GAC HYPTEC HT ELITE: O SUVE ELÉTRICO QUE ENCARA VIAGENS MAIS LONGAS

O Hyptec HT não tenta ser um suve: ele já nasce como um. Com 4.935 mm de comprimento, 1.920 mm de largura, 1.700 mm de altura e entre-eixos de 2.935 mm, o veículo da GAC se coloca imediatamente entre os maiores elétricos vendidos no Brasil. Para entender como esse porte se traduz no uso real, coloquei o modelo em uma rota completa, combinando cidade, rodovia e serra, somando 676 km entre São Paulo, Campinas, a subida da Mantiqueira até Monte Verde, MG e retorno via Bragança Paulista.

Eficiência honesta

A viagem mostrou que o HT entrega eficiência coerente com o porte. O consumo médio ficou em 18,4 kW.h/100 km, cerca de 5,4 km/kW.h, número plenamente aceitável para um veículo acima de duas toneladas. O grande diferenciador, porém, foi a recarga: o hotel Root Resort em Monte Verde oferece três carregadores de 6 kW, o suficiente para completar a bateria durante a primeira noite de hospedagem. Com o carro pronto ao amanhecer, desaparece a ansiedade de alcance, e o elétrico passa a se comportar como um utilitário esporte convencional de longa distância — silencioso, confortável e com custo por quilômetro muito menor.

A versão testada, a Elite, parte de R$ 309.900 na linha 2026, enquanto a Ultra, com equipamentos adicionais e as chamativas portas “asa de gaivota”, chega a R$ 359.900 — será testado em breve pelo Paulo Manzano. A proposta do modelo é clara: não disputar com suves de luxo pelo requinte absoluto, mas oferecer uma experiência de espaço, comodidade e eficiência elétrica que poucos concorrentes nessa nessa faixa de preço entregam.

Conjunto mecânico e comportamento dinâmico

O trem de força reúne motor traseiro de 245 cv e 36 m·kgf, alimentado por bateria LFP de 72,7 kW.h. A suspensão, com duplo braço superposto na dianteira e multibraço com buchas hidráulicas, na traseira, demonstra boa intenção de equilibrar conforto e controle. Na serra, o HT manteve rolagem moderada e comportamento seguro. Nas rodovias, o rodar é suave e isolado, embora a suspensão traseira apresente maior oscilação quando o veículo está carregado, sendo mais perceptível para quem viaja atrás.

A direção merece ajustes. O centro não é bem definido e transmite certa resistência, quase como se houvesse uma “caixa presa”, exigindo correções frequentes em velocidade.

A regeneração de energia oferece três níveis, mas atua com leve atraso após o alívio do acelerador — cerca de meio segundo — o que limita o uso estilo um-pedal mais natural. O freio hidráulico, em compensação, mantém modulação previsível e agradável ao motorista.

Cabine espaçosa, confortável e adequada ao uso familiar

O interior reforça a vocação do modelo para viagens. Os bancos dianteiros oferecem ventilação, massagem e ajustes amplos; os traseiros contam com ótimo espaço, inclinação confortável e até mesinhas tipo aeronáutica, úteis para crianças ou para quem precisa trabalhar no percurso. O isolamento acústico é muito bom e o conjunto porta-malas + compartimento na dianteira garante versatilidade para transportar bagagem volumosa.

A ergonomia apresenta limitações. A central multimídia concentra boa parte dos comandos e, após longos períodos de uso, torna-se lenta nas respostas, especialmente durante viagens. Funções básicas poderiam ser mais acessíveis. Itens como a ausência de porta-luvas no painel e alguns comandos pouco intuitivos de vidros, retrovisores e instrumentos destoam do cuidado geral com a execução do interior

Apesar do porte avantajado, o HT é fácil de manobrar. A visibilidade é muito boa, e as câmeras 360° — especialmente as dianteiras e traseiras — ajudam de forma significativa em garagens apertadas, rampas e estacionamentos inclinados. Mesmo com distância entre-eixos longa, o carro transmite precisão e facilidade de posicionamento no uso urbano cotidiano.

Assistências ao motorista

O pacote Adas acompanha a proposta moderna do veículo, mas ainda requer refinamento. O sistema de permanência e alerta de faixa é bastante intrusivo e chega a incomodar em vias brasileiras com marcações inconsistentes. Os demais assistentes funcionam dentro do esperado.

Rodar 676 km com o Hyptec HT reforçou a impressão de que o modelo foi pensado para viagens. A combinação de silêncio, conforto, espaço interno e eficiência energética cria um ambiente de condução sempre tranquilo. Para quem planeja migrar de um suve médio ou grande a combustão para um elétrico, o HT mostra que essa transição é plenamente viável, e, em muitos aspectos, até prazerosa.

Conclusão

O GAC Hyptec HT Elite cumpre o que promete: é um suve elétrico grande, confortável, eficiente e plenamente capaz de encarar viagens reais. Entrega espaço de sobra, bom nível de conforto, rodar silencioso, consumo coerente e versatilidade para uso familiar. Tem pontos a evoluir, como o acerto da direção, a atuação do sistema de permanência em faixa, a ergonomia da central e o comportamento traseiro com carga, mas nenhum deles compromete totalmente o conjunto.

Considerando o preço competitivo e o pacote que oferece, o Hyptec HT se posiciona como uma alternativa relevante dentro do mercado brasileiro de elétricos — uma proposta que atende quem busca um veículo grande, moderno e preparado para estrada, sem abrir mão de conforto e praticidade no dia a dia.

GB