Em 2012 foi anunciado que o New Stratos, um carro a ser feito a partir de um Ferrari 430, havia sido cancelado por decisão da Ferrari. Os criadores utilizaram a Pininfarina para projetar esse modelo como a realização de um desejo particular, mas a aclamação da mídia e de público fez com que fosse anunciada a intenção de fabricar cinqüenta unidades para venda.
Com o cancelamento do projeto para produção, não havia como radicalizar e decidir por fazer o carro a partir de algo diferente da arquitetura original. Foi uma pena e uma perda para o universo autoentusiasta.
Mas uma dúzia de anos antes disso, em 2000, o próprio pai do Lancia Stratos, o aclamado Marcello Gandini, fez um carro que era sua atual interpretação do Stratos. Se fosse desenhar o continuação do Stratos de 1973, seria o Stola S-81.
As proporções são as mesmas, a aparência toda de uso específico para diversão ao dirigir é ótima, e os detalhes lembram o carro original em vários pontos.
Mas aqui Gandini trabalhou para a empresa de estilo e engenharia Stola, e batizado de S-81 para o aniversário de 81 anos da empresa de Alfredo Stola, que não tinha nenhum plano concreto de fazer um carro de verdade, já que ficou apenas no mock-up, infelizmente.
O carro foi principalmente feito para experimentar uma resina epóxi pintável, LY 5185, da Ciba-Geigy, gigante da indústria química. Esse material é mais rápido de se trabalhar que o popular clay (argila), mas de custos e obtenção exclusivos.
O carro tinha pintura fosca, algo totalmente vanguardista 15 anos atrás, hoje popularizado pelos ditos “envelopamentos” feitos em vários lugares.
O S-81 então é um showcase, uma apresentação para os fabricantes de todos os continentes, que Stola idealizou de forma a simplificar e mostrar a tecnologia e velocidade de trabalho de forma tridimensional e real.
Gandini ajudou então a Stola e se ajudou, trazendo à realidade o modelo que ele disse ser o que mais tinha vontade de atualizar e reviver, o Lancia Stratos, fabulosa criação campeã de ralis nos idos da década de 1970.
Note nas fotos as mesmas definições de desenho, como colunas dianteiras disfarçadas, fazendo o teto parecer suspenso apenas pelas colunas centrais, o pára-brisa super-curvo no plano horizontal, as caixas de roda dianteiras puxadas diretamente do capô dianteiro, sem altura acima dela, o vigia traseiro pequeno e “embutido”, o balanço traseiro curtíssimo e de subida abrupta atrás das rodas traseiras.
Nas dimensões, o S-81 é maior que o Stratos, já que foi um projeto já com vista a uma possível produção, e volumes necessários para montar equipamentos para atender as regras de segurança já eram necessários.
O entreeixos é de 2.400 mm, comprimento de 3.910 mm, largura de 1.960 mm e altura de 1.130 mm . Os pneus do S-81 são 225/40R18 na frente e 295/35R18 atrás, modelo Goodyear Fiorano.
Na dianteira, um emblema MG que aparece em muitas fotos confunde e confundirá a muitos que conhecem a MG inglesa. Foi apenas uma permissão da Stola a Marcello Gandini, que criou o logotipo com suas iniciais, já que o modelo foi feito com um Stratos em mente, mas sem nenhum objetivo de ser qualquer marca, já que nesse ano o grupo Fiat já havia decidido erroneamente que a esportiva marca de tantas glórias em corridas — apenas com o Stratos foram 18 vitórias em etapas do mundial e 3 títulos — iria se limitar a sedãs de luxo, com algum cupê duas portas sendo possível, mas não muito provável. Plano errado, claramente, e a marca hoje respira por aparelhos, sempre à beira de partir desta para melhor.
Há também imagens do S-81 com emblema Lancia e Stola, numa espécie de provocação no bom sentido, mais ou menos forçando a Lancia a assumir o estilo e fazer o carro, o que seria algo de fazer salivar e até babar muitos entusiastas.
Por dentro, o mais interessante detalhe são os longos bancos que apoiam quase todo o comprimento das pernas dos ocupantes, como no conceito do Stratos de 1970, um carro tão radical que faz o Stratos de produção parecer um carro velho. Veja essa matéria do MAO.
Um toque notável é o espaço nas soleiras para um capacete, de ambos os lados, mais um ponto em que fica evidente a largura bem maior desse carro do que a do Stratos.
Os instrumentos deveriam funcionar em um placa transparente colocada acima do painel, num rebaixo deste, para que o fundo dessa tela fosse escuro, e não atrapalhado pela visão externa pelo pára-brisa. Se isso funcionaria, não saberemos.
Segundo Gandini, ele desenhou o carro visando o uso de um motor Maserati V-8 com dois turbocompressores, mas como não houve progresso de negociações nem mesmo com Gandini tendo sido contratado pela marca para fazer o Quattroporte, ficamos apenas na imaginação. Espaço para montar esse trem de força havia, sem dúvida.
JJ