Parto do princípio de que toda comunicação deve ser esmerada. Seja dos meios de comunicação ou de qualquer outra fonte, Por exemplo a imprensa, ela não só informa como forma, ensina. Na foto de abertura está César Tralli, da TV Globo, que considero a melhor voz dentre os apresentadores de telejornais. Costumo ouvir os desta emissora enquanto trabalho, só saindo da frente do computador quando ouço alguma reportagem que seja do meu particular interesse — meu tempo, como o de tanta gente hoje, é curto para o que tenho de fazer nos sete dias da semana.
Por isso fico surpreso quando no “Jornal Hoje” Tralli, ao citar a hora de qualquer evento, especifica “horário de Brasília”, quando deve ser “hora de Brasília”, como corretamente diz Renata Vasconcellos (dicção perfeita) no “Jornal Nacional”. É mero detalhe, sei disso, mas Tralli está ensinando errado.
Outro erro, este grave, é pronunciar siglas impronunciáveis como a do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, DNIT, como se fosse ‘DeNIT. Embora eu já tenha escutado, na mesma Globo, o nome da autarquia federal, que é vinculada ao Ministério da Infraestrutura, falado por inteiro. Ou se faz dessa maneira, ou se soletra D-N-I-T.
Mas não é só aqui. Já ouvi o jornalista americano Tom Worobec, editor e âncora do AutonewsTV, pronunciar a sigla NHTSA (National Highway Traffic Safety Adminstration), famoso órgão de segurança de tráfego rodoviário dos EUA, como nitsha.
Muito estranho também é o literal abandono, parece definitivo, e independente da fonte de informação, do adjetivo ordinal. Por exemplo, dizer que o causador do atropelamento “foi levado a para a 67 DP”. É a própria consagração da ignorância. É o caso ou é a danada da preguiça? Tenho dúvida, afinal não é tão trabalhoso falar ‘sexagésima sétima’.
Mesmo caso de uma fabricante informar a imprensa o grande feito de produção de um modelo, abstendo-se de usar a notação ordinal em favor do escrito. Em vez de “produzido o 300.000º modelo ‘x’, “produzido o modelo ‘x’ de número 300.000”. Note-se ser texto, em que caso o redator não saiba a notação ordinal, tem tempo de procurá-la, da mesma forma que os redatores do ponto eletrônico das emissoras de televisão, o qual os jornalistas sempre leem (embora não pareça).
Outro problema, ainda falando dos fabricantes, é a informação incompleta ou confusa, um pequeno inferno para nós que escrevemos sobre automóveis. Frequentemente nos deparamos com textos de informação à imprensa em que só são informados potência e torque de motores flex apenas com álcool, portanto informação incompleta.
Abro aqui um parêntese para contar que há tempo penso em deixar de informar potência, torque e consumo de carros flex referentes ao álcool pelo fato de todos saberem — há 22 anos — que estes geralmente têm números de potência e torque melhores e de consumo, piores, quando funcionando com álcool. Isso em consonância com as revistas do único país além do Brasil que têm carros flex, os EUA, e só publicarem números referentes a gasolina — apesar de lá 50% dos flex serem abastecidos com gasolina versus 30% aqui. Mas essa decisão precisa ser dos dois donos do AE, e o Paulo Manzano por enquanto é contra.
Voltando ao tema desta coluna, e a informação confusa dos fabricantes, de que se trata? É ressaltar, nos textos, a potência em cavalos-vapor (cv) e torque em newtons·metro (N·m), “descasando” as duas importantes unidades — cv e m·kgf. A imprensa automobilística australiana, por exemplo, “casa” kW e N·m em obediência ao Sistema Internacional de Medidas.
Comunicação é coisa séria.
BS
A coluna “O editor-chefe fala” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.