Vida de copiloto não é fácil. Claro que as engenhocas como GPS e smartphone com Waze ligado ajudam muito, mas não resolvem todos os problemas. Nunca participei de um rali de verdade, mas sempre quis ir — como navegadora. Sei que é raro, pois a maioria das pessoas quer ficar atrás do volante. Não que eu não queira, mas é que minhas qualidades de copiloto superam as de muita gente. Sei que deve ser um desvio de comportamento, e certamente os americanos já identificaram alguma síndrome para isso e têm até estatísticas que provam quem pode desenvolver essa doença, mas sou feliz lendo um mapa. Me entendo bem com GPS (até o do BlackBerry), mas mesmo mapa de papel é um deleite para mim. E ninguém me supera em senso de orientação. Bem, menos Nora, menos…
Mas é verdade que tenho facilidade para a navegação — ao contrário da maioria das mulheres que depois de duas horas de compras não acham o carro no estacionamento do shopping. Já ensinei muita amiga minha a tirar foto com o celular da coluna onde parou o carro, pegando claramente andar e fileira. O problema é que algumas não apagam as imagens e quando tem 6 fotos já não sabem onde pararam o carro.
Acho fácil me orientar. Não faço a menor idéia do que faria com um sextante, mas com uma bússola, um mapa de papel ou na tela do celular sou praticamente imbatível. Herdei isso dos meus pais, especialmente minha mãe. Numa viagem de carro pela Patagônia argentina minha avó ficou encarregada de olhar o mapa enquanto minha mãe dirigia e quase nos manda de volta para Buenos Aires. Essa sim dava duas voltas no quarteirão e não voltava mais para casa. Uma pessoa adorável em tudo e da qual sinto muita saudade, mas totalmente desorientada geograficamente. Bem, lembro-me que minha mãe discutiu com minha avó que teimava que tínhamos que ir para um lado e que segundo minha mãe isso não era possível pois íamos para o Sul e o sol da tarde teria de estar à nossa esquerda e não à direita, como estava. Simples assim. Mas, claro, ela fez Ciências Exatas e até hoje raciocina cartesianamente.
Durante algum tempo não deixei que meu marido alugasse carro com GPS quando viajávamos juntos, pois achava que perderia parte da minha utilidade. Mas um dia desencanei pois sou eu quem tira fotos, faz as reservas, pesquisa os lugares bacanas a conhecer, ou seja, ele não me leva junto apenas porque sei me orientar. Também sou eu quem desço e pergunto quando ele, como a maioria dos homens, se recusa a pedir ajuda. Uma vez estávamos discutindo há quilômetros sobre parar e pedir informações e quando ele já não tinha mais argumentos válidos e eu dizia pela enésima vez que tínhamos de parar e pedir ajuda, pois estávamos perdidos, me disse: “Eu não estou perdido. É só uma questão de tempo até eu saber onde estou.” Grrrr!
Pessoalmente se não há opção de GPS em português do Brasil prefiro em inglês, pois nem sempre entendo as versões lusitanas a tempo de fazer uma conversão. E me divirto escutando o “recalculating” quando erro alguma coisa. Também gosto de descer do carro para perguntar e já aprendi muita coisa, pois, claro, aproveito para puxar uma prosinha já que sou tão tímida.
Certa vez, em Amsterdã num carro sem GPS e já confusa com tantos canais e nomes de ruas cheios de vogais e poucas consoantes, me ocorreu telefonar para o hotel para saber como chegar. Algo como “estamos na esquina de tal com tal. Como fazemos para chegar aí?”. O atendente falava um inglês pouco compreensível e gastei vários minutos na ligação. Ele nos deu algumas explicações e, ao chegarmos ao ponto indicado, liguei de novo para mais um bloco de explicações. Depois de umas três paradas e três telefonemas, chegamos sãos e salvos ao hotel. E aí veio a parte engraçada. O rapaz da recepção era o mesmo do telefone e gentilmente nos pediu os passaportes, com aquele inglês esquisito que ele falava. Ao entregarmos os documentos, a surpresa, em português perfeito. “Ah, vocês também são brasileiros?”. Ele era de Campinas e estava há três anos na Holanda. Foi ótimo, pois nos deu um monte de dicas excelentes durante os dias que lá ficamos, mas se soubesse disso teria poupado vários minutos ao telefone…
Por isso gosto da tecnologia, mas não de depender exclusivamente dela. Já fiquei sem sinal de celular e o raio do Waze mudo. E, pior, ele tinha me mandado para um lugar nada, nada, recomendável. E eu sem saber como sair de lá. Lembro também que os primeiros Ford Fusion V-6 vinham do México com GPS incluído com a versão mais atualizada das ruas de…Cidade do México. E esse pesadelo durou uns três anos. Por isso não dispenso alguma ajuda até da posição do Sol. Mas não é só isso. Descobri que é melhor para meus neurônios não depender dos sistemas de navegação. Como gosto de pesquisar, encontrei um estudo da universidade canadense McGill, divulgado em 2010 na publicação Phys.org. e que justifica minha escolha pelo pontos de referência em detrimento das engenhocas. Os cientistas analisaram duas formas de as pessoas se localizarem, basicamente com sistemas tipo GPS e sem ele, usando pontos de referência. O resultado? Quem usa sistemas de navegação espacial, sem GPS, teve aumento de atividade na região do hipocampo e tinha mais massa cinzenta nesta região. Esta área do cérebro é a que está relacionada com memória e localização. E concluíram que quem usa navegação “automática”, tipo GPS pode atrofiar o hipocampo e afetar a memória com o tempo. De quebra, os participantes que usaram o sistema espacial (ou seja, não GPS) apresentaram melhores resultados em testes cognitivos usados para diagnosticar Alzheimer. Ou seja, se você usa GPS talvez já não se lembre porque o faz.
Mudando de assunto: Nos primeiros treinos da Fórmula 1 deste ano, o psicodélico carro da Red Bull sofreu um acidente quando era dirigido por Daniil Kvyat. Azar maior do que a batida, que nem foi tão forte, foi a do Marketing da equipe. Ironia pouca é bobagem e Daniil quebrou a ÚNICA asa dianteira disponível para o RB11, o que o obrigou a continuar correndo sem nenhuma estabilidade, muito mais lento do que os outros carros. E depois dizem que “Red Bull te dá asas”… Pelo visto, não deram para o russo.
NG
Atenção, leitor e leitora: na próxima 4ª feira (18/2) não haverá coluna, por conta dos folguedos de Momo.