A relação entre o investimento, valor gasto e o que se recebe como lucro é o custo-benefício. Em outras palavras, é a relação entre o que se gasta e aquilo que se recebe em troca. É também a relação de valor que se estabelece para definir uma escolha.
Um exemplo clássico de relação de valor é a invasão mundial de produtos chineses de baixa qualidade porém muito baratos. O consumidor aceita o produto, reclama um pouco e quando quebra, compra outro novo igual.
A abordagem de compra de um automóvel, por exemplo, é normalmente difícil, pois a relação entre o custo e o benefício traz embutida métricas objetivas e valores subjetivos de ponderação e escolha.
Métricas objetivas, mensuráveis:
– Custo do veículo, equipamentos de série e opcionais oferecidos (R$)
– Custos de manutenção, seguro, IPVA etc. (R$)
– Consumo de combustível (km/l)
– Aceleração de 0 a 100 km/h (s)
– Velocidade máxima (km/h)
– Consumo de óleo (litros/mil quilômetros)
– Disponibilidade de peças de reposição e tempo de entrega (horas, dias…)
– Capacidade do porta-malas (litros)
– E vários outros
Valores subjetivos:
– Beleza das formas externas
– Receptividade das revendas e de suas oficinas
– Conforto interno, bancos etc.
– Facilidade de arrancar em rampas
– Qualidade percebida dos materiais empregados no interior do veículo
– Visibilidade, sensação de espaço
– Modulação do pedal do freio , da embreagem e do acelerador
– Dirigibilidade na estrada e na cidade
– Iluminação interna, instrumentos e eficiência dos faróis
– Ventilação interna/ar-condicionado
– Escalonamento das marchas
– Sensação de desempenho
– E vários outros
Os valores subjetivos em princípio não são mensuráveis, por exemplo, o conforto dos bancos, que é sentido e não medido diretamente. Porém, trabalhos de engenharia estão sendo cada vez mais freqüentes para correlacionar o subjetivo com o objetivo. No caso dos bancos, atribuindo-se notas de 0 a 10 para o seu conforto e comparando-as com métricas objetivas (carga, deflexão do assento e encosto,distribuição de carga por área etc.), se estabelece um padrão do que o consumidor sente e do que as medições indicam, facilitando as decisões para os novos projetos.
Em termos subjetivos, o “boca-a-boca” é uma ferramenta importante que pode influir muito na decisão da compra, “Escutei falar que…”
O “boca-a-boca” pode alavancar ou arruinar a reputação de um veículo. Por exemplo, o Toyota Corolla é tido como inquebrável na voz do consumidor, alavancando a marca positivamente. No passado, década de 1960, o Renault Dauphine era tão fraquinho que teve o apelido de “Leite Glória” — nova marca de leite em pó de alta solubilidade cujo slogan era “Dissolve sem bater”, que arruinou a imagem do produto.
A compra por impulso do tipo “maria-vai-com-as-outras” é também muito freqüente: “Se todo mundo gosta eu também gosto, mesmo não gostando muito…”
Realmente, não é fácil a tarefa de projetar veículos que agradem em cheio o consumidor pelo seu custo-benefício e que sejam sucesso ano após ano no mercado.
O “pulo do gato” para as fábricas é manter um veículo o maior tempo possível em produção sem alterar as suas características básicas. Hoje em dia o tempo médio considerado para a amortização do dinheiro investido é de três anos e meio, quando a partir daí o lucro esperado começa realmente a existir.
Um veículo que fica basicamente inalterado durante dez anos ou mais e continua fazendo sucesso é o “santo graal” das fábricas. O Fiat Uno, projeto da Italdesign de Giorgetto Giugiaro, é um exemplo recente. Ficou de 1984 a 2010 praticamente sem alterações significativas em sua carroceria e mecânica e continuou com sucesso. Veículo espaçoso, econômico, bom desempenho, leve, robusto, desenho agradável e barato, com seu custo-benefício totalmente favorável. Nota dez! Não fosse a exigência de airbag e freios ABS a partir de janeiro de 2014, teria continuado em produção e a vender muito.
Outro exemplo de bom custo-benefício é o EcoSport, que nadou de braçada, sozinho durante nove anos, dando um lucro enorme para a Ford em sua configuração de “jipinho” — na verdade um utilitário esporte — e que durou mais de dez anos no mercado sem modificações relevantes. Veículo espaçoso, com elevada e ótima posição de dirigir, durável e de fácil manutenção, linhas agradáveis, cara de forte e relativamente barato comparado com os SUVs do mercado na época. Depois veio o novo EcoSport, sem nada mais a ver com o projeto original.
Ninguém usa mais um carro que taxista. Bom preço, pouca manutenção, bom espaço interno e baixo consumo estão entre as exigências mais comuns, sendo a aparência considerada item secundário.
Na hora de comprar um carro, conhecer as escolhas dos motoristas de táxi pode ser um bom caminho na decisão de compra. Como referência, em 2014 o Volkswagen Voyage foi o queridinho deles, com destaque para o tamanho do porta-malas, a excelente transmissão e sua estabilidade direcional. Em contrapartida, os carros utilizados para o serviço de táxi são freqüentemente rejeitados pelo consumidor que dá (muito) valor a status.
Outro bom exemplo de custo-benefício de sucesso é o Ford Fusion. Linhas modernas sem ser modernoso, barato em relação à concorrência e com quase todos itens de série e opcionais desejáveis pelo mercado de veículos de luxo. É outro que nada de braçada sem ser incomodado.
Veja o leitor que o carro mais próximo do Fusion é o Hyundai Azera que tem a maioria das qualidades do veículo da Ford, porém, além de bem mais caro, o seu design exterior não é tão marcante.
O Azera com motor V-6 de 3 litros (250 cv), completo, custa R$ 150.000, enquanto o Fusion começa em R$ 106.000 com seu modêlo 2,5 flex e vai até R$ 135.000 com seu modelo Titanium AWD (tração integral) com motor EcoBoost 2-litros. Não há nada que resista a este custo-benefício. Só preferência irrestrita pela marca pode influenciar na decisão de compra diante desses números.
Um bom exercício para o leitor é tentar estabelecer a relação custo-benefício dos veículos brasileiros de sua preferência, com prós e contras e as razões fundamentais para a escolha.
Termino esta matéria com uma homenagem a um dos mais bem-sucedidos veículos em termos de custo-benefício, quem sabe o melhor de todos os tempos: o Volkswagen Fusca.
CM