Com o conceito de autoentusiasta que tenho hoje, posso dizer que nasci com esse traço!
Nasci em 1978, ano que surgiram os primeiros carros a álcool, ainda existia Chevrolet D-60 com motor Detroit 4.53, o Passat ganhava a frente do Audi 80 B2, a Variant II era recém-lançada…
Meu brinquedo predileto quando muito pequeno era o Nenê Car, um carrinho da Brinquedos Bandeirantes que usei de 1 até os 5 anos de idade. E está conservado até hoje, atualmente “propriedade” do meu filho mais novo de 1 ano e 2 meses…
Com três anos de idade, meus pais me levaram ao Simba Safari e eu, em vez de me impressionar com o leão ou com os macaquinhos que vinham no vidro do UW-8102 (um Passat LS 1981 que meu pai tinha), gostava mesmo era da roda do trator que arrastava uma carretinha com crianças que ia ao nosso lado.
Já maiorzinho, ia ao depósito da empresa da qual meu pai era sócio e a alegria do autoentusiasta-mirim era completa ao ver os grandes caminhões da firma (que hoje com olhos adultos vejo que não eram tão grandes assim…). Lembro-me do 608D preto, dos Ford F-11000 — eram três, dois azuis e um cinza, sendo que um deles tinha um pequeno guindauto chamado pelo pessoal de “muquinho” em alusão à marca Munck), do F-14000 branco (enorme, entreeixos de 5,38 m), que carregava a retroescavadeira Ford 6600. Havia os dois Mercedes LB-2213 betoneira, um LK-2213 caçamba, o “Muque” (um L-1113 com guindauto Munck maiorzinho), o 1313 com terceiro eixo e chassis curto (estranhíssimo) e o 2014, na época zero-km.
Tinha também o Fietão, o caminhão mais feio e mal-conservado que eu me lembro de ter visto: um cavalo-mecânico Fiat 210 com um enorme guindauto Munck (o apelido do caminhão era “Mucão”) agregado com uma prancha de três eixos, usado para carregar pré-moldados. Nunca vi caminhão mais feio que aquele.
Também gostava muito dos carros da empresa. Quatro Kombis (bege Vime, exceto uma picape, que era branca), os Fuscas…Lembro-me de quatro — dois brancos 1980 (as lanternas “Fafá” vermelhas em referência à cor das luzes do pisca), um 1983 amarelo e um 1985 cinza. Tinha os Gols, acho que eram seis. Eu me lembro de um BX 85, um S 1985, dois 1988 e dois 1990. Esse Gol S 1985, inclusive, tinha uma peculiaridade: alguém ao longo da vida dele colocou um virabrequim e pistões de AP1800 — os blocos eram os mesmos — mantendo o câmbio de quatro marchas cuja 2ª, 3ª e 4ª são mais curtas do que quando o motor é 1,8-L. Ninguém alcançava esse carro numa arrancada!
Nessa época, com meus 6 ou 7 anos, era comum minha mãe me procurar pela casa e me achar, ou apreciando o motor do Fusca, ou brincando de dirigir o Passat LS 1981 que ficou bastante tempo parado na garagem enquanto meu pai não o vendia.
O tempo passou, cresci e o autoentusiasmo também. Posso dizer que cada carro que tive foi um brinquedo que eu comprei. Carro para mim, muito mais do que um artigo de consumo, também é um brinquedo. Um brinquedo de adulto, claro, mas um brinquedo.
E assim tive minhas Saveiros (a CLi 1997 verdinha e a prata “de boy”, a Supersurf 2003/2004); o surradíssimo (e um grande companheiro de andanças) Gol CL 1992 AE e seus mais de 250 mil qilômetros; a Ranger, companheira de aventuras e viagens; o Golf, a F-1000 4×4 (meu “off-road” de cidade, nunca viu terra), o Fusca 1983 branco que meu avô me presenteou em 1995, que mantenho a pão de ló.
Também pude “brincar” com outras máquinas na propriedade rural que tivemos, como tratores (sempre gostei da linha Ford — gradear terra com o 6600 era ótimo!) e os caminhões, como um basculante Mercedes LK-2213 1980 6×4 e o saudoso Ford F-11000 (cheguei a viajar certa vez, até Maringá para buscar implementos agrícolas — o motorista adoeceu e precisava de alguém para viajar, e logo me dispus).
Tratores também foram máquinas que aprendi a admirar e me entusiasmar (sim, tratorentusiasmo!). Conhecer seu funcionamento, a motorização (sou um apaixonado por Diesel por causa dessas máquinas) me fez, além de conhecer de maneira mais profunda um assunto que curto, me fez um motorista melhor na medida que uma troca de marcha bem feita é a condição básica para….trocar de marcha! Meus modelos prediletos sempre foram os Ford (4630/6600/7630) e os Massey, embora tivesse uma paixão recolhida (porque nunca tivemos um, infelizmente) pelo CBT.
E assim, a frase “o que diferencia os homens dos meninos é o tamanho de seus brinquedos”, mais do que nunca faz todo o sentido.
E quando eu acho que carro nenhum mais me despertará interesse, eis que me pego imaginando reformar mais algum carro velho (Gol/Saveiro a arrefecida a ar?), namorando alguma picape nova (essa Saveiro Cross com motor EA211 ficou bonita, mas, e a F-250 com motor Cummins MaxPower? E a Ranger reestilizada que deverá sair em 2016 com motor 2,2-L de 160 cv prometida para o ano que vem? Deve ser um espetáculo de desempenho e consumo!
O fato é que o autoentusiasmo não morre nunca, apenas vai se transformando ao longo do tempo. Vai da alegria de simplesmente olhar e apreciar os veículos quando criança, até o momento de poder comandá-lo, dirigi-lo e sentir a felicidade quando simplesmente aceleramos e o ruído do motor entra em nossos ouvidos.
DSA
ooooo