A importância da nova fábrica Jeep, em Goiana (PE), transcende os números grandiosos: mais de R$ 7 bilhões de investimentos (incluindo o parque de 16 fornecedores), capacidade de 250.000 unidades/ano em três turnos, 9.000 empregos no polo produtivo (78% de pernambucanos) e 700 robôs nas áreas de funilaria, pintura e montagem. Como o projeto levou mais de cinco anos para maturar, aplicaram-se as melhoras práticas industriais, de produtividade, de controles de manufatura e organização.
O tempo prolongado também permitiu treinar mão de obra local e implantar importantes ações sociais, bem além do que se fez em Betim (MG), onde a Fiat não enfrenta greves nem mesmo breves interrupções. O sindicato local de metalúrgicos nada tem de hostil e o de Goiana, então, muito menos quando existir. Marcas japonesas ao se instalar nos EUA cumpriram a mesma estratégia de se afastar de conflitos trabalhistas, de escolher áreas de atividade agrícola anterior e de receber generosos financiamentos públicos usuais ao redor do mundo.
Quem visita as instalações praticamente não vê nenhuma referência à Fiat, salvo a discreta logomarca FCA (Fiat Chrysler Automobiles), o que faz parte da estratégia do grupo de ampliar a imagem da Jeep no mundo. Está certo que, inicialmente, haverá dois Jeep – atual SUV compacto Renegade e outro SUV médio-compacto em 2016 – e apenas um Fiat, a picape média de cabine dupla para uma tonelada, dentro de seis meses.
Mas, de fato, os três partilham a mesma arquitetura do Fiat Punto/Linea, alargada, alongada e reforçada (batizada de Small Wide US 4×4). A marca americana juntou seu histórico de robustez à criatividade italiana para lançar produtos que terão forte impacto no mercado brasileiro e na América Latina.
A nova unidade industrial produzirá, ainda, outros dois modelos de 2017 em diante. Embora a FCA nada adiante sobre o assunto, esperam-se produtos Fiat de maior valor agregado para acelerar a recuperação dos investimentos. Por isso hatch e sedã médios-compactos são escolhas óbvias a fim de enfrentar a tibieza da marca frente ao Cruze, Focus, Golf/Jetta e aos encastelados Corolla e Civic.
Por fim deve-se saudar o empreendimento da FCA no Nordeste brasileiro como a maior fábrica de carros inteiramente nova construída no Brasil desde a chegada da Nissan a Resende (RJ) no ano passado. Aqui ainda estão sendo erguidas outras três (Honda, Jaguar Land Rover e Mercedes-Benz), além de Audi (agregada à VW) e JAC (em processo de definição). Elas vão se juntar às 20 existentes, o que seria motivo de comemoração não fosse o mau momento da economia, às voltas com inflação alta e recessão de volta.
Também desconsola termos perdido para o México a liderança histórica de produção de veículos na América Latina em 2014. E podemos ficar mais para trás, pois depois do anúncio da Audi há dois anos, os mexicanos não param de receber investimentos bilionários: BMW, Mazda, Kia, Mercedes-Benz (associada à Nissan) e Toyota.
Para o Brasil resta o sentimento duplo de alegria pelas novas fábricas e de tristeza por não poder usar todo o nosso potencial de baixa taxa de motorização e dimensões continentais à espera de estradas.
RODA VIVA
MAIS um motor de três cilindros chega ao mercado este ano. Houve atraso, mas a unidade da Fiat em Betim começa a produzir em breve as primeiras unidades que, de início, estavam reservadas para o subcompacto sucessor do Mille, a estrear em 2016. Uno terá primazia no segundo semestre. Fábrica precisa baixar a média de consumo por exigência do Inovar-Auto.
GENERAL MOTORS comemora a produção de 500 milhões de veículos em seus 107 anos de existência. É o grupo automobilístico que mais produziu na história. Hoje reúne dez marcas (incluídas associadas chinesas), mas no passado chegou a ter mais. Sua marca principal Chevrolet é a segunda colocada em vendas nos EUA, mas lidera o mercado sul-americano.
SENTAR no banco traseiro do Nissan Versa surpreende pelo amplo espaço para pernas. É o suprassumo do conceito de sedã compacto anabolizado, que só não pode se considerar médio-compacto pela largura do habitáculo. Para usar suas potencialidades, inclusive porta-malas, é melhor o motor de 1,6 L do que o tricilíndrico de 1 litro. Estilo evoluiu, mas não é seu ponto forte.
ELEGÂNCIA sempre foi marca registrada do sedã-cupê Audi A7. Já a versão superesportiva de maior preço, a RS 7 Sportback por R$ 624.990, estabelece referências que muitos poucos modelos de série se atrevem a desafiar. Seus 560 cv e arrogantes 71,4 kgfm de torque a apenas 1.700 rpm, tração 4×4, comportamento em curvas impressionante (é dois cm mais baixo que a versão comum) e aceleração de 0 a 100 km/h em 3,9 s expressam tudo.
CORREÇÃO: Cherry QQ, desde sua primeira versão no Brasil, sempre foi importado da China e não montado no Uruguai. Mesmo com todas as taxas, mas com o real supervalorizado, chegou a ser vendido por R$ 20.000, o mais barato aqui.
FC