Quando a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) determinou em 1 de abril de 2009, por meio da resolução nº 9, que o álcool para veículos automotores à venda nos postos passasse a se denominar etanol, tive um choque. A agência estabeleceu 180 dias para que todas as bombas dos postos do país tivessem nelas escrito etanol no lugar de álcool, como sempre fora até então (foto de abertura), o que ocorreu em 11 de setembro do mesmo ano. Choque não pelo nome em si, já que álcool e etanol são exatamente a mesma coisa, mas pelo motivo da mudança, reivindicação da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) para “internacionalizar” seu produto.
Houve outro motivo, que não sei sé é verdade, erradicar da mente das pessoas a palavra álcool por ela ser associada ao alcoolismo, vício que tantos males sabidamente causa. Se foi mesmo isso, tratou-se de uma monumental estupidez.
Quanto a internacionalização, uma tremenda bobagem ou então falta do que fazer. O simples fato de nas negociações de venda de álcool para mercados mundiais a língua usada ser normalmente o inglês, em que etanol é ethanol, mostra que a mudança era desnecessária.
Sem esquecer que o nome álcool não deixa a menor dúvida de que produto é. Compra-se álcool nos supermercados, nunca etanol. Muito menos etanol em gel.
Espantou-me também a imediata e maciça adesão dos meios de comunicação ao “novo” nome do álcool, como se isso fosse fazer alguma diferença na comunicação em si e para os proprietários de automóveis ao adentrarem um posto de combustíveis, Até o AE caiu nessa esparrela e passou a utilizar etanol nos textos, mas 13 meses depois demos um basta e voltamos ao nome original. Desde então o termo etanol está banido aqui. Editores e colunistas do AE são instruídos a não utilizarem determinados termo, etanol é um deles. Quando “desobedecem” ´é feita a troca antes da publicação, como na coluna do Boris Feldman ontem.
Outra questão que me intrigou com s mudança foi o fato não termos metanol vendido nos postos como tem (ou já teve) nos EUA, portanto sem necessidade de mudar para etanol para diferenciar esses dois álcoois,
Já contei aqui mas vale repetir. Quando em julho de 2019 a Fiat convidou a imprensa a ir á fábrica em Betim para a comemoração de 40 anos do início de produção do primeiro carro movido a álcool fabricado em série no mundo, o Fiat 147 1300, houve um problema sui generis: o primeiro 147 a álcool, chassi 000001, pertencente ao Ministério da Fazenda e cedido à Fiat para a ocasião, tem uma faixa na parte superior do para-brisa onde se lê, em letras garrafais 100% A ÁLCOOL, e na tampa traseira, “Movido a álcool”. Os executivos da Fiat se viram em apuros ao falar ora álcool, ora etanol ao se dirigirem aos jornalistas e nas sua apresentações. Tudo isso por quê?
Porque a ANP, irresponsavelmente, alterou a História, algo que nunca se deve fazer, com qualquer história. O pontapé inicial do carro a álcool resultou de decreto do presidente Ernesto Geisel no dia em que fiz 33 anos, 14 de novembro de 1975, criando o Programa Nacional do Álcool, o Proálcool. Foi um momento de grande significado para as Histórias do Brasil e do automóvel. Era o álcool que estava nos holofotes e assim ficou por 34 anos. Etanol, nem em pensamento.
Esse foi o principal motivo do banimento de etanol no AE.
BS