O Ae é feito por um grupo de pessoas, por um time, ou como o Bob gosta de falar, por uma plêiade. E isso é uma das características que tornam o Ae algo muito diferente. Nós adoramos essa diversidade que se interrelaciona pelo autoentusiasmo. Desde o ano passado estamos planejando a nossa reunião periódica com todo o grupo para discutirmos o nosso futuro, trocarmos idéias e sugestões, e nos confraternizarmos. Mas como fazer isso e ainda dar uma injeção de entusiasmo na veia de cada um?
Bem, aí é que entra uma idéia inédita e o prestígio do Ae. Vamos falar um pouco desse prestígio. É certo que o mundo de hoje está mais preocupado com a quantidade do que com a qualidade. Basta ver as mídias sociais e a quantidade de besteiras que se compartilha por aí. Nós preferimos cultivar a qualidade, a relevância, a seriedade e o foco. O caminho é mais difícil, mas estamos evoluindo consistentemente. E esse caminho nos leva há um elemento que nos causa bastante orgulho: com certeza, o Ae tem os leitores de mais alto nível. Assim temos uma combinação ímpar de editores com uma audiência muito próxima e que compartilha os nossos valores. O nosso prestígio vem daí. E os leitores também fazem parte dele.
E a idéia inédita? Não faz muito tempo, estive em um evento no Audi Lounge, em São Paulo, e descobri que lá é um lugar muito ligado ao autoentusiasmo. E o melhor, tem uma bela sala de reuniões que acomodaria bem o nosso time de editores. Conversamos com a Audi sobre a possibilidade de fazermos nossa reunião lá. Aproveitamos e também pedimos uns “carrinhos” para um test-drive com todo o nosso time. A resposta da Audi veio rapidamente. Sala, ok. E os carros? R8 5,2, A8, RS 4 Avant, RS 5 Coupé e S6! Acho que isso é suficiente para demonstrar o nosso prestígio.
Fizemos a nossa reunião no sábado dia 7 de março, seguida do test-drive que consistiu em ir a Itu e voltar, utilizando a Estrada dos Romeiros e a Estrada Parque. Pegamos chuva torrencial na maior parte do caminho, tanto na ida quanto na volta. Tivemos uma manhã de trabalho, mas desse tipo de trabalho que a gente gosta, e uma tarde de muita diversão. Infelizmente alguns editores não puderam participar, mas temos certeza de que todos que estiveram lá receberam uma boa dose intravenosa de entusiasmo.
E agora queremos compartilhar todos esse entusiasmo com os nosso leitores. Cada um dos participantes está nos contando mais abaixo, em um breve texto, suas impressões sobre a “nossa” frota Audi e também sobre a experiência que vivenciamos nesse dia. Os textos estão em ordem alfabética pelo nome dos editores. O André Antônio Dantas (AAD) descobriu o DNA de cada modelo. O Bob Sharp (BS) encontrou o melhor jeito de escolher entre os modelos. O engenheiro Carlos Meccia (CM) se impressionou com a eficiência do R8. O Juvenal Jorge (JJ) teria feito a dança da chuva se ela não viesse. O Marco Antônio Oliveira (MAO) reavaliou a experiência de dirigir no aguaceiro. O Milton Belli (MB) ficou impressionado com a qualidade da tração integral. A Nora Gonzalez (NG) se encantou com as trocas de marchas pelas borboletas. Eu, Paulo Keller (PK), continuo achando que quanto menor melhor. O Roberto Agresti (RA) vivenciou diversos estados de espírito. E o enólogo Wagner Gonzalez (WG) se empolgou com a natureza do evento. São dez visões de um mesmo tema!
O Ae agradece à Audi e sua prestativa equipe que nos atendeu prontamente, abrindo as portas da sua casa, cedendo os carros e ainda ajudando na organização. Valeu Aline, Márcio, Charles, Lothar, Christian e Zola. Agradecemos também ao Renato Castanho, da Expedição Filmes, que nos ajudou na captação das imagens.
Ae/PK
A métrica do DNA
André Antônio Dantas
“V” e “8”… dois caracteres que, juntos unidos por um hífen, já têm uma tradição entusiástica. Porém, quando elas nos lembram dos mitológicos muscle cars americanos de antes da crise do petróleo como uma referência aos Audi que iríamos experimentar, era algo como lembrar das caravelas de Cabral perto de um moderno e confortável navio de passageiros. Era o pensamento que eu tinha na semana que antecedia o dia do teste ao imaginar que haveria pelo menos um Audi com motor dessa configuração — haveria quatro!. Por mais que a teoria diga muito, somente sentindo na pele é que eu poderia conhecer ainda mais a fundo.
No teste, tive a oportunidade de dirigir apenas a perua RS 4, porém andei de carona em quase todos com exceção do R8, que eu já havia dirigido em outra oportunidade. Infeliz por não ter aproveitado um pouco mais? Nem um pouco. Andar de carona me deu a oportunidade de não me preocupar com as coisas normais da pilotagem, e me concentrar nas sensações que o carro trás.
Ali, no banco do passageiro, deu para sentir o DNA comum a todos eles. Podemos dizer que os Audi começam pelos pneus, largos, de borracha macia, de perfil baixo, aderem como cola no piso, mas ao mesmo tempo não impedem o rodar sereno. Os carros seguem livres para onde os pneus apontam, e ainda freiam e aceleram sem sinais que vão desgarrar, mesmo sob o piso encharcado pela chuva. Um projeto criterioso de suspensão, direção, freios e de estrutura faz o conjunto contornar as curvas seguidas das estradinhas do teste praticamente sem nenhuma rolagem ou qualquer comportamento dinâmico estranho.
Eu diria que se a Audi parasse o projeto destes carros neste ponto, o conjunto passivo destes carros já seria o suficiente para fazer deles carros exemplares em termos de engenharia. Mas na era da eletrônica é evidente que estes carros não parariam aí, e toda tecnologia digital ali é de ponta, do ABS e controle de tração, passando pela suspensão adaptativa e indo até os itens de informação e conforto.
São camadas sobre camadas de tecnologias aplicadas sem economia, sendo este o DNA em comum entre todos os modelos que avaliamos. É a partir daqui que o DNA de cada modelo começa a se diferenciar.
O Audi A8 tem pretensões de ser o carro do grande executivo. Apesar de ser competente ao ser acelerado, é mais voltado para o conforto. É o modelo mais suave. Foi interessante andar atrás, onde o banco reclina eletricamente e conta com aquecimento e resfriamento individual do banco, além de uma zona exclusiva de ar-condicionado.
O R8, que não andei desta vez, é o oposto. É um carro com suspensão mais dura, visando estabilidade em certo detrimento do conforto, distância entre-eixos mais curta que os demais carros para respostas mais rápidas ao volante, e com aceleração e frenagem mais intensas.
Mas se o A8 está numa extremidade de uma escala e o R8 em outra, como classificar a RS 4? É uma perua, menos luxuosa que o A8 e mais utilitária. Mas o desenho do carro evoca uma ousadia que se revela ainda mais brutal quando provocado. É um carro-família e um super-esportivo ao mesmo tempo. Não há espaço para definir a RS 4 dentro da escala linear entre o A8 e o R8. Em vez disso, a RS 4 se define num ponto avulso, formando uma escala triangular. Os outros dois modelos deste teste estão em pontos dentro deste triângulo e não sobre simples escalas lineares entre luxo e esportividade.
Dirigir a RS 4 foi um prazer e ao mesmo tempo me trouxe uma preocupação. O carro passa a imagem de um carro pesadão para conduzir e assim permanecer estável. É um engano. Em partes do trecho que conduzi, haviam veículos lentos à frente sem que a estrada oferecesse condições para uma ultrapassagem. Andei devagar, apreciando o carro e ele não decepciona. É agradável de conduzir como veículo familiar e não é um fardo pesado que o motorista carrega por conta da esportividade. Mais à frente uma reta se abre e uma aceleração a fundo deixa os veículos lentos para trás. Mas o pedal direito continua colado no batente até uma distância assustadoramente próxima da curva. Uma tirada de pé do acelerador, um toque suave no freio e uma cutucada no volante e a RS 4 fez a curva como se estivesse num passeio dominical.
Divertido e preocupante ao mesmo tempo. A RS 4 manteve-se com comportamento irrepreensível sob todas as condições em que estive nela, dirigindo ou como passageiro. É ao mesmo tempo um carro de aceleração brutal com facilidade de condução mesmo em condições mais “divertidas”. É o tipo do carro que se aprende fácil em confiar e esquecer que limites existem. E ainda com a música do escapamento rugindo agradavelmente nos ouvidos para provocar o pé direito, … É bom tomar cuidado para não fazer uma besteira.
Acho que isso explica porque num teste onde haviam o A8 e o R8, todos de certa forma se afeiçoaram à RS 4 Avant.
O teste foi feito sob chuva forte. Não foi possível ter a liberdade de fotografar o evento como gostaríamos, mas a chuva gerou a oportunidade de sentir cada carro numa condição mais extrema, quando cada um deles pôde revelar melhor a maestria de engenharia e tecnologia com que eles são fabricados.
Todo o resto do teste foi puro prazer. Que venham outros testes como este.
AAD
Que belo dia!
Bob Sharp
Memorável! É o adjetivo perfeito para um dia perfeito, apesar da forte chuva ao deixarmos São Paulo. Mas saber que nesses cinco Audi estávamos todos, ou quase todos, juntos imersos naquela onda de prazer, foi mesmo incrível.
Mesmo tendo contato relativamente freqüente com os carros da marca dos quatro anéis entrelaçados, como bem recentemente com a perua RS 4, dirigi-la e os outros, especialmente o cupê esportivo R8, foi mesmo uma experiência renovada.
Se a chuva atrapalhou um pouco, por outro lado serviu para evidenciar a eficiência da tração integral bem-feita com piso molhado. Em nenhum momento se sentiu perda de controle, independente de o controle de estabilidade e tração agir ou não. Perda de controle, bem-entendido, ao se dar potência numa saída de curva.
Mas não foi só o andar com os carros, houve a parte prévia, a “reunião plenária” da equipe do AUTOentusiastas, estando ausentes apenas os que moram em Brasília, que são o colunista Roberto Nasser e o editor Carlos Maurício Farjoun, e o editor Felipe Madeira, que reside em Belo Horizonte.
Foi muita gentileza da Audi do Brasil nos ceder seu espaço, seu lounge, numa rua nobre, chique, de São Paulo, a Oscar Freire, permitir nos reunirmos ali. Isso mostra bem seu DNA de marca empolgada pelo que faz, autoentusiasta em sua essência, desde o tempo em que era apenas parte de um conglomerado chamado Auto Union, formado na Alemanha em 1932, portanto há 83 anos. É claro que o gesto faz parte do “manual de relacionamento com a imprensa”, mas estava no ar, se sentia, que era muito mais que isso, era prazer verdadeiro de receber em sua casa pessoas que compartilham o entusiasmo dela.
Quem nos recebeu foi uma das pessoas mais caras nessa nossa atividade de jornalistas especializados, o competente e afável Lothar Werninghaus, um alemão que conhece cada detalhe de todos os Audi, a sua alma, é quem faz as presentações técnicas à imprensa e treina os concessionários. Encontrá-lo nos eventos é sempre um imenso prazer.
Os modelos colocados à nossa disposição para o evento eram o R8, o R5 Cupê, a RS 4 Avant, o S6 Sedã e o A8.
Todos menos o R8, um carros esporte de motor central-traseiro — e totalmente visível pela tampa do motor com material translúcido, aquele V-10 é um colírio para o autoentusiasta — são carros “normais” e guardam comportamento muito parecido entre eles, especialmente a perua, o sedã S6 e o cupê RS 5, este simplesmente belo e maravilhoso — o meu eleito —, com seu motor 4,2-litros de aspiração atmosférica (o mesmo da RS 4 Avant), 450 cv a 8.250 rpm.
O A8 é o mais pacato desse grupo, com seu V-8 de 4 litros biturbo de 435 cv e único com câmbio epicíclico, 8 marchas (todo o resto era robotizado dupla-embreagem de sete marchas). Em compensação, seu rodar é soberbo, confortável mas firme e, de certo modo saber sua carroceria é inteira em liga de alumínio (começou em 1994), é uma sensação das mais agradáveis, a de sentir tecnologia, sem vê-la. O carro tem faróis de visão noturna e impressiona o alcance, o ver coisas que não se veria com faróis que “iluminam”, pude experimentar isso já que dia havia acabado e ainda estávamos na estrada. E o interior, o conforto (só dois no banco traseiro, que fiz questão de experimentar enquanto o Agresti dirigia), as saídas de ar-condicionado tanto no prolongamento do console quanto nas colunas centrais — e até cinzeiro! — nos transporta para um outro mundo, para a tranqüilidade absoluta.
Mas o que realmente cativa nesses Audi é o que se consegue com o pedal da direita. O mais lento deles nesse dia acelera de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos (RS 4 Avant). O R8? 3,5 segundos. Essa sensação de domínio, de dar raiva de se ver um trecho de estrada com faixa amarela contínua que para um carro desses é totalmente desnecessária, tal é a sua aceleração, a síntese do prazer automobilístico.
O dia acabou e fiquei certo de uma coisa: a coisa mais difícil deste mundo é escolher o Audi que se vai comprar. Ou, paradoxalmente, o mais fácil: qualquer um serve!
BS
AUDI R8, resumo da ópera
Carlos Meccia
Visual fantástico, lembrando um Lamborghini principalmente a sua traseira. O seu trem de força é incrível, despejando potência para as quatro rodas de uma maneira forte porém agradável, sem trancos e barrancos. O som do motor é poderoso e poderia ser ouvido um pouco mais alto na cabine dando ainda mais sensação de desempenho ao motorista.
Chama a atenção o bom nível de acabamento Audi, sem ter o que reclamar. A boa aerodinâmica é sentida na ausência de ruídos de vento mesmo em picos mais altos de velocidade. A isolação da cabine é boa, sem vazamentos de ar e/ou infiltrações de água. Pegamos uma chuva muito forte que não atrapalhou em nada a visibilidade, sem embaçar os vidros e pára-brisa. Aliás, o limpador é eficiente e silencioso, sendo difícil ouvi-lo funcionar.
A Audi não adotou controle elétrico para regulagem longitudinal dos bancos, adotando a velha alavanca de acionamento manual. Possivelmente foi para conter peso. A iluminação do consoleé muito eficiente embora a cor predominante vermelha não seja do meu agrado. Sentido forte ruído de rolagem causado pelo desenho dos pneus. Seus pneus de perfil baixo são convite para corte do ombro nessa buraqueira nacional. Me deu dó dirigir o R8 nas estradas com asfalto quebrado e buracos.
Os freios são ainda mais potentes que o motor. Com pinças de quatro pistões na dianteira o veículo pára mesmo, com boa modulação e eficiência. A tração integral associada aos controles de tração, estabilidade etc., deixa o veículo super-seguro em qualquer condição de terreno. A direção tem um esforço alto compatível com um esportivo. Em curvas o esforço é proporcional mantendo uma tocada segura, deixando o motorista conectado ao solo.
CM
Quattro dúzias de chuvas
Juvenal Jorge
O evento organizado pelo AUTOentusiastas com a Audi foi excepcional. Para ficar perfeito o dia, tinha que chover muito, afinal, iríamos rodar com cinco carros com tração em todas as rodas, e como teríamos certeza de que os carros funcionam exatamente como foram previstos a fazer se não fosse com pista molhada? As estradas de pista simples usadas nas nossas avaliações mais exigentes requerem atenção 100% do tempo, sem pestanejar, sem titubear e sem exagerar, pois têm muito movimento, de gente e de veículos, com e sem motor. Depois de algumas ultrapassagens sobre carros mais lentos você se vê programado em um modo diferente daquele que ocorre quando se está com carros pouco potentes, os normais de uso.
A precisão que exigimos de nós mesmos para dirigir bem carros tão violentos no desempenho é alta. Uma colocação de rodas mal feita pode levar a tirar alguma roda do asfalto, na beira da pista, e não queríamos que isso acontecesse, tanto por orgulho próprio de fazer a coisa certa quanto pela responsabilidade de estar com carros que nos foram cedidos com confiança pela Audi do Brasil. Nesse ponto, estávamos com os carros certos. Eu fazia curvas e efetuava frenagens, sempre no piso molhado, com uma categoria que não era minha, do motorista, mas claramente dos carros.
Todos tem uma direção muito precisa, e freios perfeitos, tanto em potência quanto em força no pedal e capacidade de sair de problemas em poucos segundos. Nenhum dos cinco carros aqui tem menos de 435 cv (A8), indo até 550 cv (R8 com motor V-10). Nenhum deles tem uma potência aquém do necessário em uso normal ou mesmo furioso em ruas. Talvez em pista alguém possa dizer que uns 750 cv são melhores, mas não aqui no mundo externo às competições ou track days, não.
Não tenho certeza de quantas vezes os limpadores de pára-brisa foram acionados, mas tenho certeza que eles percorreram muitos quilômetros varrendo os vidros, e as chuvas foram abundantes, para júbilo dessa terra com represas muito abaixo da necessidade. E os quattro foram perfeitos, sustos não existiram, mesmo para mim, que raramente ando mais rápido por períodos além de dez ou quinze minutos. Os carros são bem mais capazes que eu, e isso me deu segurança todo o tempo, mesmo nos momentos de aquaplanagem, que foram brevemente sentidos a bordo do A8, em uns quinze minutos que foram os de chuva mais forte de todo o dia, daqueles de não enxergar nada além de uns trinta metros à frente.
Mesmo assim, a segurança era completa, pois mesmo com água suficiente para tirar os pneus do asfalto, sempre havia alguma roda tracionando, e não ocorreu nenhum tipo de desequilíbrio que afetasse a trajetória do grande sedã. O A8 é tudo que eu imaginei ao vê-lo de perto e ler sobre ele em avaliações. Um bólido de conforto. Previsível em todas as situações, exala segurança e permite sentir a aderência com perfeição. Consegui fazê-lo derrapar com as quatro rodas, e apenas diminuí a aceleração para trazê-lo de volta à trajetória escolhida. Claro que a velocidade era estúpida para a condição molhada e a curva tinha percurso e saída absolutamente invisíveis.
O R8 é capítulo à parte, como não poderia deixar de ser, por ser um esportivo real, com apenas dois lugares e motor central de dez cilindros, com 100 cv mais que os V-8 da perua RS 4, do cupê RS 5 e do S6. Andei nele no escuro, dirigindo, e nem com chuva, estrada apertada e a iluminação apenas dos ótimos faróis, houve receio de fazer coisa errada. Claro que a velocidade empregada foi mais contida, pois se tratou de um período em que estávamos sozinhos, sem nenhum outro carro por perto. Um ponto interessante é o câmbio, sempre numa marcha mais baixa do que eu usaria, e mesmo no modo manual, não aceita troca para marcha bem mais alta. Não entendi o por quê disso, e sem dúvida, os 550 cv e torque de 55 m·kgf a 6.500 rpm com grande parte desse valor já em rotações menores, poderia dar conta de andar em quinta marcha a 60 km/h tranquilamente, algo ótimo para maior autonomia quando se precisa desta.
Já no sedã S6, que dirigi nas passagens para a filmagem e fotos dos cinco carros juntos, me deixou extasiado com o acabamento dos bancos. As capas de couro tem as costuras padrão xadrez, e são algo de se apreciar muito antes de sentar e dirigir. O carro é como os outros, seguro e fácil de dirigir todo o tempo, e com um conforto de suspensões comparável ao do A8, apenas um pouco mais firme que este na posição de regulagem “comfort”
Sobre o RS 5, as minhas impressões mais detalhadas estão nesse texto: Potência e aderência. Não é necessário repetir.
Mas como quase qualquer pessoa perguntaria, qual meu preferido? Aquele do qual falei logo de cara, que foi o que caiu no meu colo para eu dirigir na saída do Audi Lounge, a perua RS 4, claro. Gosto de quase tudo nesse carro, sendo que apenas as rodas muito grandes e os pneus de perfil muito baixo são capazes de me fazer pensar que poderia ser diferente aqui, sem perder nenhuma capacidade prática dos limites altíssimos que o carro têm e aumentar um pouco o conforto, já que pneus de perfil tão baixo nunca serão mais confortáveis que outros mais altos. E ainda era na minha cor preferida, além de ser uma perua, algo que sempre irei preferir quando houver a opção.
Com ela, andei no congestionamento paulistano de sábado à tarde, debaixo de muita chuva, e com avenidas com semáforos apagados. Muita coisa para atrapalhar o prazer de dirigir, mas a perua não deixou nada a dever, e nem gerou nenhum momento mínimo de preocupação. Na estrada, carro perfeito, com comportamento sem nenhum senão, e o espaço muito bom de porta-malas se fosse necessário para uma viagem sem exageros de bagagem.
Um dia ótimo, chuva, amigos e carros magníficos. Que venham muitos outros para nosso site e para nossos leitores!
JJ
Nem a fúria divina conseguiu estragar nosso dia
Marco Antônio Oliveira
Tinha tudo para dar errado. Atrasamos muito para sair, e quando saímos do Audi Lounge, caía um dilúvio de proporções bíblicas. Num trânsito lascado, debaixo de uma chuva danada, tínhamos que fazer uma fila de 5 Audis no meio da movimentada rua Oscar Freire, e sair em direção a Castello. Não foi fácil… Depois pegamos congestionamentos desesperadores até a marginal do rio Tietê, e uma marginal carregada. Na Castello outro congestionamento, no qual um desesperado MAO já despejava todos os frutos de sua educação portuguesa na forma de uma enxurrada de impropérios e insinuações sobre as preferências sexuais dos outros motoristas com que dividia aquele infortúnio. Sorte que o companheiro no RS 5 cinza era o Milton Belli, que se mantinha impassível e sem ruborizar nem um pouquinho com a transformação repentina do MAO: de erudita escriba mui respeitável a estivador no baixo meretrício, num piscar de olhos.
Deu tudo errado. Gastei um tempo lascado preparando um roteiro legal e detalhado, e naquele momento, o tal roteiro já podia ir para o lixo. Planejei estarmos as 13 horas em Araçariguama, mas quando chegamos na primeira parada na estrada dos Romeiros já eram 16 horas, e o dilúvio continuava. Não era possível nem trocar de motorista como previsto, tamanha a chuva. Celular não tinha sinal. E cadê o Bob e o R8??? O passeio nem começara e o caos se instalara. Devíamos estar de volta a São Paulo no máximo às 8 da noite.
Mas dali para diante, felizmente, tudo se encaixou. Achamos o R8, tomei o volante dele, e Bob ao lado, descarreguei todas as minhas frustrações em 20 km de Romeiros. Dali para frente, pudemos finalmente desfrutar de algumas horas ao volante de carros que se provaram, no fim, absolutamente perfeitos para aquelas condições meteorológicas lamentáveis. Todos eles eram incrivelmente eficientes em se manter perfeitamente controláveis, mesmo com muita água, e às vezes barro, no chão. Graças à tração quattro permanente, e um projeto primoroso, andamos no molhado como se fosse seco. Eu fiquei absolutamente pasmo. Seja tracionando, seja freando, seja em curvas, esses Audi de mais de 400 cv nunca saíam da trajetória pretendida. Segurança total e irrestrita. Como podem 550 cv ser despejados de supetão num chão encharcado e o carro continuar reto, sem nem sugestão de desvio de trajetória? Tudo que aprendi sobre dirigir carro nessas condições se tornou repentinamente obsoleto. Como é possível? Magia, feitiçaria, só pode ser.
Os que mais me impressionaram foram os extremos: o R8 e o A8. O R8 pela ferocidade de seu V-10, por ser totalmente controlável como um tração-traseira no limite, e pelo fato de que é usável, acessível, benigno. E o A8 porque, mesmo suave e delicado como seda japonesa ao rodar, conseguia acompanhar o R8 onde o motor fazia pouca diferença, diminuindo seu considerável tamanho ao andar forte. Apesar de extremamente confortável, de barca molenga — em termos, claro — o A8 tem exatamente 0%.
Faltou o RS 7 no nosso passeio, este que permanece meu Audi favorito, e como já disse aqui, meu carro favorito, ponto. Este, mistura freios e potência de R8 com conforto e espaço de A8. Mas na verdade todos os carros desse passeio são absolutamente fantásticos, máquinas incrivelmente avançadas, seguras, velozes, confortáveis. Precisos e refinados mecanismos de puro prazer automotivo.
Um trecho seguindo o Belli no R8 com a RS 4, a parada com todos enfileirados na estrada fechada, andar com no A8 na frente do Agresti no R8, a volta a São Paulo de RS 4 e R8… Imagens que nunca mais sairão da minha cabeça. Um dia de sonho entusiasta, que ficará comigo para sempre. Eu podia dizer que nem a fúria divina conseguiu estragar nosso dia, mas seria um pecado: certamente o divino mandou aquela chuva toda para ajudar-nos a entender o que tínhamos na mão. Como sempre, Ele sabe o que faz.
Manter um site como o nosso não é fácil. Dinheiro ainda não há, trabalho sobra, conflitos de toda sorte são o dia a dia. Mas em dias como este, lembramos por que estamos nesse negócio: pelos carros. Para contar a você, leitor, mais sobre essa maravilhosa máquina que nos torna livres de verdade. Livres de forma plena, incontrolável. Em dias como este, mesmo com o estresse inicial, tudo vale a pena.
MAO
Perfeitamente alemães
Milton Belli
Há quase quarenta anos, um pequeno utilitário todo-terreno VW mudaria a história do automóvel. O pequeno Iltis, um modelo militar usado pela Alemanha, seria a inspiração para o que viria a ser um dos maiores carros de rali de todos os tempos, o lendário Audi quattro. Sob o comando do Dr. Ferdinand Piëch, após reconhecer as habilidades incríveis do pequeno jipe na neve, ordenou que um novo carro fosse feito, com base no Iltis. Mas o que havia de tão especial em um ultrapassado modelo militar? O sistema de tração nas quatro rodas, insuperável na neve, reconhecido pelo time de engenharia e por Piëch como “o melhor carro esporte para neve”. E desde então a Audi levou seu sistema de tração chamado simplesmente de quattro para diversas plataformas, desde os carros de rua e de rali, e agora até para Le Mans.
Meu primeiro contato com o sistema quattro foi agora, e em grande estilo. Cinco modelos equipados com a tração integral para se conhecer em apenas um dia. Infelizmente em um deles não houve tempo hábil para andar, mas todos os outros já mostraram que não há complexidade para a Audi acertar na calibração, independente do modelo de carro. É o que esses alemães sabem fazer. O passeio organizado pelo time do Ae com a prestimosa colaboração da Audi do Brasil nos deu o prazer de avaliar a gama de modelos com caráter esportivo feitos em cima dos carros “convencionais” da marca. Eram eles uma perua RS 4 azul, um cupê RS 5 cinza, um sedã S6 branco, um luxuoso e enorme A8, e para fechar com chave de ouro, um R8 V-10 prata.
Mas o que começou como uma ótima oportunidade logo parecia ser um problema. A chuva castigou São Paulo e não havia previsão de melhorar tão cedo. Saindo da cidade, em pleno sábado à tarde, o trânsito estava caótico. Parecia que o passeio seria arruinado pelo clima, mas acabou sendo justamente ao contrário. A chuva permitiu que os avançados sistemas de controle e tração fossem muito bem explorados em uma condição severa, mas a melhor possível para ver do que a tração quattro é capaz. E é capaz de muito, muito mesmo.
Pelo nosso percurso, à frente teríamos rodovia aberta e estradas secundárias do interior de São Paulo com muitas curvas, e muita água também. Nessas horas é que o quattro brilhava. Devo admitir que até então nunca tive bons sentimentos pelos Audis de rua. Confesso que era preconceito mesmo, pois nunca havia tido contato com um Audi de tração integral moderno, até então, apenas ums RS 2 Avant, que era basicamente força bruta. A diversão de maneira geral era algo como um Mercedes AMG que derrete R$ 5.000 de pneus traseiros em dez minutos. Mas é puro engano, cada um na sua determinada hora e local, e aquele momento era para os Audis.
O sistema de tração, em especial no RS 5 e no R8, mudou meu pensamento sobre Audis, sobre tração integral, sobre controles eletrônicos e sobre não ter opção de transmissão manual. Aliás, esqueça isso. O homem não é mais páreo para a máquina. O câmbio S Tronic é muito mais esperto do que nós. Em mais de um dos carros, deixando o câmbio nas trocas automáticas com a opção Sport ativada, o carro reduz e sobe marchas de forma que nem com as borboletas atrás do volante podemos fazer melhor. Caixas manuais são legais? Sim, mas em outros carros. Conversando com o MAO voltando para São Paulo a bordo do R8, ele disse tudo. Em um carro antigo, ou em um carro esporte menos potente como um Mazda Miata, é excelente, mas em um modelo tão rápido e eficiente como o R8, não há como competir com o computador.
Eficiência, esta é a palavra-chave. A tração integral inteligente dos carros é tão impressionante quanto o câmbio. Curvas lentas, curvas rápidas, no seco ou no molhado, tanto faz. Os Audi contornam com a mesma serenidade e sem exigir muito de quem está dirigindo. Como fizemos diversas trocas de motoristas e passageiros nos carros, a conversa com diferentes editores do Ae ao longo do passeio foi sensacional. Lembrei-me do programa do Jerry Seinfeld, o Comedians In Cars Getting Coffee. Cada um com seus pensamentos e pontos de vista, mas todos com o mesmo sorriso no rosto ao ver como qualquer um destes carros tracionava bem no asfalto, especialmente no molhado.
Diferenciais inteligentes sensíveis à carga e o chamado torque vectoring system garantem que o máximo de tração seja extraído de cada roda a todo instante, analisando dados de comportamento do carro e comandos do motorista, centenas de milhares de vezes por segundo em um complexo sistema de processadores. Desligar os duendes eletrônicos em um R8, nem pensar. A Audi gastou milhares de horas de engenharia para que o sistema tivesse um propósito, e ele tem. Antes achava que era apenas ser seguro e chato. Mas não há nada de chato em se sentir seguro e se divertir. Powerslides são legais? Sim, mas não aqui, em um quattro. Até é possível fazer, mas é diferente, você ainda está no controle, pois há um pequeno duende que aprendeu a dirigir com alguém como Jackie Stewart, famoso pela serenidade e precisão ao volante, escondido embaixo do painel vendo o que você está fazendo, e se estiver fazendo errado, vai consertar para você.
Não só de tração integral e transmissão esses carros vivem. Os motores modernos da Audi, em especial os V-8 FSI de aspiração natural e injeção direta de combustível que giram até os 8.500 rpm e produzem 450 cv, são obras de arte. O V-10 do R8 é sublime, 550 cv, que não importa a faixa de rotação, está sempre pronto para dar o bote. Sendo seguido de perto pela RS 4, nas retas bastava acelerar mais forte para o R8 deixar para trás tudo e todos. O sedã S6 turbo também não faz feio, com potência similar aos demais V-8, mas com uma curva de torque e potência diferenciada em função da superalimentação.
Ao fim do dia, já no escuro, voltamos para São Paulo em comboio. Não deu muito certo, pois sinal de celular era algo raro e cada vez menos presente, e o comboio se desfez. Eu, MAO, Juvenal e o Wagner ficamos para esperar outros dois carros, que na verdade tomaram outro caminho. Voltamos para procurá-los, sem sucesso, mas deu para explorar outros aspectos dos carros, no caso, do RS 4 Avant azul metálico. A capacidade de iluminação dos faróis era espetacular, no meio da escuridão, pareciam dois raios brancos de luz do além. Com alguns rugidos do V-8 aspirado de trilha sonora, mas no geral, comportando-se como se fosse uma perua A4 comum, perfeitamente civilizada e comportada.
O que a Audi conseguiu fazer nestes carros é surpreendente. Mostraram que é possível fazer carros divertidos, seguros e confiáveis, tudo ao mesmo tempo. Acima de tudo, carros eficientes. Todos os carros que andamos tinham potência de sobra, muito além do que se usa normalmente no dia a dia, mas quando invocada, podia ser usada com segurança. São carros usáveis. A RS 4 Avant é perfeitaa para todos os usos, desde viajar em família e fazer compras até participar de track days. O S6 é discreto e rápido, confortável e espaçoso. Estes carros são a prova de que anos de engenharia e evolução podem criar máquinas precisas e técnicas. É o que podemos chamar de “perfeitamente alemães”, mas capazes de atingir o maior objetivo de todos: colocar um grande sorriso no rosto de quem as usa.
MB
Cinco Audis e um dia inesquecível
Nora Gonzalez
A redação da AUTOentusiastas é mais um encontro de fãs de veículos do que uma redação convencional. Mas na semana passada, pela primeira vez, nos encontramos todos pessoalmente. O motivo? Testar cinco Audis. Ô, sacrifício, e em pleno sábado. Mas tudo seja para atender nossos leitores — se vocês viram sarcasmo nesta sentença entenderam o que quero dizer.
E lá fomos nós encarar a chuva. No congestionamento nos Jardins já deu para perceber o respeito que estes carros impõem. Mesmo quem ameaçava “furar” nosso comboio terminava voltando para a outra pista — sinal de respeito, acho. O mesmo aconteceu ao longo de todo o percurso. Imaginem vocês ver 500 cvdentro de um motor passando do seu lado? E na seqüência, mais quatro bólidos. Era engraçado ver pela janela as bocas abertas, os pescoços que se viravam tentando ver mais… Claro, com um design daqueles! Pessoalmente, além do intimidante R8 V-10 gosto muito da linha sofisticada mas esportiva do RS 5 Coupé e do clássico e sóbrio sedã A8. Comecei no banco do acompanhante, para avaliar os carros do ponto de vista do carona mas, claro, dirigi também. Nunca me perdoaria perder uma chance destas.
Minha impressão nos cinco é de que o carro “cola” no chão, mesmo sobre um colchão d’água de vários centímetros e estradas padrão… bem, sem padrão eu diria. E o que falar da tração? Sempre gostei do sistema quattro, desde a primeira vez que dirigi um faz duas décadas. Paradoxalmente, a chuva foi positiva, pois deu para testar exaustivamente esta tração integral. Muito estáveis e frenagem impecável — mesmo quando tivemos que parar repentinamente para dar passagem para um porco que teimou em atravessar a estrada dos Romeiros bem na frente do carro em que o Juvenal e eu estávamos.
Pessoalmente, dirijo carro automático na cidade por necessidade, mas adoro passar marchas. Sempre usei pouco o pedal do freio e seguro a velocidade no motor, com o câmbio. Mas o sistema automático do Audi me fez reavaliar minha opinião. É show. No modo esportivo responde rápido, com precisão. Mas ainda assim quis testar o câmbio pelas borboletas do RS 5. Exceto por uma encostada na alavanca do farol, que me pareceu um pouco próxima, gostei muito do câmbio. Tanto do ponto de vista mecânico quanto auditivamente. O ronco do motor é música para os ouvidos 0151 e nas reduções ele “grita”. Lindo! Queria trocar de marcha a toda hora só para escutar isso…
O acabamento dos cinco, claro, é impecável. Em especial do A8, sóbrio e com classe. Mas falamos de modelos realmente caros, por isso não esperava nada diferente. Os painéis têm o número exato de controles, nem mais nem menos, e um marcador de velocidade projetado no pára-brisa do S6, visível apenas para o motorista, ajuda a resistir à tentação e maneirar no pedal da direita. Uma rápida olhada em tudo permitia a familiarização com todos os comandos, apesar das seguidas trocas de carro, motorista, acompanhante etc.
Foi um dia e tanto. Teve porco na estrada, chuva, gente perdida, gente encontrada, falta de sinal de celular, de tudo. Mas valeu muito a pena. Minha lista de pedidos de presente a Papai Noel acaba de ganhar mais um item.
NG
Transe
Paulo Keller
Mesmo já tido a chance de recentemente testar o RS 7 e a RS 4 Avant, além de andar na RS 6 Avant no ano passado e no RS 5 há tempos, quando a Audi nos enviou a lista dos carros disponíveis para o Ae eu tive uma piloereção. Sendo esse um evento inédito e sem precedentes eu imaginava carros mais normais. Agora imaginem a reação dos editores quando a lista foi divulgada. Aqueles que não puderam participar do evento devem ter ficado realmente chateados.
Eu confesso que em um primeiro momento, pela sorte que tive de já conhecer alguns modelos. eu havia decidido que meu foco seria mais no registro dos outros editores recebendo suas seringas de entusiasmo do que desfrutar a direção dos modelos. Tirando o R8, eu imaginava que a experiência seria muito parecida com as que já tive com modelos RS. Depois bateu uma preocupação enorme com o bom andamento do passeio debaixo do maior toró, o que também praticamente impediu fazer o registro em vídeo como eu havia idealizado. E assim, em um determinado momento ao volante do S6, quando o pelotão da frente me despachou, o diabinho no meu ombro direito elevou minha preocupação ao nível máximo. Mas logo em seguida, no ombro oposto, o anjinho me soprou: Acalme-se, todos os carros tem tração quattro!. E não é que funcionou?
Então eu mesmo tive a chance de dar uma lenha na chuvona, tentando achar o limite da aderência do S6. Nem cheguei perto de acionar os duendes dos controles de tração e estabilidade. O carro ficou no trilho. Peguei o S6 porque foi o que sobrou. Com dois RS, um R8 e o “carro de presidente” A8 dando sopa, quem ia querer um mísero S6? Foi aí que eu me dei bem, pois dirigi bastante esse modelo que ainda não está disponível para venda no Brasil. Ou seja, um carro inédito. Quando o Renato (nosso videomaker convidado) que estava ao meu lado me cantou a potência de 450 cv eu entendi porque eu estava feliz! Mas a pegada era totalmente diferente dos RS. Claro, esse S6 tem um V-8 biturbo de “apenas” 4 litros contra os 4,2 litros aspirados dos RS. E com a tração quattro, ele anda junto com os irmãos mais marrentos. Só não urra como eles e a suspensão cuida bem melhor do nosso corpo. Ele ainda nem tem preço definido, mas com certeza deverá ser um pouco menos caro que os RS. Se não fosse o diabinho infernizando meu ouvido dizendo RS, RS, RS, RS, RS, eu seria capaz de escolher esse S pelo conjunto mais civilizado e apropriado para o uso diário. Afinal, não temos Autobahnen dando sopa por aqui que nos permitam explorar a velocidades acima de 200 km/h. Mas nem mesmo o anjinho conseguiria me convencer a não escolher um RS. de qualquer maneira fica a dica, como a molecada gosta de falar.
Depois andei muito pouco no A8. Apesar de ser o símbolo maior de status que a marca proporciona, eu não me interesso por status. E muito menos por carros gigantes — é o mais comprido dos cinco. Mas é impossível não destacar a agilidade do “monstro”. Aí entra a construção da carroceria em alumínio. Ele pesa apenas 25 kg a mais que o S6, sendo que tem mais de 5 metros de comprimento. E por ser o que é o A8 estaria na lista dos 1000 carros que todo mundo deveria dirigir antes de morrer.
Como a RS 4 era concorrida! Como as peruas, carros familiares, viraram sinônimo de esportividade! Eu gentilmente deixei os outros editores se deleitarem, pois era desnecessário eu dirigi-la mais uma vez. Tem muitos relatos dela aqui nessa matéria e então eu serei breve. Apesar de todos estarem encantados com a Avant e dizendo que seria o carro ideal para a família, eu resumo em uma palavra a impressão que tenho: brutal! Quando testei a RS 4 com o Bob ela destruiu minhas costas. Na verdade, naquele dia eu já estava meio baleado e com uma tensão fora do normal. E as acelerações em todas as direções eram contidas por esforços contrários concentrados na minha coluna, que acabou sofrendo muito. Eu percebi isso ao rever o vídeo que está na matéria do Bob e observar como meu corpo reagia as acelerações e desacelerações brutais. Realmente vale a pena dar uma olhadinha aqui para entender bem didaticamente o que estou falando: RS 4 e as costas do PK. Mas é claro que não é culpa do carro! Outro ponto da RS 4 é o berro do V-8 aspirado, maior que o do RS 5, que tem o mesmo motor. O mundo não está perdido!
Depois que todo mundo já tinha se divertido muito, numa bobeada da turma eu escorreguei para dentro do R8. Carro esporte é carro esporte! Baixo, quanto mais melhor. Mais áspero que os outros. O motor atrás deixa tudo completamente diferente. Desde a vibração a dinâmica. Tentei sair rasgando, patinando, de lado, e soltando fumaça dos pneus. Mas aí é que a quattro e os inocentes duendes pregaram uma peça no meu diabinho. O motor é “matado” indiscriminadamente e a tração impede o mínimo powerslide. Enquanto eu me desiludia o anjinho do meu ombro esquerdo se espatifou de rir. Bem, sai acelerando o mais forte que pude, com uma compostura que eu não fazia nenhuma questão, e também logo percebi que ali não era lugar para o R8. Como eu já discuti com o MAO, para começar a ter algum sinal de frio na espinha eu precisaria atingir uma velocidade impraticável. A sua velocidade máxima é de 317 km/h. Isso diz tudo. E realmente eu não precisava provar nada para ninguém e muito menos para mim mesmo. O que mais me marcou é que apesar de ser um supercarro o R8 pode ser dócil. Eu queria mesmo é fazer um no uso com ele. Bem que vocês poderiam fazer um coro enorme pedindo isso, pois com certeza a Audi vai ler essa matéria de cabo a rabo e todos os comentários. Enquanto isso não acontece recomendo uma matéria antiga do R8 V-8.
Já de noite eu me juntei à Nora, que estava com o RS 5 e eu queria saber um pouco das impressões dela sobre os carros e sobre o dia. Isso está no texto dela. Aproveitando, eu dei uma esticada até Sorocaba, uma carona para a Nora. Foi muito bom porque pegamos a Castello, quando eu assumi o volante depois de vê-la se divertir com as borboletas no trecho final da estrada dos Romeiros, cheio de curvas. Que sorte a minha. Isso aconteceu justamente com o carro que faltava. Acho o RS 5 Coupé um dos carros mais bonitos do mercado. Como eu já havia testado a RS 4, com exatamente o mesmo trem de força, achei que a experiência seria igual. Ledo engano. O RS 5 é mais curto, tem entreeixos menor, é mais baixo, e de alguma forma me vestiu melhor. Menos é mais! Gostei mais dele nas curvas, difícil de descrever essa diferença de comportamento. Talvez eu ainda estivesse de mau com a perua, mesmo desejando-a. Mas eu achei as reações do RS 5 um pouco menos brutais, inclusive o ronco do escapamento, que tem uma rota diferente devido às diferenças no tamanho do carro.
Depois de um dia inteiro de tensão eu realmente estava cansado, o trânsito intenso, à noite e com chuva. Assim que deixei a Nora eu conectei meu celular com o Bluetooth, coloquei minha playlist no volume máximo e decidi relaxar no modo comfort. De repente, num descidão, a chuva parou e o trânsito se abriu. Num suspiro de energia mudei para o modo dynamic e dei aquele sprint que estava faltando.
Nessa hora eu praticamente entrei em transe, como que se não existisse mais nada além da estrada vazia à minha frente e eu pudesse acelerar o máximo numa reta sem fim e sem obstáculos e desfrutar a precisão da máquina. Como uma máquina completamente fria pode causar tanta emoção? Ao mesmo tempo veio um senso de missão cumprida, de realização, de elevação do meu espírito. A essa altura todos os carros já tinham retornado à base, menos o RS 5 e todo mundo estava feliz. Logo o trânsito fechou, a chuva voltou e eu saí do transe. Mas esses poucos minutos nesse estado foram a recompensa que ficará marcada em minha memória como um dos dias mais especiais que já tive.
Mais duas coisa que observei e acho que valem ser notadas. Todos os carros tem aceleração de 0 a 100 km/h entre 3,5 s e 4,7 s. Não tenho os dados, mas todos devem superar 1,0 g de aceleração lateral. Esse nível de aceleração não se sente com facilidade no dia a dia. E numa estradinha com curvas e mais curvas em acelerações assim, haja labirinto. Dá enjôo mesmo. E o segundo ponto é que seria possível fazer uma sinfonia com as notas graves dos escapamentos dos cinco carros. Infelizmente não conseguimos mostrar isso no vídeo.
E também agradeço ao MAO, pelo empenho em definir o nosso roteiro, mesmo que ele tenha literalmente ido por água abaixo! Vamos usar esse roteiro no próximo Ae Day, que já está no forno.
PK
Espírito?
Roberto Agresti
Espírito? Resignado — Meu Audi Day começou de verdade quando embarquei como passageiro no mais confortável dos Audi à nossa disposição, o sedã A8. Como assim, “passageiro”? Justo eu, fominha do volante ? A razão é que até chegarmos a um lugar verdadeiramente bom para dirigir, um espetacular trânsito deveria ser atravessado. E põe espetacular nisso, pois demorou quase uma hora e meia do Audi Lounge nos Jardins, São Paulo, até o palco de operações do Ae, a tortuosa Estrada dos Romeiros.
Espírito? Oportunista — O importante é foco, certo? E assim sendo, quando pude agarrei o volante do Audi que mais me interessava de todos os cinco à nossa disposição, a RS 4 Avant. A razão, simples. Quatro anos atrás tive a honra de passar uma semana como a RS 6 Avant, na versão (extinta) equipada com o V-10 biturbo de 580 cv e 66 m·kgf de torque máximo. Então descobri que, sim, esportividade e praticidade podem habitar um mesmo carro. Ir ao supermercado, à feira, levar filhos à escola e, quando a ocasião se apresentasse, desfrutar das benesses da fornida tropa de puro-sangues disponíveis sob o capô e de toda a mais refinada tecnologia dirigida a automóveis de nosso tempos.
Espírito? Comparador — A RS 4 Avant seria o mais forte candidato a entrar em minha garagem (caso tivesse grana). Custa a gracinha de R$ 466.990, 124 mil reais a menos que a RS 6 Avant atual. Tem menos potência, “só” 450 cv, o torque é de meros (!!!) 43,8 m·kgf mas, em compensação, é mais leve (205 kg), compacto, entreeixos mais curto e com a mesma cara da mau. À ver…
Espírito? Kamikaze — Chovia como nos dias de Noé quando as curvas chegaram. Meus destemidos companheiros eram, no posto de co-piloto, um silencioso André, entretido com sua filmadora, e no banco de trás o Wagner, mudo e invisível. Configuração dynamic selecionada no menu, a que faz os ajustes (inclusive de suspensão) adaptarem-se ao piso e ritmo da tocada, optei por comandar câmbio S Tronic pelas borboletas no volante (a esquerda reduz, a da direita sobe a marcha). Posicionei minha mira no insano à frente, Milton, que a bordo do RS 5 (com Marco Antônio ao lado) decidiu, como eu, que a vida exige os riscos inerentes à busca do Santo Graal do dia, ou seja, conhecer os Audi RS à fundo.
Durante alguns intensos minutos (que talvez pareceram horas para os passageiros) brincamos de trenzinho com os RS 5 e 4. O piso molhadíssimo, que em princípio nos parecia ter estragado a festa, se tornou a melhor notícia. Trações integrais inteligentes e toda a melhor eletrônica disponível confirmaram — acreditem — que a poderosa cavalaria escondida sob o capô podia, sim, ser usada sem que isso resultasse problemas. Os quilômetros passavam e a confiança subia. O RS 5 abria uma vantagem mínima nas reacelerações em saída de curva e a resposta a isso encontrei na ficha técnica e na lista de passageiros pois a RS 4 tem 80 kg e levava um humano a mais. Saudade da RS 6 de 2010? Não. Achei até mais divertido o V-8 aspirado da RS 4 do que o V-10 biturbo da RS 6 que mencionei mais acima, apesar dos 130 cv a menos. Nas reduções, a aceleradinha para “sugar” a marcha é mais audível na perua menor e mais barata, e fora isso a sensação do aspirado sob aceleração para mim é mais direta, “sem filtro”.
Espírito? Observador — Uma vez parados, antes da troca de carros, olho a RS 4 com ar de comprador. Porta-malas ótimo, espaço no banco de trás, razoável, altura livre em relação ao solo, possível. Discreto? Quase. O azul Sepang não é para tímidos. Eu escolheria um cinza Suzuka, mais clássico, como a pista que leva esse nome, aliás…
Espírito? Radical — O que mais eu podia querer depois de rodar na perua que eu colocaria na minha garagem? Assumir o “cockpit” mais prestigiado do dia, aquele que exige quase um milhão de reais (mais exatamente R$ 958.999) para você chamar de seu? Sim ele, a jóia da coroa, o R8 Plus (que redundante esse “Plus”…). O motor fica atrás, a frente é curta, o chão está perto. A aceleração bem mais brutal que a RS 4 não sofreu como piso molhado apesar de ser bem mais nítida a possibilidade de dar uma “traseirada” com os 550 cv do V- 10. Já tinha pilotado esse animal, e em uma pista, a da Fazenda Capuava. Foi em um evento Audi anos atrás. Na ocasião, com o piloto Maurizio Sala ao meu lado, tentei de todas as maneiras “bagunçar” o equilíbrio do alemão e… nada!
Perguntei se podia desligar algo, controle de tração, de estabilidade ou o que fosse. Sala foi taxativo: “não!”. Agora, ali na estrada dos Romeiros, com Juvenal de co-piloto, eu poderia. Mas juízo ainda tenho, pouco, mas tenho. Deixei tudo ligado…
Espírito? Enjoado — o MAO, PhD na Estrada dos Romeiros, abria caminho com o A8. Oba, vou atrás!, pensei. Mas ele magistralmente me despachou. Como? A boa desculpa é que enjoei depois de cinco ou dez minutos de acelerações brutais e freadas fortes. Avisei ao Juvenal sobre a iminente chuva de bolinho de bacalhau com Coca-Cola, e ele confessou que também estava prestes a convocar Hugo. Na ausência dos sickness bag (saco de vômito) mandatório em aviões, o jeito foi abrir a janela e maneirar. Ok, não me frustrei. O dia estava ganho com a lenha dada na RS 4 e com o R8 só acrescentei mais uma informação à apreendida na Capuava, confirmando o esportivo da Audi como espetacularmente equilibrado mesmo em piso de baixa aderência. Viva a tração quattro!
Espírito? Chofer — Fim de tarde, hora de voltar a São Paulo. Voltar dirigindo o quê? O RS 5, para mim o mais belo de todos os presentes, a novidade S6, o sedã com alma de esportivo? Nada disso: escolhi o A8, com Meccia de co-piloto e mestre Bob no banco de trás. A noite chegou, acionei o HUD – head-up display para me mostrar a velocidade no pára-brisa e o night vision, sistema de visão noturna, que em uma tela no centro do painel me fez “enxergar” mais coisas que não veria tão facilmente. Tecnologia que, como Bob lembrou, lembra os filmes noturnos dos ataques na guerra do Golfo. Na lotada rodovia, entre Corsas, Palios e Gols, o Audi Day virou Audi Night. O pensamento se voltou para agradecer pela jornada, por ter a chance de estar com pessoas tão legais, com carros de sonho, fazendo o que gosto e, principalmente, por poder compartilhar com você, leitor do Ae, todo este encantador privilégio.
RA
Audição especial
Wagner Gonzalez
Notas de gasolina azul, retrogosto de Castrol R, aroma de composto macio no ar. Nada como praticar o hedonismo sobre rodas com o respeito e a descontração que um encontro com amigos e automóveis de verdade merecem. O Audi Day, primeiro evento do tipo realizado pelo AUTOentusiastas, foi muito além de uma reunião da firma e uma excursão para Bom Jesus: criado e organizado pelo editor-geral Paulo Keller, o acontecimento nasceu com ares de coisa séria praticada com a dedicação de quem faz o que gosta.
Eu e Bob Sharp lembramos de uma profissional do jornalismo que, na ânsia de mostrar serviço ao assumir um cargo de chefia, resolveu marcar uma reunião de departamento para a manhã de um sábado, como se não passássemos 12 a 13 horas em média, de segunda a sexta-feira, atendendo a imprensa do mundo inteiro. Quando a gente faz com seriedade o que gosta e está entre amigos, a situação é muito diferente e a dedicação é contagiante: até a chuva notou essa interação e fez questão de acompanhar nosso árduo trabalho de conhecer, esmiuçar e desfrutar toda a tecnologia embarcada que cinco modelos Audi oferecem para viajar sobre quatro rodas cheias de tração. Para não dizer que não falei das flores, foi essa tração total que se destacou num piso de asfalto molhado, por vezes decorados por lama, garantindo nossa alegria sem imprevistos decorrentes de pés pesados atiçados por miolos não tão consistentes…
Em meio a uma disputa acirrada pelas chaves de uma nave A8, um foguete R8, um discreto cupê RS 5, um pseudo-vetusto S6 e a supostamente familiar RS 4 Avant (minha mais nova paixão de infância), a equipe de editores do AUTOentusiastas viveu um sábado de vencedor da mega sena. E como cada um divide o que tem, você tão entusiasta por autos quanto nós, agora curte uma punhado de histórias e depoimentos produzidos com muita adrenalina e alegria.
Saúde!
WG
O que os editores acharam!