 s |
Velocidade máxima | 183 km/h |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL (ECE R101-01) | |
Cidade | 9,8 km/l (10,5 l/100 km) |
Estrada | 14,4 km/l (6,5 l/100 km) |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 em Drive | 59 km/h |
Rotação a 120 km/h, em Drive | 2.000 rpm |
Rotação à vel. máxima | nd |